Um dos exemplos mais emblemáticos do descaso do poder público com a cultura, no Recife, é o Teatro do Parque. O equipamento cultural, que já foi um dos mais movimentados da capital pernambucana, inaugurado em 1915 está fechado desde 2010. A primeira fase da reforma, com objetivo de sanar problemas estruturais e substituir o telhado, custou R$ 1 milhão. A segunda etapa, que prevê restauro e modernização doteatro, como sonorização, tela, mobiliário, entre outros, tem custo previsto de R$ 12 milhões, mas ainda está em processo de captação, via Lei Rouanet.
A entrega, prevista inicialmente para a comemoração do centenário, em 2015, é uma incógnita e, há mais de um ano, as obras estão completamente paradas. Em novembro, o Ministério Público de Pernambuco ajuizou ação pedindo que seja expedida liminar exigindo reinício imediato das obras de restauro do espaço.
Durante a última campanha eleitoral, os candidatos a prefeito foram enfáticos em ressaltar a reabertura do Teatro do Parque como prioridade. O atual gestor, Geraldo Julio, que em seu primeiro mandato não avançou nas melhorias, disse, inclusive, que iria reformar, mas só "quando tivesse recursos."
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A placa com a ordem de serviço da empresa Concrepoxi, responsável pela primeira fase do projeto, instalada há pelo menos um ano e meio, estava exposta sem um dado essencial para a população: o valor. Procurado pela redação do JC, o Gabinete de Projetos Especiais admitiu o erro e disse que a placa será retirada e outra será colocada quando a nova etapa for licitada (ainda sem previsão).
"A atual placa de sinalização foi colocada pela empresa contratada à época da realização da primeira etapa da obra que o teatro foi submetido. Já foi solicitada a retirada da placa, uma vez que o contrato com a empresa já chegou ao fim. A placa deverá ser retirada pela empresa Concrepoxi já na próxima semana. Uma nova licitação será realizada para o cumprimento da segunda etapa da obra de restauro do Teatro do Parque. Tão logo a empresa vencedora for autorizada a iniciar os serviços, uma nova placa será colocada no local com todas as informações técnicas, incluindo valor total da obra", explicou a Prefeitura em nota.
DESCASO
Para os moradores, comerciantes e transeuntes que passam pelo Teatro do Parque diariamente, a situação do entorno só piorou desde o fechamento do espaço, em 2010.
"Penso que a situação do Teatro do Parque reflete a situação de abandono do centro do Recife, no geral; e de descaso com a cultura, em particular, no tocante à atenção do poder público municipal para essas áreas. Para mim, que moro no centro há 12 anos, está claro que o centro não é prioridade, do ponto de vista urbanístico, patrimonial, cultural e humano para a Prefeitura. O Parque era um equipamento cultural vivo, pulsante, que trazia vida para esta região do centro. O Teatro do Parque, portanto, é quase um sintoma, um emblema, um símbolo desse vazio que se arrasta desde 2010. Sete anos de um Teatro-Patrimônio fechado são uma vergonha para uma cidade como o Recife, uma metrópole produtora e consumidora de cultura”, critica o diretor e professor Rodrigo Dourado, que mora ao lado do Teatro do Parque.