A bordo do Aventureiro 3, a reportagem do Jornal do Commercio participou da Regata Recife-Fernando de Noronha como tripulante convidado. Fazendo a travessia de 545 km entre a capital pernambucana e o arquipélago em pouco mais de 35 horas. Entre sol, sal e o conforto de um catamarã de 44 pés, com direito a refeições completas. De frutas no café da manhã a salmão no almoço.
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Ao contrário dos monocascos, quando a instabilidade restringe o ir e vir de qualquer tripulante, pode-se dizer que disputar a Refeno num catamarã como o Aventureiro 3 é viajar na primeira classe dos veleiros oceânicos.
Há o balanço natural de qualquer barco a vela, claro. Podendo dar náuseas e enjoos. Mas a preparação, com remédios e alimentação balanceada, evitou o tradicional desconforto. Verdade que ficar em pé sem estar se segurando é quase impossível. Dormir por longo período, também. Especialmente para quem tem sono leve, que não suporta o batido das ondas ou o chacoalhar do mar. Mas se desligar de tudo por dois dias, sem celular ou TV, apreciando o amanhecer do dia e o pôr do sol de dentro do mar, compensa. E como.
Principalmente se for num veleiro com cozinha equipada com forno, fogão, geladeira e freezer. Com três quartos com suíte. Água quente, ar-condicionado, mesas para jantar. E todo equipamento de segurança e navegação. Dos mais modernos. A ponto de haver uma troca de vela, por conta da quebra de um cabo, às duas horas da manhã, levando apenas 15 minutos o conserto. No meio de nada.
O incidente fez o veleiro perder velocidade. A mudança de uma vela de 75 m² por uma de 45m² retardou a chegada a Noronha em duas horas. Tirando a possibilidade de o Aventureiro 3 chegar entre os sete primeiros no geral. Embora tenha terminado na primeira colocação, em sua classe, com o tempo corrigido. Mas a quebra tirou um pouco da pressão pela busca do melhor tempo. O piloto automático ficou mais tempo ligado, a tripulação relaxou um pouco mais. E o repórter convidado pôde dormir bem mais.
Tendo mais tranquilidade para apreciar a vista, a boa conversa, entender um pouco sobre navegação. E curtir a natureza. Com direito a ter a companhia de golfinhos durante alguns minutos. Ou observar peixes-voadores. Daqueles que você só acredita vendo. E água. Muita água.
Uma vez ou outra, outros barcos surgiam no horizonte. Uns se aproximavam. Outros se afastavam. Deixando a dúvida sobre quem estava indo na direção certa. E logo o GPS mostrava que todos estavam corretos Só tendo estratégias diferentes.
A comunicação constantes entre veleiros e marinha também ajudava na orientação. Consequentemente, na segurança. Mesmo com relatos de outras embarcações de quebra de lemes. Ou de veleiros que não respondiam chamados há mais de 24h.
Alívio também na chegada. Embora o cruzar da linha de chegada tenha sido no início da madrugada, deu para contemplar a beleza do arquipélago. No começo, aquela porção de terra no meio do mar era apenas um vulto. E foi tomando seu contorno conhecido mundialmente. O morro dos Dois Irmãos, o Pico do Dedo. A luz da lua ajudava. E, finalmente, o Porto de Santo Antônio.
CHEGADA E CARDÁPIO
A buzina tradicional que dispara a cada chegada de barcos soava como música. A viagem foi legal. Mas chegar é sempre melhor. Hora de comemorar. Abrir uma champanhe que estava gelando desde a largada. Um brinde seguido de canapés, patês variados. Deliciosos. Nada de muito diferente do servido pela chef Karina, esposa do capitão Hans, durante a viagem. Filé de porco, salada de salmão, sanduíches, frutas, sopa, pizza. Teve de tudo. Do bom e do melhor. Bem diferente de velejadores em embarcações menores, que sofreram com barrinhas de cereais e uma ou outra maça ou banana. Com vômitos regulares e sem poder ficar em pé. Mas esta é uma experiência que vou ficar devendo. Talvez para sempre.