Saúde

Falta de planejamento para aposentadoria é risco para doença psíquica

Pesquisa revela que, no Brasil, 35,1% das pessoas acima de 60 anos chegaram a essa idade sem ter se preparado para a aposentadoria

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 04/06/2017 às 16:18
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Pesquisa revela que, no Brasil, 35,1% das pessoas acima de 60 anos chegaram a essa idade sem ter se preparado para a aposentadoria - FOTO: Guga Matos/JC Imagem
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O frio na barriga experimentado pela terapeuta ocupacional Rosa Agra, 56 anos, é comum entre as pessoas que aguardam ansiosamente o momento de se aposentar. Associado à inquietação por pensar que ficará brevemente longe do ofício que abraça há mais de 30 anos, Rosa alimenta a expectativa de colocar em prática novos sonhos. Às portas da aposentadoria, ela traça caminhos para exercitar o ócio criativo – conceito que mescla trabalho, aprendizado e diversão.

“Tenho maturado planos para 2018, quando devo sair do serviço. Bate um medo do novo, mas planejo atividades prazerosas para continuar produtiva. Gosto de bordar e vou focar nisso”, conta Rosa. Ela tem participado do Programa Qualivida, que prepara servidores da Secretaria de Saúde de Pernambuco para a aposentadoria. Assim, Rosa tem investido num processo ainda pouco valorizado: o planejamento para essa fase da vida.

No Brasil, 35,1% das pessoas acima de 60 anos chegaram a essa idade sem ter se preparado para o afastamento do serviço. O dado é de uma pesquisa recente realizada, em todas as capitais, pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). “A falta de planejamento para a aposentadoria é um risco para o adoecimento, especialmente psíquico, e a baixa longevidade. Por outro lado, quem se programa para esse período consegue agregar fatores que melhoram a qualidade do envelhecimento”, frisa o geriatra Alexandre de Mattos, da Universidade de Pernambuco (UPE).

O médico reforça que a preparação para a aposentadoria pode incluir projetos que tenham em vista a satisfação pessoal. “A pessoa pode optar por uma tarefa flexível, que possibilite a realização de atividades que pouco valorizava por causa do ritmo intenso de trabalho”, destaca Alexandre. O fato de as pessoas trabalharem mesmo aposentadas gera sentimentos positivos em 70,7% dos idosos, segundo a pesquisa do SPC Brasil e da CNDL. E essa satisfação pessoal, segundo o geriatra, caminha paralelamente às chances que cada um ganha ao se manter ativo social e cognitivamente. "Esse é um fator que, inclusive, ajuda a combater doenças como as demências", sublinha Alexandre de Mattos.

POSITIVIDADE

A técnica de contabilidade aposentada Luciene Barros de Lima, 58, retrata como a aposentadoria pode estar associada a sentimentos positivos. Ela se aposentou em julho do ano passado e, anos antes de parar o trabalho exercido por quatro décadas, preparou-se para permanecer ativa. “Sempre gostei de vender roupas e decidi que intensificaria essa atividade após me aposentar. Passei a ter mais tempo para cuidar de mim, viajar, fazer caminhadas e ioga. É claro que sentimos quando para de trabalhar. No mínimo, a gente se apega ao dia a dia, mas podemos fazer uma nova rotina, com mais tempo para dar atenção aos filhos e aos netos”, relata.

Ela também acrescentou à nova agenda a prática do trabalho social. Ao lado de amigos, ajuda uma associação espírita e se organiza para levar donativos para vítimas das enchentes na Mata Sul de Pernambuco. “Precisamos compartilhar o que temos com quem precisa”, conta Luciene, ao evidenciar como a prática da solidariedade é mais uma forma de dar sentido à aposentadoria.

 

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