Mesmo com o aumento contínuo do déficit exorbitante na Previdência Social, que em 2017 fechou em R$ 268,8 bilhões, os brasileiros não estão se planejando para a aposentadoria. De acordo com pesquisa da CNDL e SPC Brasil, 78% não se planeja financeiramente para este momento da vida, o equivalente a 104,7 milhões de adultos.
Para 47% dos entrevistados, o principal motivo é o orçamento apertado. Este é o caso do operador de máquinas Geraldo Gomes da Silva, 46 anos. “O dinheiro mal dá para suprir as necessidades em casa. Não tenho condições de me preocupar com a aposentadoria. O reajuste do salário é muito baixo, enquanto o valor de outras coisas subiram mais”, afirma o trabalhador, que contribui apenas para o INSS.
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Outro problema é o desemprego, que afeta 22% da população que não consegue poupar, de acordo com a pesquisa. Já 19% começou a guardar dinheiro, mas desistiu por problemas financeiro e 15% têm outros planos e prioridades, como comprar uma casa e estudar.
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, é preciso se preparar para o futuro incerto. “Estamos vivendo um período de transição, e mesmo com a Reforma da Previdência parada no Congresso no momento, é muito provável que as regras sejam alteradas num futuro próximo, já que o sistema previdenciário, hoje, corre o risco de entrar em colapso em pouco tempo. Em qualquer cenário, depender apenas do INSS não é recomendável”, alerta Kawauti.
Quem pensa que começar a poupar por conta própria e investir o dinheiro é muito complicado ou exige muito dinheiro pode ficar tranquilo. Há opções de investimento a partir de R$ 30,76, como títulos do Tesouro Direto IPCA+ 2045 (valor conferido em 27/04).
Antes de começar, é preciso ter em mente um objetivo fixo e disciplina para poupar todos os meses. O investidor deve estar atento a alguns fatores, como o prazo da aplicação, as taxas de administração e a liquidez (capacidade de resgate imediato do dinheiro). Se você tem como meta a aposentadoria, quanto mais tempo deixar o dinheiro rendendo e menor for a liquidez, maior será a rentabilidade. O primeiro passo é abrir uma conta em uma corretora de valores ou escolher as opções pelo banco.
No caso de investidores conservadores, que não querem se arriscar, a indicação é procurar por produtos de renda fixa. O investimento mais seguro é o Tesouro Direto. Quem compra este produto estará emprestando dinheiro ao governo. Os títulos vão render de acordo com o desempenho de indexadores como o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação, a taxa Selic, ou juros pré-fixados. O mais indicado para investimentos a longo prazo é apostar em títulos que protejam contra a inflação, como o IPCA+ 2035 ou IPCA+ 2045.
“No Brasil, mesmo com as taxas de juros caindo, ainda há papeis do Tesouro Direto que dão remuneração da inflação e de juros de aproximadamente 5,3%, como é o caso do IPCA+ 2035. Em 15 anos, é possível dobrar o capital”, explica o planejador financeiro certificado pela Planejar, Associação Brasileira de Planejadores Financeiros, Paulo Marostica.
Outras opções de renda fixa são CDBs, títulos emitidos por bancos, Letras de Crédito Agrícola (LCA) e Imobiliária (LCI) de longo prazo (voltados a captar recursos para investimentos nestas áreas), desde que tenham bons rendimentos. Estes produtos estão atrelados ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que se comporta de forma semelhante à taxa Selic. É possível encontrar produtos que rendem 130% do CDI. Quem deseja variedade pode investir em fundos de renda fixa, que reúnem vários produtos. É importante atentar às taxas de administração.
Já aos investidores com perfil moderado ou arrojado, mais dispostos a correr riscos, o personal financeiro Leandro Trajano recomenda fundos multimercados que operam diversos ativos, como títulos da renda fixa e moedas, ou outros produtos da renda variável.
Quem não consegue poupar voluntariamente pode aderir a uma previdência privada. Há duas opções: o Plano Gerador de Benefícios Livre (PGBL), que permite abater até 12% da renda bruta anual tributável; e o Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL), em que o Imposto de Renda só incide sobre o rendimento no momento do resgate. Nos dois modelos são cobradas taxas de administração e de carregamento. O primeiro é recomendado para quem declara Imposto de Renda completo; e o segundo para quem opta pelo modelo simplificado.
De toda forma, Leandro Trajano alerta que é preciso estudar para escolher o investimento que melhor se adeque ao seu perfil e aos seus desejos. “O planejamento depende da idade, mas mantendo uma carteira diversificada. O ideal é que quanto mais idade a pessoa tiver, mais conservadora ela seja”, explica.