"Seu nome é Agnaldo Timóteo. Veio de Minas e forma entre os cantores mais expressivos da nova geração. Canta em estilo romântico e bonito. Esteve em nossa redação e deu provas do seu valor interpretando melodias que botou em discos e que logo serão sucesso." A notinha publicada na coluna Acontece na madrugada, da Revista do Rádio, em maio de 1962, é uma das primeiras referências ao cantor mineiro de Caratinga (da classe de 1936), extorneiro mecânico (dos 14 aos 28 anos) e ex-motorista da cantora Ângela Maria.
Desde a notinha na Revista do Rádio (com direito a foto), ele esperaria mais três anos para chegar ao sucesso. Passou pelas gravadoras Caravelle, Phillips, até chegar à Odeon. Depois de gravar, em 1965, um compacto simples, com duas canções de Theotônio Pavão e Zaé Junior, que passou despercebido, Agnaldo Timóteo acertou, em mais um CS, com Mamãe (versão de La mamma, lançada por Charles Aznavour, versão de Fred Jorge). O que garantiu o lançamento do primeiro LP, Nasce um astro, com um repertório em sua maioria de versões de baladas italiana e francesas, todas apropriadas para que ele explorasse sua potência vocal. "Fui motorista de Ângela Maria durante quatro meses. Queria vencer como cantor, quando eles me deram uma colher de chá, no Rio Hit Parade, fui lá e estourei. Cantei The house of the rising sun, um enorme sucesso, estava nas paradas do mundo inteiro, com o grupo The Animals. Eles perguntaram se eu cantaria em inglês, respondi que cantava em qualquer idioma", conta o Agnaldo, em entrevista por telefone, de São Paulo, onde mora.
A mesma canção seria um clássico do seu repertório como A casa do sol nascente (versão de Fred Jorge), faixa do LP Surge um astro. Atribuída a Alan Price, dos Animals, The house of the rising sun é de domínio publico, e foi popularizada pela gravação de Bob Dylan, em seu álbum de estreia (de 1962), porém só depois que ele se tornou bemsucedido. O sucesso de Agnaldo Timóteo coincidiu com a eclosão da jovem guarda, o programa que virou movimento, e de que ele foi uma das atrações. Evidentemente, ele nunca foi roqueiro, mas o rock and roll nos primeiros anos da década de 1960 englobava do calipso ao rock balada. Assim, ele não teve problemas para se encaixar no elenco do seminal Hoje é dia de rock, de Jair de Taumaturgo, espécie de tubo de ensaio para a jovem guarda, onde a maioria dos futuros ídolos do iêiêiê fariam estágio probatório.
Hoje enquadrado como "brega", ou no mais abrangente "romântico", Agnaldo Timóteo foi um dos ídolos do iêiêiê, já na avançada idade de 29 anos: "Eu não estive apenas uma vez ou outra no Jovem guarda. Participei do programa até que ele acabou. Cantava A casa do sol nascente, Hava naguila, quase não gravei com conjuntos. Gravava com orquestra, trabalhei muito com o maestro Peruzzi", diz Timóteo, que tem os Fevers em alguns discos, e o organista Lafayette toca com em Esse amor que eu não queria, versão de Whiter shade of pale (Gary Brooks/Keith Reeds, original do Procol Harum).
CANÇÃO DO REI
"A música que Roberto Carlos fez para mim é uma das coisas mais lindas que já cantei. É a história de um jovem tímido que se apaixona e não tem coragem de confessar o seu amor", a explicação foi pinçada de uma matéria com Agnaldo Timóteo, na revista Intervalo, em maio de 1967. A música que Roberto Carlos (assinada com Erasmo Carlos) fez para ele foi Meu grito. Os dois se cruzaram num dos corredores da TV, e Roberto perguntou se Agnaldo queria gravar uma música sua. A resposta foi afirmativa, claro. "Na semana que vem", prometeu o Rei. Um prazo que se dilatou para quatro meses: "Agnaldo já havia quase se esquecido da coisa quando, um dia, recebeu um telefonema para participar do Jovem guarda. Timóteo foi. Quando chegou à emissora foi chamado ao camarim de Roberto Carlos que lhe entregou uma partitura: Toma e vai ensaiar porque quero ouvilo cantar no programa. Foi um sucesso, quando acabei de cantar foi um delírio", conta Agnaldo na entrevista à revista.
Porém, 48 anos depois, Agnaldo Timóteo refaz a história: "Ele me entregou a música no Recife. A gente estava no mesmo hotel, acho que era o Hotel Central, não lembro, no Centro. Eu tomava café quando Roberto me chamou e disse que tinha feito uma música pra mim". Meu grito teria sido inspirado no romance de RC com Nice Rossi, mantido em segredo porque, entre outros motivos, ela era desquitada. A música foi lançada quando a Jovem Guarda chegava ao auge.