Difícil acreditar que, até pouco tempo atrás, eles mal podiam se encontrar. O tempo de rivalidade ficou mesmo para trás: nesta segunda-feira de Carnaval, Nazaré da Mata, epicentro da cultura popular da Mata Norte de Pernambuco, foi tomada pelas cores e sons hipnóticos dos maracatus rurais. Às 8h da manhã, para um público de locais e muitos visitantes, o cortejo dos caboclos diante dos outros brincantes começou a marchar do Parque dos Lanceiros, às margens da estrada que dá acesso ao município, até o centro da cidade. Foram 35 agremiações.
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Aliás, não apenas caboclos, mas também caboclas. Diante da Catedral de Nazaré, praça central da cidade, os chocalhos do maracatu Coração Nazareno começaram a ser ouvidos. Fundado em 2004 pela Associação das Mulheres de Nazaré da Mata (Amunam), a agremiação surgiu com o propósito deliberadamente feminista de acabar com o predomínio masculino no maracatu. Com integrantes dos 8 aos 80 anos de idade, o maracatu é formado exclusivamente por mulheres. Setenta, ao todo. “Ainda existe muito preconceito em relação às mulheres nos maracatus, mas estamos conquistando nosso espaço”, disse a professora e mestra do maracatu Cristiane Mota.
QUASE CENTENÁRIO
Logo em seguida, entrou na passarela criada na avenida o Cambinda Brasileira, mais antigo maracatu rural de Nazaré da Mata, com 99 carnavais na história. No momento em que a agremiação desfilava, o governador Paulo Câmara subiu ao palco. Então, o jovem mestre do maracatu, Anderson da Silva, de apenas 21 anos, entoou uma loa com críticas à política pública de segurança. “Estado sem segurança, governo desgovernado”, diziam os versos. “Não era uma crítica direta ao governador, mas no maracatu a gente também canta as coisas da realidade”, justificou.
Com 215 integrantes, 190 deles brincantes, o Cambinda Brasileira conta com o mais antigo caboclo em atividade no município, seu José Irineu, de 77 anos, mais conhecido como o Zé Pequeno, com 56 carnavais nas costas. Conta também com o mais novo deles. Com apenas 8 anos idade, Alisson José da Silva já é caboclo. O primeiro lembra ainda dos tempos de antes dos anos 90, quando o mestre Salustiano uniu os maracatus numa associação, e os grupos chegavam a trocar lançadas em brigas pelos canaviais. O segundo, não. Nasceu sabendo que maracatu é cultura de paz.