Conflito

Síria: Assad rejeita trégua em Wadi Barada e exclui negociar sua saída

Ausência de trégua ameaça o cessar-fogo patrocinado pela Rússia e Turquia em todo o território da Síria

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Publicado em 09/01/2017 às 13:31
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Ausência de trégua ameaça o cessar-fogo patrocinado pela Rússia e Turquia em todo o território da Síria - FOTO: HO / SANA / AFP
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O presidente sírio, Bashar al-Assad, descartou qualquer cessar-fogo na região de Wadi Barada, que alimenta Damasco com água potável, e voltou a negar que a sua saída seja discutida durante as negociações previstas para o fim de janeiro no Cazaquistão.

Depois de recuperar a cidade de Aleppo, as tropas do regime e o Hezbollah xiita libanês conduzem uma ofensiva para expulsar os rebeldes da cidade de Wadi Barada, a 15 km de Damasco, e assim tomar as principais fontes de abastecimento de água para a capital.

Os combates ameaçam o cessar-fogo patrocinado pela Rússia e Turquia, que entrou em vigor em 30 de dezembro e que deve ser um prelúdio para as negociações de paz previstas para o final de janeiro, em Astana.

"O papel do exército sírio é libertar essa área para evitar que os terroristas usem (a arma) da água para sufocar a capital", disse em uma entrevista à imprensa francesa.

De acordo com Assad, o cessar-fogo "é violado porque os terroristas ocupam a principal fonte de água de Damasco, privando mais de cinco milhões de civis de água potável há três semanas".

Além disso, "o cessar-fogo não inclui o grupo Estado Islâmico (EI) ou a Frente Al-Nusra, e a região (de Wadi Barada) onde a luta está ocorrendo é ocupada pela Al-Nusra". "Portanto, não é parte do acordo de cessar-fogo", disse ele.

A Frente Al-Nusra foi rebatizada de Fatah al-Sham após se distanciar da Al-Qaeda.

Nesta segunda-feira, intensos combates em várias frentes em Wadi Barada opunham as forças do regime e combatentes do Hezbollah aos rebeldes, com uma minoria de combatentes da Fatah al-Sham, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).

O regime realizou no domingo uma dezena de ataques e bombardeios de artilharia após o fracasso das negociações para o reparo da estação de abastecimento de água de Ain al-Fijé, segundo a mesma fonte.

O governo sírio acusa os rebeldes de "contaminar com diesel" as reservas de água, o que os insurgentes negam, garantindo que a infraestrutura foi destruída pelos bombardeios do regime.

Referendo

Com sua vitória em Aleppo, conquistada com a ajuda dos russos e iranianos em 22 de dezembro, Assad excluiu a possibilidade de se discutir em Astana a sua partida, reivindicada pela oposição desde o início da revolta, em 2011.

"Estamos prontos para negociar tudo", disse ele. Mas "o meu status depende da Constituição e esta última é muito clara sobre a maneira como devemos eleger ou se livrar de um presidente", disse.

"Então, se eles (a oposição) querem negociar a partir desse ponto, devem discutir a Constituição, e isso não cabe nem ao presidente, nem ao governo, nem à oposição, mas ao povo sírio e, portanto, deve haver um referendo", ressaltou.

As negociações de Astana devem tentar acabar com a guerra civil que deixou mais de 310.000 mortos e milhões de refugiados desde 2011.

Para a negociadora da oposição Basma Kodmani, "os russos estão, neste momento, sérios e determinados. Eles querem sair do conflito, eles optaram pela opção militar, e foram tão longe que é de seu interesse sair".

"Eles não podem obter uma vitória total, que duraria anos (...) Então, agora eles querem uma solução política e que esta reunião em Astana seja credível", disse ela à AFP.

Neste conflito extremamente complexo, que envolve uma multiplicidade de atores internacionais e regionais, grupos rebeldes e jihadistas, a coalizão liderada pelos Estados Unidos matou no domingo 25 extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) em uma rara operação em terra no leste da Síria.

De acordo com o OSDH, 14 destes extremistas foram mortos a bordo de um veículo atingido pelas forças especiais e outros 11 em um ataque contra uma estação de água controlada pelo EI na aldeia de al-Koubar, onde fortes combates acontecem.

A coalizão lidera desde o verão de 2014 ataques aéreos contra o EI no Iraque e na Síria, mas raramente realiza operações terrestres.

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