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Banda Francisco, El Hombre promete show enérgico no Guaiamum Treloso

Essa é a quarta vez que o quinteto chega ao Nordeste para tocar suas músicas repletas de referências ao maracatu, ao coco e às marchinhas de Carnaval.

JC Online
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Publicado em 20/01/2018 às 14:27
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Essa é a quarta vez que o quinteto chega ao Nordeste para tocar suas músicas repletas de referências ao maracatu, ao coco e às marchinhas de Carnaval. - FOTO: Foto: Divulgação
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De uma viagem no ônibus pela caótica cidade de São Paulo, Rafael Gomes, o baixista e backing vocal da banda Francisco, El Hombre, concedeu esta entrevista às 17h da última terça-feira (16), mostrando como sua vida de andarilho o acompanha até mesmo quando não está mais na estrada fazendo shows em troca de hospedagem. O músico estará hoje no Guaiamum Treloso Rural, sediado na Fazenda Bem-Te-Vi, em Aldeia, ao lado dos outros quatro integrantes do grupo - autoproclamado pioneiro no “transculturalismo transamericano ruidoso” -, para um show inédito do disco Soltasbruxa (2016) no Recife, marcado para começar às 22h40, no palco Bem-Te-Vi.

Essa é a quarta vez que a banda chega ao Nordeste, sendo que na primeira delas, em 2014, quando ainda não eram muito conhecidos, cruzaram as fronteiras da região apenas pegando carona na BR, naquele famoso pinga-pinga, carregando os instrumentos nas costas. Nessa época, fizeram shows para um público de 20 a 30 pessoas. “Estávamos morando todos juntos em Campinas e começamos a cogitar fazer uma turnê nos EUA. Conversa vai, conversa vem, percebemos que seria uma furada, pois tínhamos ido para muitos países da América Latina, mas ainda não tínhamos tido contato com outras regiões do Brasil”, contou, em meio ao barulho das buzinas que abafavam sua voz.

A influência dessa passagem pelo Nordeste, inclusive, pode ser sentida no ritmo da canção “Não Vou Descansar”, marcada pelo uso de triângulos e palmas típicas do coco de roda. “Várias músicas nasceram na Praia da Barra do Mamanguape, na divisa da Paraíba com o Rio Grande do Norte, onde participamos de um grupo de coco na praça e assistimos o sol nascer depois de tocar num festival de jazz que estava rolando em um hostel”. Outras referências perceptíveis no álbum os artistas foram buscar na música folclórica, na mexicana, na latina, na popular brasileira e até nas marchinhas de Carnaval. Entre elas, a cumbia, a salsa, o coco, o maracatu, o samba e os sopros de ciranda, o que preferem chamar de “batuque freak tropicarlos”.

Inclassificável e autêntica, a banda tem conquistado fãs em toda América Latina justamente pela sua proposta de integrar os ritmos do continente. É que a banda já é multicultural e nômade por natureza. Os irmãos Mateo (violão, sintetizadores e vocais) e Sebastián Piracés-Ugarte (bateria e vocais) são filhos de um chileno com uma mexicana. Eles nasceram no México e só foram naturalizados brasileiros quando se instalaram em São Paulo e formaram a banda, em 2013. O próprio Rafael é goianiense. E os outros dois integrantes, Andrei Kozyreff (guitarra) e Juliana Strassacapa (percussão e vocais) são de Sorocaba. Não é à toa que as músicas são cantadas em português com sotaque latino e em espanhol com sotaque brasileiro.

Depois de passarem por países como Chile, México, Cuba, Argentina e outros da América Latina e Central, os músicos voltaram ao Estado em julho de 2017 para o Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), onde apresentaram pela primeira vez aos pernambucanos o Soltasbruxa, com um show apoteótico. Hoje, eles prometem repetir a dose e entregar uma performance ainda mais enérgica e fervida, pois a primeira vez que tocaram na cidade, no REC Beat 2016, ainda não haviam lançado o álbum. O público também deve ser maior, tendo em vista que a banda foi para outro patamar depois que a novela de maior audiência da Globo, O Outro Lado do Paraíso, fez de trilha sonora a música Triste, Louca ou Má, considerada um hino feminista.

Outra canção que carrega essa atual e relevante temática feminista é Calor de Rua, que de fato abre o álbum de estreia da Francisco, El Hombre, tratando do empoderamento feminino frente à violência doméstica. Produzido por Zé Nigro e com participações de Liniker e do grupo Apanhador Só, o disco é muito mais politizado e direto que o EP La Pachanga! (2015). “O EP já tinha essa essência de como a gente encara a política, como na música Minha Casa, em que abordamos várias maneiras de desconstruir uma família. Mas, realmente, com tudo que o Brasil estava passando na época da produção do álbum, sentimos necessidade de deixar nosso discurso mais claro”, afirmou Rafael.

Uma das mais incisivas é a música Bolso Nada, ainda que critique o polêmico deputado Jair Bolsonaro indiretamente. Ela promete ser um dos pontos altos do show, sempre marcado pela postura de embate. Outra música que deve levantar a galera é Tá com Dólar, Tá com Deus, que ao som de uma marchinha carnavalesca critica de forma irônica o cotidiano cíclico, monótono e cansativo ao qual muitos estão submetidos dentro da dinâmica capitalista. “Soltasbruxa representa o momento de tirar da garganta várias coisas que estavam presas. Vários sentimentos, incômodos que todo mundo vive na sociedade. E o mais importante é levar isso para o palco, poder chegar e fazer esse ritual que é o show, todo mundo junto num corpo só, essa catarse coletiva”.

NOVO DISCO

Contemplada no edital do Natura Musical, Francisco, El Hombre se prepara para lançar um novo disco ainda neste ano. “Ficamos muito felizes com isso, porque pra gente sempre foi aquela coisa de juntar migalhas, de procurar gente que acreditasse no nosso projeto. Ainda é muito prematuro dizer qualquer coisa, mas posso afirmar que vamos manter nossa postura com relação a essas questões e continuar espalhando o amor entre os povos”. Este deve ser um bom ano para o quinteto, que está confirmado em grandes festivais como o Psicodália, o Lollapalooza e o Vive Latino (México).

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