A chanceler alemã, Angela Merkel, condenou neste domingo as restrições à imigração impostas pelo presidente americano Donald Trump, que considera injustificáveis, assim como outros líderes ao redor do mundo.
"Está convencida de que mesmo na necessária batalha contra o terrorismo não se justifica colocar pessoas de certa origem ou crença sob suspeita geral", afirmou o porta-voz Steffen Seibert, citado pela agência nacional DPA.
"A chanceler lamenta a proibição de entrada (nos Estados Unidos) imposta pelo governo americano contra refugiados e cidadãos de alguns países", completou Steffen Seibert.
O governo alemão "analisará agora as consequências" desta proibição para os cidadãos alemães com dupla nacionalidade afetados por estas medidas americanas", explicou.
A condenação acontece um dia depois da primeira conversa telefônica entre Trump e Merkel. Os comunicados publicados nos Estados Unidos e na Alemanha após a ligação não mencionaram as novas restrições à imigração em território americano.
"A Convenção de Genebra sobre os refugiados pede à comunidade internacional que receba as pessoas que fogem da guerra com uma base humanitária" e a chanceler destacou isto durante a conversa telefônica com Donald Trump", destacou o porta-voz.
O decreto americano sobre a "proteção da nação contra a entrada de terroristas estrangeiros nos Estados Unidos", que entrou em vigor na sexta-feira, proíbe por 90 dias o ingresso no país de cidadãos do Iraque, Irã, Iêmen, Líbia, Síria, Sudão e Somália.
No sábado, em uma resposta à medida e confusão provocada pelo decreto, o Canadá, vizinho dos Estados Unidos, adotou uma postura radicalmente contrária a de Trump.
No Twitter, o primeiro-ministro Justin Trudeau enviou uma mensagem "aos que fogem da perseguição, do terror e da guerra" para informar que o "Canadá os receberá independentemente de sua fé".
Também no sábado, o presidente francês, François Hollande, pediu a Trump que "respeite o princípio da recepção de refugiados".
O primeiro-ministro belga, Charles Michel, também afirmou que discorda da medida. Na Holanda, o chanceler Bert Koenders afirma em um comunicado que é "importante que o decreto não resulte em discriminações".
O ministro das Relações Exteriores da Suíça, Didier Burkhalter, afirmou que seu país "sempre foi contrário à discriminação de seres humanos por sua religião ou sua origem" e que o decreto "vai claramente no caminho errado".
A opinião contrária veio do presidente tcheco, Milos Zeman, para quem o governo Trump "protege seu país".
Grã-Bretanha discorda das restrições
Algumas horas antes, a primeira-ministra britânica Theresa May afirmou "discordar" das restrições migratórias impostas por Trump.
"A política migratória dos Estados Unidos é um assunto do governo dos Estados Unidos, do mesmo modo que a nossa é determinada por nosso governo. Mas estamos em desacordo com esta forma de encará-la", disse um porta-voz de Downing Street.
"Se tiver um impacto para cidadãos do Reino Unido, vamos a intervir ante o governo americano", completou.
Trump, que recebeu Theresa May na sexta-feira na Casa Branca, assinou pouco depois do encontro o decreto que suspende a entrada de refugiados nos Estados Unidos e afeta os cidadãos dos países já mencionados.
No sábado, May provocou polêmica em seu país ao se recusar a condenar a medida quando foi questionada a respeito em uma entrevista durante uma visita à Turquia. Ela afirmou que Washington era livre para determinar sua própria política em termos de refugiados.
Um parlamentar britânico Nadhim Zahawi, do Partido Conservador, o mesmo de Theresa May, revelou no sábado que sob as regras impostas por Trump não pode entrar nos Estados Unidos.
O deputado de origem iraquiana escreveu no Twitter que teve a confirmação de que o decreto é aplicado a ele e sua esposa, ambos nascidos no Iraque, apesar de seus passaportes britânicos.
"É muito triste sentir-se cidadão de segunda classe. Um dia triste para os Estados Unidos", escreveu.
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O envolvimento de cidadãos britânicos aumentou a pressão de integrantes do Partido Conservador, que pediram a condenação à iniciativa de Trump, ofuscando a lua de mel iniciada com a visita a Washington.
Presente para extremistas
A decisão de Donald Trump foi chamada de "grande presente para os extremistas", afirmou neste domingo o chanceler iraniano, Mohamad Javad Zarif.
O decreto "entrará para a história como um grande presente para os extremistas e seus protetores", escreveu no Twitter.
No sábado, o Irã, um dos países afetados, decidiu aplicar o princípio de reciprocidade.
"Esta discriminação coletiva ajuda os terroristas a recrutar, ampliando a fratura iniciada pelos demagogos extremistas", completou Zarif, que defendeu o diálogo e a cooperação da comunidade internacional para "atacar as raízes da violência e do extremismo", sobretudo no Oriente Médio.
O ministério das Relações Exteriores da Indonésia, país de 255 milhões de habitantes e onde 85% da população se declara muçulmana, lamentou "profundamente" a decisão americana.
Apesar de não figurar na lista de sete países afetados pelo decreto, a Indonésia "lamenta profundamente porque considera que afetará o combate global contra o terrorismo" e se traduzirá em "uma gestão negativa dos refugiados", disse o porta-voz do ministério, Arrmanatha Nasir.
"É ruim vincular radicalização e terrorismo com uma religião em particular", completou.
O governo do Sudão lamentou que a decisão aconteça após a retirada das sanções econômicas americanas em 13 de janeiro.
No Iêmen, país em guerra, o governo dirigido pelos rebeldes xiitas huthis em Sanaa, não reconhecido pela comunidade internacional, denunciou o decreto como "ilegal e ilegítimo".
No Iraque, a Comissão de Assuntos Exteriores do Parlamento pediu a reciprocidade com todas as medidas dos Estados Unidos.