Se o próximo presidente não alterar as regras da Previdência Social, as contas públicas não terão fôlego para suportar a mudança acelerada no perfil demográfico da população brasileira. É isso que afirmam especialistas consultados pelo JC sobre as estimativas populacionais divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que mostram um futuro com mais idosos e menos crianças.
Em 2060, a previsão é de que 25,5% da população terá mais de 65 anos. Nesse mesmo ano, haverá 67,2 indivíduos dependentes economicamente (com menos de 15 anos e acima dos 65 anos) para cada grupo de cem pessoas em idade de trabalhar (entre 15 e 64 anos).
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Em Pernambuco, a perspectiva é de que o número de idosos supere o número de jovens com idade entre zero e 14 anos na década de 2040. A taxa de envelhecimento no Estado (relação entre pessoas idosas e jovens sem idade para trabalhar) vai passar de 37,8% este ano para 171,2% em 2060.
“Não há mais como adiar a reforma da Previdência. As pessoas estão vivendo mais e, ao mesmo tempo, estão tendo menos filhos. Com isso, uma parcela menor da população vai arcar com a previdência. Se o próximo presidente da república, seja ele quem for, não fizer a reforma da Previdência, vai gerar uma crise econômica tão grande, que vai sofrer impeachment como Dilma”, alerta o professor da Fundação Getúlio Vargas Escola Brasileira de Economia e Finanças (EPGE), Renato Fragelli.
O tempo está voando. O número de brasileiros com 65 anos ou mais vai crescer a uma média de 2,7% ao ano até 2060, um ritmo muito superior ao avanço médio anual da população geral (0,2%), segundo cálculos do pesquisador Rogério Nagamine, coordenador de Previdência no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Com a redução da força ativa de trabalho, composta por pessoas que têm entre 15 anos e 64 anos, registrada já este ano e que vai se intensificar com o passar dos anos, não haverá quem sustente o deficitário regime previdenciário social, que registrou rombo de R$ 268 bilhões no ano passado.
“Hoje, há sete pessoas para financiar um idoso. Em 2040, haverá apenas duas pessoas e meia em idade de trabalho para cada pessoa com mais de 65 anos. Do jeito que as coisas estão desenhadas agora, a conta jamais fechar. Vai ser preciso diminuir o valor do benefício ou aumentar a taxa de contribuição. É preciso pensar na sustentabilidade do sistema o quanto antes. O próximo presidente, sem dúvida, vai ter que dar um jeito de desarmar essa bomba”, afirma a professora do Insper, Juliana Inhasz.
Em Pernambuco, a razão de dependência (soma da população dependente economicamente dividido pela população economicamente ativa) estimada pelo IBGE vai passar de 45,6% em 2018 para 65,3% em 2060. “Essa razão expressa o quanto a população vai ter trabalhar para sustentar a sociedade. Se há mais pessoas dependentes de quem trabalha, a razão da dependência aumenta. É isso que vai acontecer no futuro”, explica o demógrafo do IBGE, Marcelo Dantas.
IMPACTO
Com o rombo na previdência, o governo tem que realocar recursos de outras áreas para manter os benefícios dos segurados. Para que nenhum setor fique descoberto, se financia através da emissão de títulos de dívida. Investidores compram os títulos no mercado e injetam dinheiro no País. No futuro, serão remunerados com juros. No fim de 2017, o valor da dívida pública correspondia a 74% do Produto Interno Bruto (PIB). Ao mesmo tempo que parece fácil captar dinheiro, à medida que o governo ficar endividado, levanta desconfiança do mercado que não vai ter certeza se poderá ser pago.
Além do impacto nas contas públicas, o envelhecimento acelerado da população vai exigir dos governantes mudanças em políticas públicas. Mais investimento em asilos e sistemas de apoio ao idoso do que em creches, por exemplo. Até mesmo o valor de planos de saúde pode ser afetado, já que hoje pessoas mais saudáveis e jovens pagam um pouco a mais do que seria indicado e, em contrapartida, os beneficiários com 59 anos ou mais tem contraprestações menores do que o valor ideal.