Relatos

'Clássico na Ilha, nunca mais', diz torcedora do Santa Cruz após confusão

Outros tricolores comentaram sobre a confusão vivida na Ilha do Retiro não só no momento do gol tricolor

Vinícius Barros
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Vinícius Barros
Publicado em 09/03/2018 às 7:46
Foto Diego Nigro/JC Imagem
FOTO: Foto Diego Nigro/JC Imagem
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Primeira e última vez. Foi com esse pensamento que a estudante Laís Amorim, de 26 anos, saiu da Ilha do Retiro após o empate entre Sport e Santa Cruz, marcado pela confusão no final do primeiro tempo. Tricolor, a jovem decidiu ir com uma amiga pela primeira vez ao estádio do rival e não tem vontade de voltar pelo medo de reviver as cenas da noite dessa quarta.

"Em campo eu vou voltar a ir sim, mas para clássico na Ilha nunca mais. Foi desesperador", contou.

Entre as experiências vividas, ela descreveu a agonia causada depois que o spray de pimenta foi lançado contra a torcida."Todo mundo tentando correr, várias mulheres chorando, uma agonia. A garganta queimando, os olhos ardendo, pessoas feridas. E quando a gente queria correr mais para cima, a polícia não deixava passar. A todo momento fiquei me perguntando porque eu fui naquele jogo. Foi aterrorizante", destacou.

A vendedora Daniela Oliveira, 20 anos, também tem muito do que se queixar após o clássico das Multidões. Ela foi esmagada pela avalanche formada na hora do gol tricolor e sofreu escoriações no joelho. "Fui uma das pessoas que amorteceu a queda dos outros. Estava sentada no primeiro degrau da arquibancada quando aconteceu o tumulto e eu tentei correr já que estava caindo todo mundo. Mas não deu certo, acabei sendo uma das primeiras a ser amassada pela torcida dando um jeito no joelho", detalhou.

A agonia da jovem foi acompanhada pelo amigo Jhonny Lucas Guimarães, de 24 anos. Para ele, a angústia começou antes bem antes da bola rolar.

"Foi um absurdo do início ao fim. Desde que descemos do carro, os policiais já estavam tratando o torcedor com truculência, ofendendo. No estádio, isso se manifestou. No princípio da confusão, causado pelo torcedor com sinalizador, a polícia foi para perto do placar, desceu empurrando todo mundo e, na correria, a estratégia escolhida por eles foi usar spray de pimenta. Estava no meio, consegui me segurar, mas o desespero foi total. Quando as pessoas machucadas pediram socorro, a polícia não abriu os portões e soltou o spray, o que dobrou a confusão. Eu, inclusive, tenho asma e fiquei sem ar. Depois veio o ápice do exagero com as balas de borracha. Quem estava em condições de brigar por algo, começou a bater no portão", descreveu.

Ele criticou ainda a organização do espaço destinado aos tricolores, muito pequeno na visão dele. "Na organização do estádio colocaram caveletes com pedaços de pau soltos que se tornaram armas e uma cerca de ferro com as pontas apontadas para a torcida", relatou.

Já o estudante de engenharia Felipe Lins, de 22 anos, contou que a confusão se explica em vários momentos, passando pela truculência na chegada da torcida visitante e pela falta de uma revista bem feita. "No portão da Ilha você consegue colocar o dobro de catracas facilmente é só ter boa vontade. Mas foram só quatro catracas e teve gente invadindo que com certeza não foi revistada. É tanto que a revista falhou que um rapaz entrou com sinalizador", contou.

Lins comentou inclusive ter visto o artefato durante a partida. "O sinalizador não passou nem 30 segundos aceso. Quando a polícia chegou, já estava apagado há muito tempo, então qual era a necessidade de chegar daquele jeito?", disse e argumentou que a intervenção da PM poderia ter sido feita no intervalo.

Em coletiva nesta quinta, a Polícia Militar informou que o sinalizador ainda não havia sido encontrado.

Foto Diego Nigro/JC Imagem
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Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Pós-jogo

A volta para casa depois do apito final também não foi nada amistosa, de acordo com Jhonny Lucas. "Na saída, todo mundo tinha que levantar
as mãos e eu me recusei porque achei degradante. Do meu lado tinha um rapaz negro com a mão levantada e levou uma tapa no rosto e eu, que estava contrariando a ordem dos policiais, não apanhei. Ou seja, eles têm aquele velho preconceito", relatou o tricolor.

A versão dele foi contada também por Felipe Lins.

"Existe essa cultura de que quem vai para jogo é marginal. Esse argumento de que a Polícia agiu porque a torcida agiu primeiro, é ilógico. Na saída, foi corrido. Eles querendo nos acertar e a gente querendo andar, amigos meus passaram com a mão levantada e o policial batendo com cacetete dizendo que estava muito devagar. Se tiver rápido ou lento eles batem, isso não é tratamento para ser humano nenhum", reclamou.

Apesar do temor vivido no último jogo, ambos não vão desistir de acompanhar o Santa Cruz em campo. "Tanto em casa quanto na ilha vou continuar indo. Fico receoso só de levar a família, mas sigo disposto a acompanhar meu clube", disse Jhonny Lucas. "Jamais, eu sou da resistência assim como tantos outros que seguem indo para o estádio mesmo com tudo isso", ressaltou Felipe Lins.

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