Jerry Adriani – que morreu neste domingo (23), depois de enfrentar um câncer – completou 70 anos em 29 de janeiro deste ano. Estava com um DVD e CD chamado Outros recém-lançado e prometia uma biografia, que estava sendo finalizada com o jornalista e produtor Marcelo Fróes (do selo Discobertas). A narrativa da vida dele seria uma das mais interessantes entre os ídolos da Jovem Guarda. Embora tenha permanecido a vida inteira como artista do segmento mais popular, Jerry Adriani transitou por outros nichos, de namoradinho de Nara Leão a descobridor de Raul Seixas. Acrescente-se a isso o fato de ter começado a carreira adolescente. Estava com 17 anos, em 1964, quando estreou o primeiro LP, Italianíssimo, pela CBS, com anuência de seu Evandro Ribeiro, o todo poderoso da empresa.
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Era o auge do sucesso da música italiana no Brasil. O garoto boa pinta, de voz afinada e potente, tinha nascido no Brás, em São Paulo, com um nome bem brasileiro, Jair Alves de Souza. Virou Jerry Adriani. O Jerry veio de Jerry Lee Lewis, um dos pioneiros do rock and roll. O Adriani, de Adriano Celentano, astro da canção italiana. Lançaria um segundo álbum, em italiano, no ano seguinte, Credi a Me, e o primeiro em português Um Grande Amor, que o levou às paradas do país inteiro com canções como Querida, e Um Grande Amor, ambas versões de hits menores internacionais. O disco tocou quase todas as faixas, movido pela engrenagem azeitada da gravadora que abrigava os principais galãs do iê iê iê no ano do programa A Jovem Guarda.
Raul Seixas
Raul Seixas era um assunto sobre o qual Jerry Adriani não se cansava de falar. Foram compadres e amigos, apesar das diferenças de temperamento e comportamento entre ambos. Jerry conheceu o ainda iniciante Raulzito, quando ele começava a carreira com o conjunto Os Panteras, badalado no iê iê iê de Salvador. Jerry foi contratado pelo requintado Clube Baiano de Tênis e cantou acompanhado pelo grupo de Raulzito, que levaria no ano seguinte para o Rio e apadrinharia para gravar o primeiro álbum, o Raulzito e os Panteras (que completa 50 anos em 2017). Raulzito não fez sucesso com os Panteras, mas acabou na CBS, trabalhando no estúdios da gravadora e criando as suas primeiras composições. Jerry Adriani gravou algumas, como Doce, Doce Amor e Tudo o Que É Bom Dura Pouco.
A Raul Seixas ele dedicaria o próximo disco, gravando, entre outra composições, parte do repertório “romântico” feito por ele entre 1967 e 1971, quando o Raulzito deu lugar ao Maluco Beleza. Ao longo dos seus 53 anos de carreira, Jerry Adriani também apresentou programas, entre eles A Grande Parada, com Neyde Aparecida, Zélia Hoffmann, Betty Faria e Marilia Pera. Foi galã de musicais, ou chanchadas pop, como Esta Gatinha É Minha (com Peri Ribeiro e Anik Malvil), e Jerry em Busca do Tesouro (com Neyde Aparecida). Foi dos poucos que não praticou um desvio de rota brusco para sobreviver. Continuou cantando canções de amor, com projetos especiais. Em 1990, gravou um disco com versões de canções de Elvis Presley. A semelhança vocal com Renato Russo o levou a um álbum só com músicas do Legião Urbana.
Parecia estar sempre de bem com a vida, e nunca deixou o Jair Alves de Souza ser dominado pelo galã Jerry Adriani. Numa conversa com ele, num hotel já desativado em Boa Viagem, depois de algumas doses de uísque, com pipoca de petisco, e após contar muitas histórias que incluíam fãs tresloucadas e noivos enciumados, Jerry comentou sobre os sucessos, e brincou com seu primeiro grande hit, Querida: “O pior de repetir a música em todo show, é cantar aquela parte que diz: ‘procure olvidar”. Olvidar é f...”, Um ótimo sujeito, um grande cantor.