A greve dos caminhoneiros contra o aumento dos preços do diesel começou a perder força nesta terça-feira (29), após oito dias de bloqueios que paralisaram o país e abalaram o governo já impopular de Michel Temer.
Com menos protestos de caminhoneiros nas rodovias e uma maior saída de combustível das refinarias, os serviços de ônibus e o transporte de carga começaram a retornar lentamente à normalidade, apesar de ainda haver um grande número de bloqueios.
As discrepâncias entre os sindicatos de caminhoneiros mantinham viva esta paralisação que golpeou o governo Temer, que, no domingo, cedeu a grande parte de suas reivindicações com a economia à beira do colapso.
No Rio de Janeiro, onde quase todos os postos ficaram fechados por vários dias, alguns fornecimentos de diesel começaram a ser feitos. Centenas de caminhões com alimentos entraram na cidade, onde muitos supermercados ficaram sem produtos frescos. Cerca de 150 caminhões chegaram escoltados pelo Exército à Ceasa, o centro de abastecimento que fica na zona norte da cidade.
"A situação ainda é crítica. Não tem muita mercadoria e também está mais cara. Vai ser devagar", disse à AFP Betinho Rodrigues, um comerciante que comprava tomates para revender.
As escolas públicas do Rio, que permaneceram fechadas na segunda-feira, retomaram as aulas, e o serviço de ônibus estava com 100% da frota, contra os 40% da véspera.
Em São Paulo, o grande terminal de petróleo de Ribeirão Preto, no interior do estado, voltou a operar depois que os caminhoneiros suspenderam o bloqueio. Os postos começavam a ser reabastecidos enquanto formavam-se longas filas de carros aguardando a sua vez.
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Incerteza
Apesar desses avanços, o transporte continuava paralisado em grande parte do país, afetando sua importante indústria agropecuária e tornando os deslocamentos cotidianos em um pesadelo para milhões de pessoas.
Dez aeroportos continuavam sem combustível para a aviação, segundo a Infraero.
A greve prolongada não foi totalmente encerrada, apesar de o presidente Michel Temer ter cedido aos caminhoneiros no domingo, anunciando uma redução de 46 centavos por litro de diesel durante 60 dias, entre outras medidas.
Diante da persistência de centenas de bloqueios, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, denunciou na segunda-feira a presença de pessoas que "se infiltraram no movimento com objetivo político".
A crise complica ainda mais o panorama das eleições de outubro, nas quais nenhum candidato inclinado às políticas de ajuste fiscal do governo aparece entre os favoritos.
Impactos
Os protestos contra o aumento dos preços do diesel impactaram todos os setores de um país que carece de uma grande rede ferroviária e onde 60% do transporte de mercadorias é feito com caminhões.
Foram afetados o fornecimento de combustível e alimentos, o envio de medicamentos para hospitais e de rações para as explorações agropecuárias e os criadouros, onde milhões de aves morreram nos últimos dias.
A Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB) estimou que, como resultado da paralisação, deixaram de exportar um bilhão de dólares em produtos.
As ações da Petrobras subiam 10% na na Bovespa, recuperando parte do terreno perdido na véspera, quando despencaram 14% diante das concessões feitas pelo governo federal aos caminhoneiros em greve.
Mesmo com esses ganhos, a Petrobras registra perdas de mais de 20% desde o início da semana passada, quando começou o movimento de caminhoneiros contra sua política de preços.
Segundo analistas, a recuperação desta terça-feira se deve em parte às garantias do governo de que compensará as perdas que os cortes de preços acordados com os grevistas poderão gerar à Petrobras.
O impacto dos novos subsídios para ajudar a Petrobras a manter suas margens será de 9,5 bilhões de reais, que podem comprometer as metas fiscais e a credibilidade do governo.
Nesta terça, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, afirmou que o Executivo não contempla subir outros impostos para compensar a redução do diesel.
Completando o quadro, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) convocou uma greve de 72 horas a partir de quarta-feira exigindo a redução dos preços do gás de cozinha e combustível, o fim das políticas de transferência de ativos da empresa para empresas estrangeiras e a renúncia do presidente da Petrobras, Pedro Parente, "que com o apoio do governo de Michel Temer mergulhou o país em uma crise sem precedentes", afirmaram.