ROCK

Após 15 anos, Capital Inicial retoma projeto acústico em DVD e CD

Segundo Dinho Ouro Preto, 51 anos, vocalista e líder da banda, o novo projeto nasceu de vários desejos

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Publicado em 17/11/2015 às 11:47
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Segundo Dinho Ouro Preto, 51 anos, vocalista e líder da banda, o novo projeto nasceu de vários desejos - FOTO: Foto: divulgação
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O ano era 2000. O Capital Inicial, que havia retomado a formação clássica dois anos antes, fazia as pazes com o sucesso no projeto que se tornaria histórico para a banda, o Acústico MTV, com mais de 2 milhões de cópias vendidas. Agora, 15 anos depois, eles revisitam o formato que os colocou de volta ao topo do rock nacional no Acústico NYC, gravado em 6 de junho deste ano, na casa de shows Terminal 5, em Nova York, e lançado agora em DVD (que já é disco de ouro, com mais de 25 mil cópias vendidas) e em CD. A banda inicia turnê do novo trabalho em 2016 - a estreia, em São Paulo, ocorre no dia 30 de janeiro, no Citibank Hall.

Mas, segundo Dinho Ouro Preto, 51 anos, vocalista e líder da banda, o novo projeto não nasceu da efeméride do Acústico MTV, mas de vários desejos. "Aquele trabalho foi um divisor de águas, foi o maior da nossa vida. Passou pela nossa cabeça: 'Vamos fazer uma turnê dele, como os Titãs fizeram do Cabeça Dinossauro'. Mas falei: 'não quero voltar para trás, quero olhar para o futuro, quero canções novas'", diz Dinho, em entrevista, em sua casa, em São Paulo. Ele integra o grupo com os irmãos Fê e Flávio Lemos, baterista e baixista, respectivamente, e Yves Passarell, na guitarra.

"Entendo que nos foi dada uma segunda chance, em 1998, quando nos reunimos, e quero aproveitar. Não quero viver de nostalgia, me incomoda quando se referem ao Capital como banda dos anos 1980, como se vivesse de nostalgia. Sempre procuramos olhar para frente, discos novos, projetos novos, e acredito que esse é um dos motivos pelos quais a gente tem fãs novos, jovens", completa

Evitar a repetição passou a nortear as ideias do vocalista tal como um mantra. Ele não queria que o novo trabalho da banda fosse novamente elétrico. Isso eles haviam feito em discos anteriores. Escolhido o formato acústico, chegaram a outra constatação: seria desplugado, mas não da forma tradicional instituída pelo padrão MTV. "O Acústico MTV é bastante diferente desse na medida em que a MTV estabelece um monte de regras, tanto é que eles eram todos parecidos, com pouca gente presente, você não podia usar efeitos nos violões. Havia um código de conduta. Esse feito 15 anos depois é o oposto, é totalmente livre. São quatro caras, os violões são todos processados, tem efeitos, distorção, tinha pedaleira na frente de cada um deles", detalha Dinho. 

Os violões ladeiam o vocalista no palco - garantindo a identidade sonora arquitetada para o projeto - e são assumidos pelos exímios, e com diferentes perfis, Liminha, Thiago Castanho (ex-Charlie Brown Jr.), Fabiano Carelli e o próprio Yves. "Juntar esses quatro caras e fazê-los tocar juntos enche os ouvidos." A mesma premissa - a da não repetição - valeu ainda na escolha dos convidados do projeto: Seu Jorge e Lenine, que fogem do protótipo de roqueiros.

A escolha do local da gravação também era outro fator importante Dinho lembra que, meses antes da gravação, tinha visto o trabalho acústico da banda Natiruts, gravado no Rio de Janeiro, e achou linda a locação. Para seu próprio projeto, o Capital Inicial chegou a cogitar Fernando de Noronha. Nesse caso, o cenário paradisíaco do arquipélago combinaria com uma atmosfera de show que remetesse a um luau. A outra opção levaria a uma cena completamente oposta: Nova York e toda sua aura urbana e cosmopolita. No final, a eleita foi a cidade americana, onde estão as raízes musicais dos integrantes do grupo. "A gente cresceu ouvindo Ramones, que é a banda seminal de Brasília", justifica Dinho. 

Dinho foi, então, a Nova York fechar o aluguel da casa de shows no final do ano passado, e encontrou o dólar mais baixo do que agora. Decidiram que os ingressos seriam vendidos - e o público brasileiro que vive nos Estados Unidos atendeu ao chamado: todos os 1.500 ingressos disponíveis se esgotaram. "Pagamos antes de o dólar ter disparado. Até junho, o dólar dispara, só que as pessoas que foram nos ver moravam lá, eles não estavam fazendo a conversão. Nós fizemos a desconversão: pegamos a bilheteria e pagamos os custos no Brasil", diz o vocalista. A banda acabou bancando uma parte maior do que planejava e o restante ficou a cargo da gravadora.

Nos depoimentos no making of que acompanha o DVD, o quarteto parece mesclar sensações, que transitam entre a surpresa de ver onde conseguiram chegar e a certeza do merecimento de estar lá após 30 anos de carreira e história. Ao subir ao palco do Terminal 5, Dinho confessa ter ficado dividido entre a razão e a emoção - e, dentro do possível, tentou dosar a medida certa desse equilíbrio. "Na hora, você tenta o máximo de foco, de não errar, de cantar direito, ser preciso. Por outro lado, você tem suas emoções que estão gritando no outro ouvido: 'olha onde você chegou, olha quanta gente você conseguiu mobilizar, você está de pé depois de tantos anos'." 

 

Legião Urbana

Produzido por Liminha, Acústico NYC privilegia o repertório do Capital Inicial pós-Acústico MTV - mais especificamente, canções compostas desde 2002 -, com atenção especial a músicas que não viraram grandes hits, mas valiam uma nova audição, como O Cristo Redentor, do disco Saturno (2012). No repertório, há espaço ainda para os sucessos, como Olhos Vermelhos, Mais e Depois da Meia-Noite; um único exemplar da década de 80, o Belos e Malditos ("acho ela uma pérola que ficou para trás"); e a safra de novas composições, A Mina, Doce e Amargo e Vai e Vem. Esta última, de certa forma, perpassa a biografia de seus três autores, Dinho, Alvin L. e Thiago Castanho. Para Dinho, a música pode falar também universalmente, para a histeria do momento atual do Brasil. "Sem destino/Dá vontade de sair/Sem destino/Sem saber aonde ir", diz trecho da música. 

Aliás, sobre a atual crise no País, o vocalista afirma ser contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. "A menos que apareça dinheiro na conta dela ou dinheiro na conta do PT para a campanha dela, não vejo motivo. Acho que é um negócio supertraumático para o Brasil." Ele diz ainda que "não se sente representado por ninguém". "Pergunto nos nossos shows - a maior parte do nosso público tem entre 18 e 24 anos - e ninguém se sente representado. Gosto de política, mas não gosto de políticos."

Questionado pela reportagem, Dinho Ouro Preto comenta também sobre a volta do Legião Urbana. Meio-irmão de Dado Villa-Lobos - o pai de Dinho é casado com a mãe de Dado - e amigo de Renato Russo e de sua família, Dinho diz que fica contente com esse retorno. "O Dado e o (Marcelo) Bonfá merecem, têm direito." Sobre a briga entre os dois músicos com o herdeiro de Renato, seu filho Giuliano Manfredini, ele afirma que gostaria que "eles conseguissem achar um denominador comum, que poderia ser o Renato, a importância do Renato". "Acredito que o Renato iria estar bastante chateado se ele soubesse que isso está ocorrendo, acho que ele desaprovaria."

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