Música

Do funk à MPB: projeto expõe o machismo nas músicas nacionais

A plataforma online Músicas Machistas Populares Brasileiras (MMPB) reúne 100 composições brasileiras e questiona o teor das suas composições

Ana Tereza Moraes
Cadastrado por
Ana Tereza Moraes
Publicado em 09/04/2018 às 11:30
Foto: Reprodução/Internet
A plataforma online Músicas Machistas Populares Brasileiras (MMPB) reúne 100 composições brasileiras e questiona o teor das suas composições - FOTO: Foto: Reprodução/Internet
Leitura:

Ao pensar em ritmos como o MPB e o funk, é comum que se coloque os dois em contraponto, como figuras opostas dentro do cenário musical brasileiro. Ao contrário do que se imagina, no entanto, ambos têm suas semelhanças, tanto entre si, quanto com outros estilos musicais como o sertanejo, o pagode, a bossa nova, etc. A partir disso, o projeto Música Machista Popular Brasileira, criado pelas jovens Carolina Tod, Lilian Oliveira, Nathália Ehl e Rossiane Antúnez, surgiu justamente com o propósito de expor um desses pontos em comum: as letras de teor machista.

O MMPB, como é abreviado, reúne 100 composições brasileiras de várias gerações e destaca trechos que contenham aspectos do machismo, como apologia ao estupro, frases que remetem a relacionamentos abusivos e até mesmo aqueles que incitam a rivalidade feminina. “A ideia veio junto com a polêmica da música 'Só Surubinha de Leve'. Na época, todo mundo ficava condenando o funk e todos os artistas envolvidos no meio por causa do conteúdo. Mas o funk não existe num vácuo. A música é um reflexo da época e da sociedade em que ela foi feita”, explica Carolina Tod, uma das responsáveis pela parte de design do projeto. “Nosso objetivo é justamente promover o diálogo – fazer com que as pessoas repensem que algumas atitudes não são normais” continua.

O conteúdo machista

Na plataforma, as letras vêm acompanhadas com análises ácidas e links de suporte para quem quiser entender melhor as referências. Em alguns casos, as ofensas contra as mulheres às vezes surgem de modo escancarado, a exemplo da música Faixa Amarela, de Zeca Pagodinho: “Mas se ela vacilar, vou dar um castigo nela/Vou lhe dar uma banda de frente/Quebrar cinco dentes e quatro costelas”.

Em outros casos, a problemática é mais sutil, como anuncia o site logo em sua apresentação: “Escute com atenção: o descompasso machista às vezes está só nas entrelinhas”, como no caso de Vidinha de Balada, de Henrique e Juliano: “Tô afim de você/E se você não tiver/Cê vai ter que ficar” (sic). “Dançando na balada esse tipo de afirmação passa despercebida, assim como a quantidade de homens que tentam ficar com meninas à força nesse tipo de ambiente”, comenta Carolina.

“Não queremos demonizar ou boicotar ninguém, o que queremos é falar sobre atos, palavras e atitudes que perpetuam o ódio ou incentivam a violência contra a mulher. É um propósito maior do que a conclusão ‘estilo x é mais machista que estilo y’”, conta a designer de experiência do usuário.

Recepção masculina

No rodapé do Músicas Machistas Populares Brasileiras, está estampada a frase “nenhum homem aprovou esse projeto”, em tom de ironia. Ao contrário da afirmação colocada no site, as jovens contam que tiveram uma boa recepção do público masculino. “Teve muito amigo e colega de trabalho que veio conversar com a gente sobre algo que já fez ou falou pra alguma mulher e até mesmo sugestões de música. Todo mundo fica muito animado em ficar descobrindo as músicas aleatórias. Mas isso não quer dizer que não recebemos criticas negativas como 'não tem uma pia de louça pra lavar' 'mas é muito mimimi'. Isso só mostra que a gente tá no caminho certo”, conclui Carolina Tod.

Como contribuir

O projeto ainda é recém-lançado, estreou no dia 3 de abril, e, até o momento, conta com 100 músicas no banco de dados. As garotas que comandam a plataforma afirmam que, em breve, pretendem publicar as sugestões que receberam desde o lançamento – que não têm sido poucas. Para contribuir, bastar ir ao final da página e clicar no botão “Envie uma música”, onde irá aparecer a opção de enviar um e-mail para [email protected].

Últimas notícias