Há muito tempo se fala em internet das coisas – ou IoT, na sigla em inglês –, mas, sua aplicação no dia a dia das pessoas ou mesmo o acesso a ela parece pertencer mais ao futuro que ao presente. E essa sensação não é à toa. Mesmo já sendo realidade em algum nível, a conexão e troca de dados entre máquinas ainda esbarra em importantes gargalos para que sua aplicação chegue ao consumidor final com mais intensidade. Na lista entram incompatibilidade de tecnologias para o funcionamento de um único sistema, infraestrutura de internet móvel aquém do necessário, alto custo de investimento e, não menos relevante, a espera por uma aplicação que “pegue”.
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A complexidade da resolução desses impasses é proporcional à quantidade de tecnologias envolvidas para o desenvolvimento da internet das coisas. Uma casa inteligente, por exemplo, pode ter sensores ativados por ondas de rádio que se comunicam usando a wi-fi e enviam dados para a nuvem, acessados via rede móvel. Na conta também entra o desenvolvimento de hardware, software e a parte mais “inteligente”, a análise de dados. Mesmo mundialmente, a formulação de um modelo uniformizado para o funcionamento desses sistemas inteligentes ainda está engatinhando.
O que é necessário para o desenvolvimento da IoT no Brasil está sendo assunto recorrente na Futurecom, feira de tecnologia e inovação que acontece esta semana em São Paulo. Entre os segmentos mais preocupados com esses gargalos estão as companhias de telecomunicações. “O mais complexo é acertar o que vai vir. Quando o smartphone surgiu, por exemplo, ninguém tinha a exata noção do que iria acontecer”, lembra o diretor de tecnologia da TIM.
A capacidade das companhias de telecomunicação de suportar o grande aumento de demanda em função da conexão de cada vez mais itens é ponto importante na discussão. “As empresas não têm estrutura para investir em tecnologia por tecnologia em um contexto de crise. Não se pode sair para uma linha de investimento precoce. As companhias de telecom precisam estar atentas ao que está acontecendo no mercado, decidir a postura que irão tomar e investir no momento certo para não deixar a oportunidade passar”, acredita o líder de mídia, entretenimento e comunicação para a América Latina da Accenture, Saulo Bonizzato. O líder da Accenture Digital para o Brasil e a América Latina, Rodolfo Eschenbach, é ainda mais incisivo. “O Brasil tem um problema de infraestrutura. É preciso milhões para investir e melhorar, mas ainda não se consegue capturar recursos para isso. As empresas estão olhando para o que está acontecendo, mas não necessariamente estão sabendo como lidar”, diz.
Além disso, a rede móvel está acostumada ao comportamento de uso de humanos, bem diferente da demanda das máquinas. “Hoje a disponibilidade de rede é pensada para pessoas, que acessam Facebook, e-mail, podem passar tempos variados conectados e demandar muitos dados. Já um estacionamento inteligente, por exemplo, terá sensores enviando apenas dois tipos de informação – vagas ocupadas ou livres –, mas podem ser centenas de sensores e conectados o tempo todo”, exemplifica o líder de IoT para a América Latina da Accenture, Mario Lemos.
Há, ainda, quem defenda que, na verdade, o gatilho para a acelerar a integração da internet das coisas ao consumidor final é o surgimento de um modelo de aplicação de sucesso que se popularize e, assim, estimule o mercado. “O que falta é materializar essa digitalização de todos os bens existentes. Quando a internet surgiu, ela logo se tornou uma realidade para o mundo corporativo, mas levou certo tempo para chegar à casa das pessoas. Algo vai acontecer para estimular a IoT”, acredita de tecnologia de redes e sistemas da Oi, Pedro Falcão. Uma vez estimulado, os sistemas ficariam mais baratos e, consequentemente, mais acessíveis. “As operadoras podem ser as protagonistas nesse novo universo, mas ele precisa ser financiável. Estamos concentrados em pensar como financiar esses ecossistemas”, destaca a diretora da Algar, Zaima Milazzo.
APLICAÇÃO
Enquanto todos ainda se perguntam quando e como a internet das coisas vai decolar no mercado em geral, o crescimento de seu uso na indústria e agronegócio é real. Uma das áreas que mais se beneficiam dessa inovação é a logística, com sensores capazes de trocar informações sobre cargas, rastrear e identificar problemas antes que eles atrapalhem a produção. Na produção agrícola também há sistemas incrivelmente complexos.
A aplicação Agricultura Digital, tecnologia desenvolvida pela Accenture, por exemplo, pode aumentar a produção até 7% e reduzir em até 10% dos custos de uma safra. A área de plantio é escaneada em imagens de infra-vermelho feitas por drones, que são processadas e cruzadas com dados de solo, clima e do estoque de produção, por exemplo. Em um tablet, os gestores recebem orientações de decisões que devem ser tomadas. “Além do cruzamento de dados, há uma tecnologia inteligente. Ela aprende com resultados do passado e as usa para criar novas informações”, explica Mario Lemos.