O Teatro do Parque sempre foi um equipamento para atender múltiplas linguagens. Artes cênicas, música e cinema, na maior parte dos seus cem anos, sempre estiveram na pauta da casa – com cada uma dessas áreas desempenhando um papel de destaque nas opções de entretenimento do Recife. Hoje, encerrando a série de matérias que relembram a trajetória do espaço, cujo centenário foi vivido da porta para fora com uma programação de manifestações por causa da demora em sua reforma (veja box ao lado), ganha destaque aqui a sétima arte, que representa uma parcela importante nessa história.
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“O Teatro do Parque, antes do surgimento das salas nos shoppings, foi uma opção de iniciação no cinema de várias gerações”, conta Geraldo Pinho, atualmente programador do Cinema São Luiz e que, de 1993 a 2002, desempenhou a mesma função no Parque. “As pessoas que viviam no interior e vinham morar no Recife sempre se instalaram na Boa Vista, fora que ainda havia muitos estudantes no Centro e ainda os turistas que frequentavam os bares da Rua do Hospício e que tomavam contato com o espaço”, relembra o responsável por estabelecer o preço que se tornou um marco na história da casa: R$ 1.
Nesse período, dos 1084 lugares que haviam no teatro (número que depois foi reduzido para 950), Geraldo conta que só eram vendidos 900 ingressos. “O cinema não era climatizado e para deixar o clima mais ameno eu precisava controlar a entrada de pessoas para ficar suportável, porque a primeira sessão iniciava às 16h30”, relembra.
Carla Camurati, em 1995, vivia a ressaca do fim da Embrafilme, finada no anos Collor, e, em um esquema de distribuição “debaixo do braço”, buscava salas para exibir seu Carlota Joaquina, Princesa do Brazil, considerado um marco da retomada do cinema nacional (foi o primeiro longa brasileiro a conseguir bater a marca de um milhão de espectadores nos anos 1990). Pinho, na época, entrou em contato com a diretora. “Ela topou exibir o filme no Parque e me disse: ‘pode estrear na próxima sexta-feira’. Ficou surpresa quando soube que as nossas sessões só iam de segunda a quarta-feira e, mais ainda, quando contei quanto custava o ingresso”, conta o programador, que relata que, em uma semana, 5.200 pessoas viram o filme – marca alcança por vários longas brasileiros, que tinham espaço cativo no cinema. “Só Central do Brasil foi visto por mais de 22 mil pessoas.”
“Me incomoda o descaso com o Teatro do Parque. É falta de compreensão do poder público, de entender a importância da cultura para a cidade, era nosso equipamento de maior público”, finaliza Geraldo.
Antes dele, na década de 1970 e início dos anos 1980, Celso Marconi também participou da escolha dos longas que enterravam em cartaz no Teatro do Parque (com o apoio de Fernando Spencer). “Era um tempo em que a gente precisava confiar nos distribuidores dos filmes para exibi-los. Muitas vezes a gente ia buscar as latas com os rolos dos filmes no aeroporto e chegávamos bem na hora da exibição, com o público já entrando no teatro”, conta o crítico de cinema, que, ao assumir a programação do Parque, mudou o perfil dos filmes lá exibidos (de educativos para cinema de arte).
O cine-teatro ainda testemunhou outros eras da sétima arte, como na época do cinema-mudo, quando músicos faziam o acompanhamento das projeções e, entre eles, estava o maestro Nelson Ferreira – que mais tarde ficou notável como compositor de frevos.
Para Ernesto Barros, crítico de cinema deste JC, e que de 2008 a 2010 assumiu a gerência de audiovisual da Fundação de Cultura Cidade do Recife, o Parque e o Apolo, também controlado pela PCR, viveram um período de efervescência durante sua gestão. “Tivemos duas edições do Janela Internacional de Cinema, realizamos o Panorama Recife de Documentários, recebemos Lírio Ferreira, Paulo Caldas, Cláudio Assis e Marcelo Gomes para exibirem e debaterem seus filmes, tudo isso quando ainda havia recursos para o setor”, conta Ernesto, que assumiu a pasta quando o Teatro do Parque estava sem programação. “O espaço estava com o equipamento antigo e sem funcionar, e houve um esforço para recuperá-lo”, relembra.
Leia matéria completa na edição desta terça-feira (25/8) do Jornal do Commercio