Em uma semana, o dólar americano acumulou uma valorização de 1,58% em relação ao real. Entre a quinta-feira (19) e ontem (27), a moeda estadunidense foi dos R$ 3,39 aos R$ 3,46, com um pico de R$ 3,50 no período. A alta, embora pareça repentina, tem explicações, segundo analistas, em fatores externos - movidos pela política econômica dos Estados Unidos - e internos, como a indefinição do cenário eleitoral deste ano no Brasil.
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Com passagens aéreas compradas, a estudante de Direito Magda Barros, 35, tomou um suto quando chegou a uma casa de câmbio, na Zona Sul do Recife, para efetuar a compra de dólares. Objetivando seguir para o estado da Flórida, nos EUA, ela viu os custos da viagem de férias aumentarem em R$ 3 mil. “Estava programada para passar seis dias no exterior, alternando entre as cidades de Orlando, Miami e Júpiter. Por conta do aumento do custo, tive que cortar Miami da programação, além de excluir outros passeios. Mesmo assim, ainda vou pagar mais caro. Decidi comprar cerca de 4 mil dólares e, por eles, vou pagar pouco mais de R$ 9 mil”, desabafa.
De acordo com o professor de economia internacional da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ecio Costa, a variação do dólar deve se manter, em último caso, até meados de outubro. “No cenário internacional, tem toda uma expectativa em relação à divulgação do PIB americano. Espera-se um resultado de crescimento, que é bom para a economia deles, mas traz alguns aspectos complicados para o resto do mundo. A economia crescendo muito, alinhada com a expectativa de inflação subindo naquele país, faz com que o Banco Central dos EUA, o Federal Reserve System (FED) aumente a taxa de juros deles para conter esse crescimento. A alta recente do dólar é uma especulação, que pode ser consolidada com o resultado do PIB. A alta dos juros dos Estados Unidos, tirá dólares do Brasil porque os investidores voltam a aplicar no Tesouro norte-americano, que estará remunerando melhor”, diz ele.
A elevação do dólar impacta até mesmo a cotação de outras moedas. “Estou indo passar uma temporada na Europa, minha maior compra será de Libra Esterlina (moeda usada no Reino Unido). Venho acompanhando a cotação e percebi que está tudo seguindo o mesmo ritmo”, comenta a consultora de vendas, Maryanna Alba, 35. “O movimento de alta é geral, correlacionado. Quando há aumento do dólar, aumenta a libra e o euro. Há uma correlação por conta da taxa de juros dos EUA”, explica Ecio.
Exportação
Se para alguns o momento pode ser ruim, para quem exporta, como é o caso da representante do empresariado hortifrutigranjeiro do Vale do São Francisco, a Valexport, o momento é positivo. “Para nós, o dólar está no patamar ideal, que vem beneficiando o mercado. Esperamos que a variação continue entre R$ 3,20 e R$ 3,50, cotação que garante lucro das exportações e não nos traz prejuízos com a compra de insumos importados”, garante o gerente executivo, Tassio Lustosa. Entre 2016 e 2017, o volume de exportações de manga e uva para a Europa e Estados Unidos aumentou 16,46%. A cotação do dólar acima de R$ 3,20 traz, segundo Tassio, pelo menos 10% a mais nos ganhos.
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse nessa sexta-feira, em São Paulo, que a autoridade monetária está monitorando o comportamento do câmbio para evitar exageros. O extrapolamento dessa variação, ainda conforme Ecio Costa, poderia vir a afetar a atual política econômica brasileira, Gerando uma edução do corte da Taxa Básica de Juros (Selic) ou até mesmo uma elevação”.