O pequeno agricultor Amaro Laranjeiras só precisou escutar uma palestra dos técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e abraçou a causa: iniciou um plantio de mangabeiras, as quais estão sumindo do litoral pernambucano. Hoje, a pequena propriedade dele em Tamandaré é um símbolo do resgate dessa árvore frutífera. “Já plantei 600 pés. Os primeiros 100 foram em 2015. Era para colher os primeiros frutos este ano, mas a primeira florada não vingou, porque foi no inverno”, conta. “Estou muito animado, porque estou resgatando o que estava desaparecendo. Antigamente, as mangabeiras iam de Recife a São José da Coroa Grande”, lembra. Técnicos do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) iniciaram um projeto que pretende, no futuro, indicar ações para preservar e expandir os plantios de mangabeiras no Estado.
Mesmo sem dar os primeiros frutos, a iniciativa de Amaro já começou a gerar alguma receita. Ele passou a produzir mudas de mangabeiras “dentro dos padrões de pesquisa da Embrapa”. E acrescenta: “Acima de 100 pés, vendo cada muda por R$ 5”. Ele afirma que “às vezes” aparecem interessados em comprar, levando, geralmente, de cinco a 20 unidades.
“Em dois anos, devo estar colhendo uma quantidade boa”, diz. E o senhor vai fazer o que com tanta mangaba ? “Vou vender a polpa. Também pode se fazer outras coisas como doce, cocada, biscoito, pudim e sorvete, além do suco e polpa”. Amaro é o típico pequeno agricultor que vive num assentamento de uma cultura de subsistência. Ele cultiva coco, caju, jerimum, batata doce, banana e macaxeira sem contabilizar direito a renda mensal que isso gera. É citado como exemplo de resgate das mangabeiras para um grupo de pesquisadores que vem divulgando a necessidade de aumentar o plantio dessa árvore desde 2015.
Na semana passada, esse grupo iniciou um mapeamento dessa frutífera em Pernambuco. À frente da iniciativa, está o pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Josué Francisco da Silva, que conta com o apoio dos extensionistas do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). Eles começaram a levantar todo o parque de mangabeiras em 13 municípios do Estado, o acesso que os extrativistas tem a essas árvores, entre outras informações. “Estamos muito preocupados porque é uma perda de patrimônio genético. As áreas de mangaba em Pernambuco foram praticamente dizimadas”, comenta Josué.
MAPEAMENTO
Além da Embrapa, estão participando do levantamento os extensionistas do IPA dos municípios de Itambé, Goiana, Itamaracá, Itapissuma, Igarassu, Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca, Sirinhaém, Rio Formoso, Tamandaré, Barreiros e São José da Coroa Grande. A expectativa é de concluir o mapeamento até março de 2018. “Depois de concluir a primeira etapa que é o mapeamento, a ideia é trabalhar nas políticas públicas de preservação das mangabeiras existentes e expansão dos plantios”, afirma o gerente de assistência técnica do IPA, Maviael Fonseca de Castro, que também participa do projeto.
“A mangabeira é indicada pelo Ministério do Meio Ambiente como uma das plantas do futuro porque tem uma demanda grande. No entanto, o Estado virou um grande centro importador de mangaba”, argumenta Maviael. As mangabeiras nativas de Pernambuco estavam em área litorânea e em municípios da Mata Norte. “A mangaba está se tornando uma fruta saudosista. Ninguém mais vê na feira. Essas árvores estavam nas áreas mais valorizadas do litoral pernambucano que viraram loteamentos e resorts. Também eram presentes numa parte da Mata Norte, incluindo Goiana e Itambé, que passou a produzir cana-de-açúcar na década de 70”, resume Josué. Ele acrescenta que a Embrapa também oferece capacitação para comunidades que desejem iniciar o plantio das mangabeiras.