CRISE HÍDRICA I

A urgência de revitalizar o Rio São Francisco

No último dia 5, a captação de água do São Francisco foi interrompida na cidade de Penedo por causa de uma proliferação exagerada de vermes (poliquetas)

Ângela Fernanda Belfort
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Ângela Fernanda Belfort
Publicado em 14/05/2017 às 8:01
Foto:Arnaldo Carvalho/JC Imagem
No último dia 5, a captação de água do São Francisco foi interrompida na cidade de Penedo por causa de uma proliferação exagerada de vermes (poliquetas) - FOTO: Foto:Arnaldo Carvalho/JC Imagem
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Imagine o abastecimento de água de uma cidade ficar parado quase um dia por causa de uma infestação de vermes (poliquetas) que se proliferaram numa quantidade enorme. Isso aconteceu na cidade alagoana de Penedo, a 173 km de Maceió, no último dia 05. A diminuição dos predadores (que seriam camarões e peixes que comem as poliquetas) ocorreu devido à redução do volume de água. E, por incrível que pareça, o rio em que isso ocorreu foi somente o São Francisco, conhecido como o da integração nacional por cortar cinco Estados. É o mesmo que o governo federal diz ser a solução para o abastecimento de uma parte do semiárido nordestino que vai receber a água da transposição, inaugurada há dois meses. Esse cenário é só um dos indicadores da urgência que deveria ser a revitalização do Velho Chico.

“Há um desequilíbrio sistêmico no São Francisco por causa da baixa vazão dos reservatórios e da depredação do meio ambiente. A gente acredita que essa infestação de poliquetas ocorreu porque os predadores delas (alguns tipos de peixe e camarões) diminuíram ou desapareceram com a redução do volume da água”, conta o diretor interino do Serviço Autônomo de Água e Esgoto do Penedo, Francisco Souza Guerra. Com cerca de 44 mil habitantes, a cidade fica a 17 km da foz do rio.

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Ainda de acordo com Francisco, é normal a existência de poliquetas no meio aquático e a existência delas não traz risco à saúde humana. No entanto, o sistema de abastecimento de de Penedo paralisou porque eram milhares de poliquetas sendo esmagadas, se transformando numa massa orgânica, que poderia apodrecer e impactar a qualidade da água. Francisco complementa: “o mar está entrando no rio, tá nascendo uma vegetação que não existia por aqui. Não há mais correnteza”.

A redução da quantidade de água do rio é consequência de pelo menos dois motivos. A região que alimenta o São Francisco passa por uma estiagem que é a maior dos últimos 70 anos. A redução das chuvas provocou a diminuição das vazões dos reservatórios das hidrelétricas. Maior lago do Nordeste, o de Sobradinho está com a vazão a 700 metros cúbicos por segundo e já há uma autorização da Agência Nacional de Águas (ANA) para ficar em 600 metros cúbicos por segundo, a menor desde a sua construção na década de 70. A vazão ambientalmente correta é 1,3 mil metros cúbicos por segundo.

PROBLEMA

“O problema mais imediato do São Francisco é a quantidade da água e a qualidade”, diz o vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), José Maciel Oliveira. Atualmente, 115 cidades jogam esgoto in natura no rio. “O esgoto aumenta porque a população está crescendo e a água diminuindo. Isso alimenta problemas como o que ocorreu em Penedo”, conta Maciel. Na Bahia, 63% das obras de esgoto sanitário feitas às margens do rio estão inacabadas.

Para Maciel, teriam que ser revitalizados os 36 principais afluentes do São Francisco – e suas nascentes – pois eles estão enviando grande quantidade de sedimentos e lama ao rio. “O balanço hídrico do Velho Chico está sendo assegurado pelos aquíferos Urucuia, no oeste da Bahia, e o Bambuí, localizado em Goiás, Tocantins, Minas Gerais e Bahia. “Senão cuidarmos desses aquíferos, vai diminuir mais a quantidade de água, principalmente dos afluentes do oeste baiano”, diz.

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