BACIA LEITEIRA

Produtores de leite de Pernambuco se queixam de decisão do Ministério da Agricultura

Ministério da Agricultura publicou Instrução Normativa que libera uso do leite em pó na produção de leite UHC ou pasteurizado

Da editoria de economia
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Publicado em 27/07/2016 às 8:30
Foto: SNC/Divulgação
Ministério da Agricultura publicou Instrução Normativa que libera uso do leite em pó na produção de leite UHC ou pasteurizado - FOTO: Foto: SNC/Divulgação
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Não bastasse o aumento expressivo do preço de insumos da ração, os produtores de gado leiteiro de Pernambuco podem amargar mais prejuízos com a Instrução Normativa (IN) do Ministério da Agricultura que autoriza as indústrias de laticínio a usar leite em pó para produzir leite UHT ou pasteurizado por um ano. Associações ligadas à agropecuária acreditam que o preço do litro do leite fluido – vendido de R$ 1,20 a R$ 1,50 no Estado – vai cair, levando criadores a reduzir os rebanhos ou desistir da atividade.

A Instrução Normativa publicada na última sexta-feira libera a reconstituição do leite em pó por empresas na área da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Este tipo de produto vem do Sul e Centro-Oeste do País, Uruguai, Argentina e Nova Zelândia. Antes, a prática era proibida pela portaria nº 196/1994, do próprio Ministério da Agricultura. Com a nova regulamentação, a portaria foi suspensa.

A liberação pegou os agropecuários de surpresa. O setor estava negociando com o governo Federal a melhor forma de tratar o tema, visto que enfrenta dificuldades com o aumento de farelo de soja e de trigo, sal mineral e outros insumos que compõem a ração. Só o milho apresentou alta de 97% desde o início deste ano. “A medida é um artifício para obter uma matéria-prima mais barata. O governo Federal prometeu que, antes de tomar qualquer decisão sobre a importação, haveria um entendimento conjunto entre todas as partes envolvidas. Não ocorreu isso. O produtor é o mais prejudicado, porque os laticínios vão tentar baixar o litro do leite, que é insuficiente para os gastos com a produção”, afirma o presidente da Sociedade Nordestina dos Criadores (SNC), Emanuel Rocha. Ele ressalta que pelo menos 85% da produção vem de pequenos criadores. 

O leite foi um dos vilões da inflação em junho. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o preço deste alimento subiu 8,53% em junho no Recife. Por outro lado, o preço do litro comprado ao produtor está mais barato do que em 2012, quando começou a seca no Estado, afirma o presidente da Federação de Agricultura de Pernambuco, Pio Guerra. "Este é o 5º ano consecutivo de seca e o preço está asfixiado. Como é o que o trabalhador do campo vai sobreviver?", questiona. A Confederação de Agricultura e Pecuária do País (CNA) emitiu nota de repúdio contra o Ministério da Agricultura.

Uma das justificativas do setor de laticínio para a necessidade da liberação é que a seca no semiárido impactou a bacia leiteira. A produção atual não atende à demanda das grandes empresas. Atualmente, Pernambuco gera, em média, 1.8 milhões de litros por dia. Em 2011, o número chegava a 2.6 milhões de litros por dia.

CONSUMIDOR

Mas o uso de leite em pó significa que o preço final ao consumidor vai cair? “O preço deve estabilizar, mas não é possível dizer quanto vai cair ainda. Tudo depende do comportamento do mercado internacional, já que a maior parte do produto consumido no Brasil é importado”, comenta o presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados de Pernambuco (Sindileite-PE), Carlos Albérico Bezerra. “Não posso dizer que o criador não será prejudicado. Porém, o impacto não será tão fatal. A preferência dos laticínios é pelo leite do produtor local. O preço é mais barato e o produto final fica mais gostoso. As empresas de grande porte importam o quilo do leite em pó por uma média de R$ 14”, complementa.

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