ENTREVISTA

Quadrinista Adriana Melo fala sobre trabalhos e experiência com Marvel e DC Comics

Convidada da Mostra Sesc de Literatura Contemporânea, ela é um dos nomes pioneiros nos quadrinhos de super-heróis

Diogo Guedes
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Publicado em 15/08/2015 às 5:13
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Convidada da Mostra Sesc de Literatura Contemporânea, ela é um dos nomes pioneiros nos quadrinhos de super-heróis - FOTO: Divulgação
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Quando começou a ler quadrinhos, a paulista Adriana Melo não imaginava que, anos mais tarde, seria uma das desenhistas da revistas da Marvel e da DC Comics. Uma das convidadas hoje, às 17h, para a Mostra Sesc de Literatura Contemporânea, no Teatro Hermilo Borba Filho, ela fala sobre sua trajetória e o tema da sua conversa com a quadrinista Ana Recalde: as mulheres e as HQs.



JORNAL DO COMMERCIO – Você quebrou barreiras não só por ter sido uma das poucas que conseguiu se dar bem desenhando para fora do país, mas também por ser a primeira mulher do mundo a desenhar o Homem-Aranha. Imaginava isso quando começou? Foi uma trajetória difícil?
ADRIANA MELO –
Sendo bem sincera nunca pensei ou planejei metas para a carreira, tinha em mente algo simples: amava passar o dia desenhando e queria conseguir me sustentar com isso. As coisas foram acontecendo naturalmente e, graças a Deus, consegui meu espacinho no mercado. Produzir pra mercado americano/europeu é uma caminhada longa e que requer muita determinação. As dificuldades no início são muito, muito grandes, principalmente por que se demora algum tempo até poder realmente se viver de quadrinhos. Muita barreira aparece no início, já que ser desenhista de quadrinhos não é visto como uma profissão por assim dizer, sem holerite e fundo de garantia. O fato de ser mulher ou homem não necessariamente facilita ou dificulta a entrada ou produção para o mercado, você é mais uma pessoa ralando para garantir um espaço.
 
JC – Sempre gostou do universo dos super-heróis? Desde que começou a ler HQs, quais eram seus preferidos? Tinha um artista favorito também?
ADRIANA –
Sempre fui apaixonada por quadrinhos, mas só pensava em desenhar a Turma da Mônica até minha adolescência. Depois, quando mantive contato com o mundo de super-heróis, é que passei a conhecer e trabalhar com isso virou meu sonho. Sempre fui apaixonada por mutantes e o primeiro desenhista a me chamar a atenção foi o Alan Davies, que fez Excalibur e X-men
 
JC – Você trabalhou nas principais empresas americanas de HQs. O que sentiu de diferente na relação com cada uma delas? É um processo muito veloz?
ADRIANA –
Exige MUITO, são cerca de 12 horas diárias em cima de uma prancheta, onde só a organização pode te levar a cumprir os prazos que costumam ser apertados (5 semanas para produzir 22 páginas tamanho A3). Esse prazo para enviar layout, correções, pesquisa de referência e o tempo que se aguarda entre etapas de aprovação do trabalho. Sem citar os problemas extra-studio (falta de luz, filhos, problemas com internet, computador, etc.) que fazem com que seja uma desafio dar conta como um reloginho do prazo passado pelas empresas. Sim, Marvel, DC, Dark Horse e Top Cow, cada uma tem seu estilo, seu humor e uma linha diferente de tratar os desenhistas, não tenho como definir uma preferida, já que tive excelentes experiências em todas elas!
 
JC – Você já sentiu algum traço do machismo na sua atuação nos quadrinhos? Precisou lidar com muita desconfiança?
ADRIANA –
Acho que aí eu vou desapontar quem esperava alguma revelação bombástica (risos). No cotidiano do trabalho, na disputa por vagas e afins, nunca enfrentei uma muralha real e palpável por ser mulher. Até pelo fato de o editor escolher puramente pelo portfólio quem vai fazer parte da equipe criativa da revista, sem se preocupar com o gênero. Percebo que em fóruns de quadrinhos os leitores tendem a ter preconceito a respeito, mas, entre os profissionais, nunca vivi nada assim.
 
JC – Acha que o universo dos desenhos está um pouco mais aberto hoje às mulheres?
ADRIANA –
Entendo que, pela facilidade de se fazer ouvir pelas redes sociais, pela facilidade de montar sites e portfólios e entrar em contato com artistas pela internet, é, sim, um pouco mais fácil de uma forma geral. O número de meninas se interessando pela área também está aumentando. Acho que isso se deve ao fato de que as HQs passaram a fazer parte da cultura pop, massificada graças a filmes e séries de TV. Isso era inexistente quando comecei.
 
JC – Tem algum personagem que ainda sonha em desenhar? Tem planos para algum projeto autoral?
ADRIANA –
Olha, no dia que vocês ouvirem que estou trabalhando em um título mutante, desenhando mensalmente X-men e Wolverine pode ter certeza que estarei soltando rojões e pulando de alegria! (risos) Sobre algo autoral, antes não sonhava com isso, agora… Começo a pensar a respeito sim! Quem sabe, num futuro próximo, comece a trabalhar em algo num gênero de fantasia, medieval… Algo nesse estilo.

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