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Cientistas políticos: intervenção no Rio é jogada eleitoral de Temer

Sem conseguir aprovar reforma, Temer aposta tudo na intervenção, dizem cientistas

Margarette Andrea
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Margarette Andrea
Publicado em 25/02/2018 às 8:05
Fátima Meira/Estadão Conteúdo
Sem conseguir aprovar reforma, Temer aposta tudo na intervenção, dizem cientistas - FOTO: Fátima Meira/Estadão Conteúdo
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Apoiada em peso pelas bancadas pernambucanas na Câmara e no Senado – entre os que votaram, somente o senador Humberto Costa (PT) foi contrário – a intervenção no Rio é vista também como uma jogada política, não apenas como medida para restabelecer a ordem pública. Cientistas políticos avaliam que, sem conseguir aprovar a reforma da Previdência, o presidente Michel Temer decidiu apostar as fichas na segurança pública, na tentativa de se eleger. O marqueteiro do governo Elsinho Mouco reconheceu que seria “uma grande chance”.

O cientista político Túlio Velho Barreto, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), entende que Temer se apossou do discurso do pré-candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro, em segundo lugar nas pesquisas, e que os governantes podem ver a intervenção como “o Plano Real” do atual presidente. Duvida do sucesso da medida, mas diz que ela será o centro do debate eleitoral em 2018 e seu provável insucesso deve ser capitalizado pela oposição.

“É um precedente perigoso que pode levar a outras intervenções em Estados onde a criminalidade e a violência imperam”, observa, citando Pernambuco e Ceará. “E, com outras medidas adotadas (como o mandato coletivo de busca e apreensão), é típica de um Estado de exceção, e não de um Estado democrático de direito.”

SUPRAPARTIDÁRIA

Já o professor e cientista político Antônio Henrique Lucena entende que a medida é suprapartidária. “Não colocaria no debate essa questão de direita e esquerda. Parte dessa argumentação está superada. Há muito tempo era preciso operacionalizar alguma coisa devido à gravidade do que vem acontecendo no Rio, não se fazia esse movimento por causa dos arranjos políticos. Como Temer é um presidente de popularidade baixa, resolveu deflagrar a operação, pedida reiteradas vezes pelo governo e aprovada pela população”, avalia. Pesquisa do Ibope aponta aprovação de 84%.

Lucena afirma que é cedo para avaliar o impacto da medida nas eleições, sobretudo estaduais. Diz que, se ela der certo, aumenta o capital político de Temer, mas não acredita que o viabilizaria politicamente. “Teria que acontecer muita coisa boa, sua situação é muito difícil”, observa. “Mas acredito que a intervenção pode funcionar, assim como a criação do Ministério da Segurança Pública, que já deveria existir há uns 15 anos, para unificar políticas, objetivos, metas de segurança.”

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