No videoclipe de Bonecas Pretas, a soteropolitana Larissa Luz, 30 anos, é um dos brinquedos que tomam vida para anunciar o recado que desenvolve durante as dez faixas do álbum Território Conquistado: procura-se representação. É a impecável setlist dele que ela apresentará durante a 23ª edição do festival Rec–Beat, que acontece entre 10 e 13 de fevereiro, no Cais da Alfândega, Bairro do Recife. Larissa é a segunda atração confirmada para a programação do Recife, mas já havia sido anunciada como um dos artistas a inaugurar as andanças do evento fora de Pernambuco. Próximo dia 19/1, ela faz show na Praça São João, em Sobral, no Ceará. No dia seguinte, sobe ao palco montado na Praça Verde, no Dragão do Mar, em Fortaleza.
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Com voz e performance que deixam nada a desejar à divas da badalada música pop internacional, Larissa já passou pelo menos outras três vezes pelo Estado. Numa das passagens, no Coquetel Molotov 2016, roubou a cena ao participar do show da BaianaSystem. Para a apresentação do Carnaval, tem pensado em algo especial. “Vou levar números diferentes, mas que têm relação com o disco”, antecipou ela em entrevista por telefone ao JC.
“Acho a galera de Recife muito calorosa. Senti aí uma energia muito boa de identificação. O movimento das meninas negras me pareceu forte e isso deu uma aproximada bacana entre nós”, conta ela, fazendo jus ao caminho que buscou no álbum produzido sob o selo Natura Musical. O trabalho é apresentado como uma “homenagem a criadoras negras, como as cantoras Elza Soares e Nina Simone, e a escritora Carolina de Jesus”, figuras exaltadas pela artista já madura, mas que fizeram falta à Larissa criança.
“A referência de mulher negra eu tinha somente em casa, era minha mãe”, conta. “Eu vinha num processo de descoberta comigo, das minhas raízes. Quando surgiu a oportunidade de gravar com a Natura eu me vi nesse momento de tomada de força, de poder contar a minha história”.
Ela está recebendo respostas positivas às músicas, principalmente por meio virtual. Uma deles é o comentário mais “curtido” no clipe citado no início. “Surreal como quando uma mulher preta fala, seja de que forma, pode ser através da arte, como é o seu caso, todas as outras mulheres pretas se identificam. Obrigada por expressar tão bem essa nossa falta de representatividade”, diz uma admiradora. Larissa comemora. “Meninas que ainda estão na escola me mandam vídeos me citando. Acho ótimo invadir esse espaço acadêmico. O ambiente escolar precisa de arte”.
BAHIA INDEPENDENTE
De dois anos para cá, a música baiana, especialmente a que foge do tipo comercialmente mais vendável, vem recebendo holofotes especiais de crítica e público. Exemplo disso é o fenômeno BaianaSystem e o recém-chegado rapper Baco Exu do Blues, com seu Esú, citado em praticamente todas as principais listas dos melhores álbuns de 2017. Larissa analisa o momento com respaldo de quem faz parte dele.
“Isso se deve, primeiro, ao lugar que o axé liberou. Deu uma saturada no mercado e isso abriu um desejo de se ver alguma coisa nova. Segundo, à internet, que facilitou o acesso à música independente, que nunca teve como se sustentar dentro do mercado midiático. O trabalho que o BaianaSystem fez teve grade impacto para as pessoas verem o que a gente está fazendo”. Com novo disco já engatilhado, ela cita mais nomes baianos como indicação pessoal. “Luedji Luna e Afrocidade têm trabalhos incríveis!”, dispara.