Além da concentração do setor bancário, a gravidade da recessão brasileira também pode explicar o fato de a redução da Selic, a taxa básica de juros, não estar chegando ao consumidor final.
O economista da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas, afirma que, com o aumento do desemprego nos últimos anos, o risco para os bancos concederem financiamento também cresceu. "O crédito é cíclico. Se a economia está em expansão, o risco diminui e a oferta aumenta. Tivemos uma das piores recessões e a taxa de desemprego é alta. Isso ainda pesa. Com a perda de renda em geral, o risco de emprestar é alto e as taxas mais elevadas", diz.
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Comparação
De acordo com relatório do Banco Central divulgado em março, nenhum dos outros quatro grandes ciclos de queda da Selic ocorridos desde 2003 começou em um ano cuja variação do Produto Interno Bruto (PIB) foi tão negativa como o atual nem com uma taxa de desemprego tão alta. A retração do PIB nos 12 meses que antecederam o início do ciclo atual foi de 4,6% e o nível de desemprego ficou em 11,8%. Dos ciclos analisados, o de 2003 foi o que começou em situação mais parecida, ainda que muito melhor: com alta de 3,6% no PIB e desemprego em 10,8%. O afrouxamento monetário do período chegou a dez pontos porcentuais, e o repasse para a taxa de juros para pessoa física foi de 239%.
"Se o desemprego estivesse caminhando para uma redução e a recuperação da atividade econômica fosse mais virtuosa, possivelmente (a redução da Selic) chegaria mais rápido ao consumidor", diz o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre).
O economista da Acrefi, porém, também destaca que a concentração bancária prejudica o repasse da queda da Selic. "Entre os bancos comerciais, o crédito fica concentrado apenas nos cinco grandes (Itaú, Bradesco, Santander, Caixa Econômica e Banco do Brasil)", diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.