Dedicação

Jogadora do Sport personifica a luta das mulheres para se firmarem no futebol

Lindinalva Silva, a "Pintinho", atuou nos principais clubes do Estado, enfrentando grandes dificuldades

Luana Ponsoni
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Luana Ponsoni
Publicado em 08/03/2017 às 7:42
Williams Aguiar/Sport Club do Recife
Lindinalva Silva, a "Pintinho", atuou nos principais clubes do Estado, enfrentando grandes dificuldades - FOTO: Williams Aguiar/Sport Club do Recife
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Ela nasceu Lindinalva Maria da Silva, mas foi rebatizada de Pintinho pelo futebol. Não à toa. O porte físico franzino, em que os atuais 49kg são distribuídos em 1,54m, determinou o apelido da lateral do Sport. Mas a fragilidade é aparente e acaba por aí. Aos 28 anos, a jogadora celebra o fato de estar atuando com carteira assinada pela primeira vez, em 12 anos de carreira. Antes enfrentou situações improváveis em nome do amor pelo esporte. No Leão, ela não é apenas a ambidestra habilidosa que coloca a bola aonde quer nos cruzamentos. Pintinho é também a personificação da realidade que a modalidade enfrenta no Brasil. Sem grandes investimentos e entregue ao descaso em muitos estados, vive da paixão das atletas e técnicos abnegados. Por vezes, ainda conseguindo proporcionar finais felizes, como o da jogadora do Leão.

Nascida em uma casa com sete irmãos, Pintinho sempre teve uma atração natural pela bola. Todas as vezes em que revisita o passado, as imagens das partidas que disputava com os homens da casa, no Cabo de Santo Agostinho, reaparecem. “Na época, a vizinhança me chamava de ‘Joãozinho’, mas eu nem ligava, deixava para lá. Hoje, não, muitos gostam de saber que eu jogo no Sport. Quando eu jogava pelo Santa, até um vizinho que é tricolor veio ver um jogo meu”, contou.

COMEÇO

Foi no clube coral que a lateral começou a trabalhar, em 2005, a habilidade com a bola nos pés. Os primeiros chutes foram no futsal, mas não demorou muito até ela migrar para os gramados. “Na época, eu não tinha ambição, só queria jogar bola”, relembrou. Por essa razão, não havia motivo que a fizesse perder os dois únicos treinos semanais. “Eu não tinha condições. Saía só com a passagem de ida. Acordava correndo, comia um pão qualquer e pegava o ônibus. O treino acabava por volta de meio-dia. Aí eu ficava lá (no Arruda), até 22h, esperando o técnico conseguir com alguém o dinheiro da passagem de volta. Demorava, mas ele conseguia”, relembrou.

Na época, Pintinho pesava apenas 37kg. Quando a situação estava mais favorável, ela almoçava um cachorro-quente após os treinos. Nos dias de maior aperto, porém, a refeição era um saco de pipoca. “Eu ficava sem comer até voltar para casa. Às vezes, chegava aos 40kg. Não passava disso”, contou.

 

Foto: Williams Aguiar/Sport Club do Recife

Com apenas 49kg, Pintinho chegou a pesar 37kg no início da carreira

 

Foi treinando com a equipe coral no campo do Bueirão, na Torre, que Pintinho passou um dos maiores sustos de sua vida. “Estávamos fazendo uma atividade em campo reduzido quando ladrões entraram atirando. Levaram as nossas bolsas. Eu tenho dificuldade de lembrar de algumas coisas, mas desse dia eu não esqueço nunca”, relembrou.

Depois a jogadora passou a vestir as cores do Sport. No Leão, ajudou o grupo a conquistar o inédito vice-campeonato na Copa do Brasil de 2008. Permaneceu no clube até 2014, quando o então presidente João Humberto Martorelli surpreendeu ao pôr fim na equipe feminina.

Para não ficar parada, Pintinho se uniu a outras jogadoras e atuou pelo Náutico no Campeonato Pernambucano de 2015. Depois foi para o Vitória, onde ajudou o grupo a avançar às quartas de final da Copa do Brasil, dando uma pausa na carreira logo em seguida.

Bolsista de Educação Física da Uninassau, a jogadora passou por dificuldade com as passagens para ir às aulas sem a ajuda de custo do futebol. “Tenho 28 anos e nunca tinha tido a carteira assinada. Já pensava em largar o futebol quando me chamaram para integrar o novo projeto do Sport. Foi ótimo, consegui as passagens para a faculdade e o reconhecimento profissional. Nada se compara ao que o Sport está fazendo. Acho que isso só no Santos. Espero que essa iniciativa inspire outros clubes. Que as meninas mais novas não precisem passar pelo o que eu passei até aqui”, vislumbrou.


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