FINANÇAS PESSOAIS

Trabalhador deve se programar financeiramente para pós-aposentadoria

Além da reforma da previdência, planejamento de longo prazo também deve ter a atenção dos trabalhadores

Da editoria de economia
Cadastrado por
Da editoria de economia
Publicado em 18/06/2017 às 6:59
Leitura:

Embora as mudanças propostas pela reforma da Previdência tenham impacto direto sobre o bolso dos trabalhadores, elas não devem ser a única preocupação de quem está prestes a se aposentar. De acordo o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), 35,1% dos brasileiros não fazem planos para a pós-aposentadoria. Na prática, significa dizer que, após dezenas de anos ativos e na companhia de outros profissionais, muitos “idosos” – em plena capacidade física e mental – acabam ociosos por falta de planejamento. Este quadro, naturalmente, afeta corpo e mente. Não são raros casos de depressão e alcoolismo no pós-aposentadoria.

De acordo com o geriatra da Universidade de Pernambuco (UPE) Alexandre Mattos, no Brasil, ainda não existe uma cultura estabelecida de preparo para a aposentadoria. “E quando há planejamento, as pessoas consideram mais o lado financeiro, mas esquecem de se preparar para continuarem socialmente e cognitivamente ativas, fatores importantes na longevidade do idoso.” O médico também acrescenta que quando profissionais abandonam um ritmo de trabalho de anos, mas não substituem as atividades por outras, tendem a adoecer.

“Nossa profissão é uma das nossas identidades mais fortes. Sempre que alguém pergunta o quem somos, respondemos pelo ponto de vista da profissão. Quando as pessoas perdem essa identidade sem se planejar, e deixam de lado aquele vínculo de anos, aqueles estímulos e convivência social com os colegas de trabalho, há um fator de risco para o adoecimento e desenvolvimento de males como transtorno de ansiedade e depressão”, completa. Há, ainda, risco indireto para o aparecimento de síndromes demenciais, como a doença de Alzheimer, e problemas cardiovasculares.

Por isso, não é de se espantar que as organizações se preocupem cada vez mais com a aposentadoria e estejam aprendendo a ofertar para o idoso treinamentos em que mostram diversas opções de atividades. “As empresas começam a entender que é importante cuidar dessa transição e mostrar para os profissionais que desejam permanecer no mercado de trabalho que eles podem fazer isso de forma competitiva. Que aquela pessoa pode usar suas experiências e talentos para ter uma nova carreira”, comenta a responsável pelo escritório da Consultoria Lee Hecht Harrison (LHH) no Recife, Mariangela Schoenacker.

Na Prefeitura do Recife, a Secretaria de Planejamento, Administração e Gestão de Pessoas já organiza turmas de servidores para participar de seu Programa de Preparação Para Aposentadoria (PPA). Nele, a ideia é clara: você pode até pendurar as chuteiras, mas não deve sair tão cedo de campo. Durante todo o programa, o idoso é apresentado a atividades que podem preencher seu tempo daqui para frente, como oferecimento de consultorias, empreendedorismo, trabalho voluntário, cursos, viagens, entre outras.

Uma das participantes do PPA, a aposentada e agora empreendedora Patrícia Amorim, 57 anos, se aposentou no mês de abril após trabalhar como psicóloga para a Secretaria de Saúde durante 35 anos. “Meu principal medo era a ociosidade, e tem também essa questão do luto, de você estar saindo de uma coisa que fez parte da sua vida por tanto tempo, mas o programa me ajudou muito a organizar a aposentadoria. Já vinha com a ideia de abrir um negócio e agora tenho uma casa de açaí e saladas”, diz a nova empreendedora. “Foi uma mudança muito grande para mim, mas tem que ser desse jeito, a gente sai de uma atividade e continua em outra”, completa, animada com o novo negócio.

REFORMA

Assim como a reforma trabalhista, a reforma da Previdência é uma das prioridades do governo Michel Temer, mas o projeto apresenta dificuldades de aprovação no Congresso Nacional. Em primeiro lugar, desde o início da proposta, e por se tratar de uma medida impopular, não há apoio suficiente dos parlamentares, mesmo entre a base aliada do governo federal. Para ser aprovada, a reforma precisa contar com 308 votos na Câmara dos Deputados para então seguir rumo ao Senado.

O agravante político é que desde a delação de um dos sócios da JBS, Joesley Batista, que mostrou áudios de conversas com o presidente da República, Temer passou a ser acusado de uma série de crimes ligados à corrupção. A situação, então, se tornou ainda mais complicada e, agora, com o clima político atribulado, não há previsão para a votação da reforma previdenciária.

Atualmente, há duas modalidades de aposentadoria, uma que considera o tempo de contribuição à previdência (35 anos para homens e 30 anos para mulheres) e outra por idade, de 65 anos para homens e 60 para mulheres, com obrigatoriedade de pelo menos 15 anos de contribuição. A regra é válida tanto para os trabalhadores vinculados ao Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS) quanto para servidores públicos.

Com o novo projeto, a Reforma fixa idade mínima para requerer aposentadoria – de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres – e elimina a possibilidade de aposentadoria apenas por tempo de contribuição.

Além disso, o tempo mínimo de pagamento ao INSS cresce uma década, de 15 para 25 anos. Para ter direito a aposentadoria integral, porém, serão necessários 40 anos de contribuição. O valor inicial do benefício, após 25 anos de contribuição, será 70% de todos os salários recebidos desde o ano de 1994.

DÉFICIT

Em 2016, o déficit do INSS chegou a R$ 149,2 bilhões. O valor corresponde a 2,3% do PIB. Em 2017, a expectativa é de um rombo ainda maior, da ordem dos R$ 181,2 bilhões. Caso não seja realizada nenhuma mudança na Previdência Social, este crescimento continuará acontecendo porque os brasileiros estão vivendo mais tempo, ou seja, cresce o número de idosos e diminui o de jovens, que sustentam o regime previdenciário com suas contribuições.

Últimas notícias