Sede da próxima Copa do Mundo da FIFA, a Rússia possui uma forte ligação com o futebol. Observar o desenvolvimento do esporte no país é um excelente fio condutor para analisar a história e o contexto político e econômico russo e da União Soviética nos séculos XX e XXI. E é esse o assunto do livro "A história do futebol na União Soviética", escrito pelo jornalista pernambucano Emanuel Leite Jr. A obra, narrada no formato de uma grande reportagem, faz um passeio pela história da região, começando desde a formação do Rus de Kiev, reino que deu origem ao país, e terminando nos dias atuais, com a proximidade da realização da Copa do Mundo de 2018, abordando como a estrutura do esporte esteve ligada à política do país.
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Com certa popularidade desde a época do Império Russo, o futebol passou a ter um uso mais intensificado pelo poder central da União Soviética em 1936, quando ocorreu a primeira edição do Campeonato Soviético. A demora ocorreu pelo receio que os comunistas tinham com a natureza da modalidade. “Houve uma discussão, no alto comissariado, de como implementar o futebol no país. Os integrantes do partido comunista tinham um certo receio com o futebol, por conta da ótica comercialista, além de o enxergar como caráter despolitizador da massa operária. A solução que encontraram foi adotar uma espécie de amadorismo, com os clubes representando órgãos estatais. Os jogadores eram, em tese, amadores, mas tinham na prática a mesma preparação que atletas profissionais”, declarou o autor do livro.
Boa parte dos clubes que seguem entre os mais fortes no leste europeu são herdeiros dessa estrutura, como o CSKA de Moscou, ligado ao exército vermelho, além de outras equipes como o Dínamo de Moscou, ligado à polícia secreta da Rússia, e o Torpedo Moscou, ligado à indústria automotiva do país.
Outra marca da política dentro do futebol é o tratamento que os times das repúblicas soviéticas ganhavam de seus torcedores. Para os moradores fora de Moscou, torcer pelo clube de sua cidade era uma forma de se rebelar contra o poder central. Um forte exemplo é o Dínamo de Kiev, maior campeão soviético com 13 títulos, cujos torcedores gritavam contra o regime nas arquibancadas de seu estádio. Isso acontecia mesmo quando estes clubes também estavam ligados aos órgãos de estado ou aos comandos dos partidos comunistas de cada uma das repúblicas.
Seleção soviética também foi usada de maneira política
A seleção soviética também tinha um uso estratégico para o país. O selecionado era visto como uma forma de gerar uma identidade nacional para toda a região, unindo as diferentes repúblicas ao redor do time. No entanto, mesmo com o alto investimento, a equipe não correspondeu em campo. Seu melhor resultado em uma Copa do Mundo foi o quarto lugar de 1966. Os maiores títulos da equipe foram a Eurocopa de 1960 e as Olimpíadas de 1956 e 1988, beneficiada pela proibição de atletas profissionais da disputa dos jogos. “Os atletas eram considerados amadores mas tinham uma preparação profissional em seus clubes, então isso dava certa vantagem. Na Copa, quando enfrentavam atletas com uma preparação semelhante, eles não tinham os mesmos resultados”, afirmou.
De acordo com o autor, a proposta do livro é analisar o futebol numa perspectiva fora das quatro linhas e mostrar sua importância dentro do cenário econômico e geopolítico do mundo. “No período da União Soviética, o futebol foi utilizado com o intuito de se mostrar ideologicamente superior, principalmente no contexto da Guerra Fria. Atualmente, com a Copa do Mundo na Rússia, o objetivo é diferente, com a Rússia tentando promover uma nova imagem no cenário da geopolítica global”, declarou. Lançado num período entre os 100 anos da Revolução Russa e a abertura do mundial, o livro está sendo vendido no site da Editora Multifoco, que pode ser acessado clicando aqui.
Serviço
Livro - “A história do futebol na União Soviética”
Autor: Emanuel Leite Jr.
Editora: Multifoco
Páginas: 142
ISBN: 978-85-5996-774-6
Preço: R$ 45,00
