O presidente Michel Temer disse nesta sexta-feira (11) que está sendo ousado ao propor reformas para recolocar a economia nos trilhos, reconheceu que o poder público "não pode fazer tudo" e prometeu que "logo, logo" o Brasil vai recuperar o grau de investimento.
Temer participou, em Lucas do Rio Verde, da inauguração da usina de etanol de milho da FS Bioenergia, a primeira usina brasileira de etanol que utiliza milho em 100% de sua produção. Esta foi a primeira viagem de Temer ao Estado do Mato Grosso desde que foi efetivado na Presidência da República.
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"Nestes 15 meses, nós apanhamos uma inflação no Brasil que estava acima de 10% e ontem ainda eu disse, quando eu falava no Rio de Janeiro, eu disse 'Nós trouxemos a inflação para 3%'. E alguém levantou o braço e disse 'Não, acabei de ver: hoje, é 2,71%'. Portanto, abaixo do centro da meta, que é 3%. Convenhamos, a taxa Selic estava 14,25%. Neste brevíssimo período, trouxemos para um dígito, 9,25%, a indicar que até o final do ano estaremos em torno de 7,5%, 7%. Portanto, um trabalho que vem sendo feito responsavelmente, paulatinamente", disse Temer.
"Vou fazer um pouco propaganda do governo aqui, pode? Vejo que o Risco Brasil, que estava em mais de 470 pontos negativos, quando assumi o governo, hoje está em 195 pontos, portanto caiu sensivelmente. E logo, logo vamos reassumir o grau de investimento que nós perdemos no passado", prosseguiu Temer. Na quinta-feira (10), a principal referência do Risco Brasil fechou a 197,43 pontos.
Em fevereiro de 2016, a agência de classificação de risco Moody's rebaixou a nota do Brasil em dois graus, o que fez com o que o País perdesse o selo de bom pagador das três principais agências do mundo - Fitch e Standard & Poor's já haviam reduzido a nota brasileira em 2015.
Reformas
Ao falar das reformas que o Planalto pretende ver implantadas, o presidente disse que estava sendo mais que corajoso. "Estou sendo ousado, porque são matérias que ficaram durante anos e anos paralisadas e nós fomos dando solução", observou Temer, destacando que o primeiro passo foi combater a recessão para caminhar rumo ao desenvolvimento.
"No Brasil, temos eliminar um cultura política que se instalou nos últimos tempos, incompatível com o espírito brasileiro, uma animosidade, uma litigância, uma litigiosidade entre os brasileiros que não se encontrava no passado. A nossa tarefa com o crescimento do País é fazer com que não haja brasileiro contra brasileiro, mas brasileiro com brasileiro, é isso que queremos - uma harmonia absoluta no nosso País", afirmou.
O presidente disse que ao longo do seu governo tentou acabar com um "certo preconceito ideológico" que trata a iniciativa privada - e o empresário, em particular - como se fosse "alguém à margem da sociedade".
"Ao contrário: tratamos o empresário como alguém que auxilia o governo. A história da administração pública brasileira revela isso. O poder público não pode fazer tudo", ressaltou Temer.
Entre as medidas já adotadas pelo Planalto, Temer destacou a reforma do ensino médio, a emenda constitucional que limita o crescimento dos gastos públicos e um parecer vinculante que uniformizou os procedimentos de demarcação de terras indígenas no País.
O presidente afirmou também que, para ter uma vida digna, é preciso empregar a todos. "Os níveis de emprego estão crescendo, temos solucionado problemas. Não há coisa mais indigna do que o desemprego", comentou.
Elogio
Durante a solenidade, o prefeito de Lucas do Rio Verde, Luiz Binotti (PSD), parabenizou Temer pela "coragem de estar fazendo as reformas" de que o Brasil necessita. "Quero que o senhor siga em frente. Sei que é um homem determinado e corajoso. Muitos tentaram fazer (as reformas), mas não conseguiram. O senhor vai passar para a história do Brasil como o presidente que fez aquilo que precisava fazer", disse o prefeito. Parte do público aplaudiu, mas a maioria permaneceu em silêncio.
Antes mesmo da chegada de Temer ao município de Lucas do Rio Verde, um grupo de caminhoneiros protestava contra a visita do presidente na BR-163, na altura do km 686. O congestionamento tinha aproximadamente quatro quilômetros de extensão por volta das 10h30, pouco antes do início do evento, de acordo com a concessionária Rota do Oeste. A manifestação, no entanto, não atingiu diretamente o presidente, que se deslocou de helicóptero na região.
"Temer está inaugurando uma usina, mas não é bem-vindo na nossa cidade pelo fato de estar envolvido nesses atos de corrupção. Ele usou dinheiro da população para comprar o apoio dos deputados e se salvar na cadeira de presidente", disse ao Broadcast Político o caminhoneiro Gilson Baitaca, um dos líderes do movimento de transportadores de grãos do Mato Grosso
De acordo com Baitaca, o protesto é contra o aumento de tributos e as denúncias de corrupção que atingem o presidente. O líder dos caminhoneiros lamentou o resultado da votação na Câmara dos Deputados, que barrou a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente por corrupção passiva. Baitaca também criticou o aumento da alíquota de PIS/Cofins sobre combustíveis.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência disse que não iria comentar.