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Governo pede desculpas a cristãos e critica prefeito de Garanhuns

A Secretaria de Cultura de Pernambuco e a Fundarpe afirmam não concordar com atitudes de alguns artistas no FIG e diz que prefeito semeou ódio

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Publicado em 31/07/2018 às 9:19
Foto: Nicole de Andrade/Secult-PE
A Secretaria de Cultura de Pernambuco e a Fundarpe afirmam não concordar com atitudes de alguns artistas no FIG e diz que prefeito semeou ódio - FOTO: Foto: Nicole de Andrade/Secult-PE
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A Secretaria de Cultura de Pernambuco, do secretário Marcelino Granja, e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), presidida por Márcia Souto, emitiram uma nota oficial para se posicionar sobre os conflitos que permearam a última edição do Festival de Inverno de Garanhuns. O documento pede desculpas aos cristãos em relação ao que classificou de "atitude isolada de alguns artistas", afirmando não estar em acordo com o comportamento de artistas no Palco Mestre Dominguinhos. Os cantores Johnny Hooker e Daniela Mercury realizaram incisivos protestos contra o cancelamento do espetáculo O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Rainha do Céu

Entretanto, críticas ao prefeito de Garanhuns, Izaías Régis, não foram poupadas, ao tratar as atitudes do político como irresponsabilidade pública. "O Prefeito espalhou uma campanha de ódio, preconceitos e intolerância nas redes sociais, fazendo proselitismo político da oposição ao Governo, como revelou em entrevista que foi ao ar nesta segunda-feira". Segundo a nota, Izaías estaria sendo pautado pelas ideias reacionárias do projeto de Temer em Pernambuco.

 As críticas se dirigiram também a artistas que realizaram protestos incisivos contra os cancelamentos e restrições ao espetáculo. “Sobre a atitude isolada de alguns artistas no Palco Dominguinhos, na 28° Edição do FIG, a Secult-PE e Fundarpe pedem desculpas aos cristãos e a todos que tenham se sentido ofendidos”, diz a nota, em referência, sobretudo, aos discursos da cantora baiana Daniela Mercury e do pernambucano Johnny Hooker. Com bastante repercussão, Hooker fez um discurso, em seu show, na última sexta, dizendo que as travestis também devem ser contempladas pelo discurso de fé cristão: “E se Jesus voltasse agora à terra como uma travesti? Não era para amar ao próximo como a si mesmo? (...). Pois, eu quero dizer que Jesus também é travesti”.

O prefeito Izaías Regis divulgou, por sua vez, uma nota condenando mais uma vez a escolha da peça pela organização do FIG e as atitudes de Daniela e Hooker, o que motivou uma notícia-crime impetrada pelo advogado criminalista Jethro Ferreira Junior à Polícia Civil contra o cantor.

A nota oficial do governo do Estado entra em conflito com os fatos ocorridos ao longo das últimas duas semanas em Garanhuns. Afinal, a Secult-PE avalizou a escolha de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Rainha do Céu feita por uma comissão instituída pela Fundarpe. E foi o próprio governo do Estado que retirou a montagem da programação oficial do FIG por causa da pressão pública de Izaías Regis, que pertence a um grupo político adversário do atual governo estadual.

A princípio, Marcelino Granja veio a público informar que não cederia à pressão do prefeito Izaías Regis para retirar a peça da grade num festival cujo tema era “Um Viva à Liberdade”. Ao classificar a peça como ofensa ao cristianismo, o prefeito disse que não liberaria nenhum espaço municipal se o espetáculo fosse mantido. O secretário voltou atrás e o espetáculo foi cancelado. O governador Paulo Câmara justificou o cancelamento, dizendo que o festival não deveria gerar polêmica: "Infelizmente, houve essa polêmica dessa peça. O festival não é para ter polêmica. Pelo contrário, é um festival para ter unidade, para ter harmonia”. “A peça fala de tolerância e amor”, disse a atriz Renata Carvalho, criticando a represália do Governo do Estado.

O Ministério Público de Pernambuco, por sua vez, entrou com uma ação no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) recomendando que a Secult-PE e a Fundarpe reconsiderassem da decisão. Artistas e militantes da causa LGBT se mobilizaram e fizeram um croundfundig para viabilizar apresentações fora da grade oficial na cidade. Um dia antes das apresentações da última sexta, a Fundarpe, entretanto, recebeu uma determinação do TJPE de reintegrar a peça à programação, sob pena de multa de R$ 50 mil.

A Associação dos Pastores Evangélicos de Garanhuns e Região entrou com mandado de segurança pedindo a não encenação. A decisão favorável do TJPE à agremiação religiosa saiu quando uma segunda apresentação acontecia à noite. Agentes de segurança, acionados pela Fundarpe, foram ao local interromper impedir a entrada do público e a sessão que, após muita tensão, acabou acontecendo sem a estrutura oficial – equipamentos, cadeiras e toldos foram removidos em plena apresentação. Na manhã de sábado passado (dia 28/7), o presidente em exercício e primeiro vice-presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), desembargador Cândido Saraiva, anulou o mandado de segurança e acatou a decisão anterior, determinando de novo a inclusão na grade determinada pelo TJPE. O governo do Estado contudo, alegou que não poderia cumprir a determinação, pois não havia mais prazo, embora o festival estivesse em seu último dia.

Ou seja, a Secult-PE e a Fundarpe perderam a derradeira oportunidade de se redimir de um problema que criou ao levantar a bandeira da liberdade e decidir não bancar a escolha de uma peça polêmica em defesa da igualdade de gênero, mas que entra em conflito com valores religiosos.

Leia a nota na íntegra

Sobre a atitude isolada de alguns artistas no Palco Dominguinhos, na 28° Edição do FIG, a SECULT e FUNDARPE pedem desculpas aos cristãos e a todos que tenham se sentido ofendidos.

Não concordamos com tais titudes."

O que prevaleceu largamente no FIG foram as suas mais de 500 apresentações, que fizeram do Festival um grande espaço de confraternização, transcorrido em paz, tranquilidade e segurança, com as ruas, praças, parques, restaurantes, hotéis, teatros, Catedral, Circo, pavilhões e polos de apresentações artísticas lotados durante os seus 10 dias!!

Também não compactuamos com a irresponsabilidade pública do Prefeito, pautado pelas ideias reacionárias do projeto de Temer em Pernambuco.

O Prefeito espalhou uma campanha de ódio, preconceitos e intolerância nas redes sociais, fazendo proselitismo político da oposição ao Governo, como revelou na entrevista que foi ao ar nesta segunda-feira, caindo sua máscara ao falar abertamente de eleição.

Por fim, reafirmamos os valores cristãos e humanistas da compaixão, do amor e do perdão, da solidariedade e da união pela paz e contra a violência.

Recife, 30 de julho de 2018.
SECULT e FUNDARPE

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