Vinte anos depois de a favorita Hungria sucumbir na final da Copa de 1954, na Suíça, foi a vez de a Holanda repetir o filme no Mundial de 1974. A algoz que voltou a derrubar o maior candidato ao título foi a mesma que levou os húngaros às lágrimas: a Alemanha. Fria e eficiente como sempre, a seleção germânica parou o carrossel de Cruyff & cia na grande decisão no estádio Olímpico de Munique. A vitória por 2x1 consagrou o kaiser (imperador) Franz Beckenbauer como um dos maiores jogadores de todos os tempos. Já o Brasil, que defendia o tricampeonato conquistado há quatro anos do México, acabou em quarto lugar e não encantou. No primeiro Mundial sem Pelé, o escrete nacional jogou um futebol burocrático, mesmo contando com craques como Rivellino e Jairzinho.
A Copa de 1974 iniciava uma nova era. Como a Jules Rimet tinha ficado em definitivo com o Brasil (primeiro tricampeão), um novo troféu estava em disputa. Surgia então a Copa do Mundo Fifa, feita em ouro maciço e criada pelo escultor italiano Silvio Gazzaniga. A taça passaria a ser de posse transitória. A entidade máxima do futebol dava o start também nos contratos milionários para a transmissão dos jogos, uma bandeira do recém-empossado presidente João Havelange. Ainda no campo publicitário, uma situação curiosa envolveu justamente o craque da Copa. Cruyff era o único jogador a atuar com duas listras na camisa holandesa. Isso porque a seleção era patrocinada pela Adidas (três listras é sua marca registrada até hoje), mas Cruyff era garoto propaganda da Puma.
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Contudo, outras inovações provocadas pela Oranje seriam bem mais valorizadas, sobretudo pelos rivais, como registrou muito bem Mauro Beting no ótimo livro As Melhores Seleções Estrangeiras de Todos os Tempos. “O futebol deveria ser dividido assim: antes da Holanda e depois da Holanda”, sentenciou o zagueiro Perfumo (jogou pelo Cruzeiro), massacrado assim como seus companheiros de seleção argentina por 4x0.
A seleção de Rinus Michels era formada pelo Ajax (tri europeu em 1971/72/73) e pelo Feyenoord - vencedor da Champions em 1970. Os dois grupos, entretanto, não se batiam muito. Um grande mérito de Michels, na época já contratado pelo Barcelona, foi dar unidade à seleção às vésperas da Copa. Com isso, conseguiu implementar seu Futebol Total, baseado na constante mudança de posição dos jogadores. A base era o 4-3-3, mas com Cruyff voltando para armar o jogo, os pontas Rep e Resenbrink trocando de função com os alas Suurbier e Krol. E Neeskens, atuando como volante, meia e centroavante. E Cruyff, claro, o pulmão do time, preenchendo todos os setores do campo, mesmo sendo um fumante assíduo.
Na 1ª fase, a Holanda venceu Uruguai (2x0) e Bulgária (4x1). A Suécia segurou o 0x0. Na 2ª fase, também formada por grupos, os holandeses bateram a Argentina por 4x0 e a Alemanha Oriental por 2x0 antes do confronto contra o Brasil, que decidiria a vaga na final. A Canarinho tinha empatado com Iugoslávia e Escócia (ambos por 0x0) e vencido o Zaire por 3x0. Na 2ª fase, fez 1x0 na Alemanha Oriental e 2x1 na Argentina. Sem Pelé, que se aposentou da seleção em 1971, Zagallo vinha fortalecendo o sistema defensivo, que tinha Emerson Leão no gol e Luís Pereira na zaga.
O jogo entre o tricampeão e a sensação da Copa, no entanto, não foi um espetáculo. Na verdade, o duelo virou pancadaria. A Holanda parecia nervosa diante do Brasil, que tentava parar os europeus na força. No primeiro tempo, Leão fez uma defesa monumental em chute à queima-roupa de Cruyff. Mas na etapa complementar, venceu a melhor equipe. Com gols de Neeskens aos cinco e de Cruyff aos 20 minutos, a Holanda fez 2x0, mandou o Brasil de volta para casa e se classificou para a final.
ALEMANHA
Para chegar à decisão, os anfitriões suaram muito a camisa. Para começar, duas Alemanhas disputaram a Copa. Dividida após a Segunda Guerra Mundial, entraram em campo em 1974 a Alemanha Ocidental (capitalista) e a Alemanha Oriental (socialista). E quis o destino que elas se enfrentassem na última rodada do Grupo 1. E a vitória do lado oriental por 1x0 fez a Alemanha Ocidental avançar em segundo lugar e fugir na 2ª fase do grupo de Holanda, Brasil e Argentina. Beckenbauer & cia pegaram Polônia, Suécia e Iugoslávia. Alemães e poloneses venceram os dois primeiros jogos. A vaga na final seria decidida no confronto direto entre ambos. E com gol de Gerd Müller, os donos da casa venceram a boa seleção polonesa, do artilheiro Lato, por 1x0.
A grande decisão no estádio Olímpico de Munique começou com a Holanda abrindo 1x0 sem que a Alemanha tocasse na bola. Foram 17 passes trocados até Cruyff ser derrubado dentro da área por Hoeness. Pênalti. Neeskens abriu o placar. Porém, a Laranja Mecânica não conseguiu dominar a Alemanha. Os donos do casa empataram aos 25, com Breitner, também cobrando uma penalidade. A virada veio aos 43 minutos do primeiro tempo, com Gerd Müller. No segundo tempo, a Holanda tentou recuperar terreno. Porém, os passos de Cruyff era seguidos pelo lateral Vogts. Nas poucas jogadas de perigo criadas pelos holandeses, Sepp Maier - melhor goleiro da Copa -, evitou o empate. O carrossel emperrou na final. A Alemanha venceu por 2x1 e sagrou-se bicampeã mundial, desbancando mais um grande favorito.