FOTOJORNALISMO

Foto de assassinato de embaixador russo vence o World Press Photo

Membro do júri do World Press Photo classificou a fotografia de Burhan Ozbilici como ''imagem explosiva que realmente reflete o ódio de nossa época''

JC Online e AFP
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JC Online e AFP
Publicado em 13/02/2017 às 9:26
Foto: Burhan Ozbilici/AP
Membro do júri do World Press Photo classificou a fotografia de Burhan Ozbilici como ''imagem explosiva que realmente reflete o ódio de nossa época'' - FOTO: Foto: Burhan Ozbilici/AP
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A fotografia de Burhan Ozbilici, que mostra a expressão do assassino do embaixador russo na Turquia no momento seguinte ao crime, em dezembro do ano passado, venceu a 60ª edição do World Press Photo, um dos prêmios de maior prestígio do fotojornalismo, nesta segunda-feira (13).

O fotógrafo da Associated Press relatou à agência que estava com medo, mas tinha que desempenhar seu papel. ''Eu estava, é claro, com medo da ameaça e sabia do perigo se o atirador se virasse para mim. Mas eu avancei um pouco e fotografei o homem enquanto ele intimidava seu desesperado público''.

Foto: Jeroen Jumelet/AFP

''Eu pensei assim: Estou aqui. Mesmo que eu seja ferido ou morto, eu sou um jornalista. Eu tenho que fazer o meu trabalho. Eu poderia fugir sem tirar nenhuma foto...Mas eu não teria uma resposta adequada para quando as pessoas me perguntassem depois; 'Por que você não tirou nenhuma foto?'', explicou o profissional.

Ozbilici também declarou à AFP que a imagem "marcou um momento importante na história da Turquia".

O editor de fotografia do Jornal do Commercio, Arnaldo Carvalho, listou os motivos pelos quais a foto de Burhan Ozbilici foi premiada. "O ângulo, a lente, o tema, o clique no momento exato, a proximidade necessária com o assunto colocando o espectador dentro da cena, e a sua coragem possibilitaram ao fotógrafo turco entrar para a história da fotografia mundial. Uma luz limpa, ação, um grito de vingança, o perigo eminente de se tornar também uma vítima;  foram fundamentais para que a comissão julgadora elegesse esta foto com a melhor foto do ano", explicou.

World Press Photo recebeu inscrições de mais de 5 mil fotógrafos 

Mais de 5.000 fotógrafos de 125 países enviaram cerca de 80.000 imagens para o júri. Entre eles, 45 foram premiados em oito categorias diferentes. "Foi uma decisão muito, muito difícil, mas no final, sentimos que a imagem do ano era uma imagem explosiva que realmente reflete o ódio de nossa época", explicou Mary F. Calvert, membro do júri, citado em um comunicado.

Assassinato do embaixador russo na Turquia

Antes de atirar, Mevlut Mert Altintas, um policial turco de 22 anos, se colocou discretamente atrás do embaixador durante a inauguração de uma exposição de fotos, como se fosse um guarda-costas. Segundo várias testemunhas, ele atirou nas costas de Andrei Karlov.

Em meio ao pânico das pessoas na galeria de arte, o policial permaneceu tranquilo, completamente indiferente aos gritos, e revelou que agia para vingar o drama da cidade síria de Aleppo.

Após matar o embaixador, "disse algo sobre Aleppo e sobre uma vingança", declarou à AFP Hasim Kiliç, repórter do jornal Hürriyet, que estava no local. Ele também gritou "Alá Akbar" (Alá é Grande) e conclamou em árabe os "que juraram lealdade à Jihad".

"Não esqueçam a Síria, não esqueçam Aleppo", gritou em turco em duas ocasiões, constatou a AFP no vídeo do crime.

"Todos os que participam desta tirania prestarão contas, um a um", diz o policial, membro das forças especiais em Ancara.

Imediatamente após os disparos, policiais de uma delegacia próxima seguem para o local e trocam tiros com o assassino.

Em seguida, chegam homens da força de intervenção especial da polícia e o atacante é "neutralizado" pouco depois.

Segundo o ministro do Interior, Süleyman Soylu, o embaixador russo chegou ao hospital de Ancara às 19H53 (14H53), mas já não apresentava sinais de vida.

Durante a noite, a polícia realizou uma batida na casa de Altintas e deteve seus pais e sua irmã, no oeste da Turquia, para interrogá-los.

O prefeito de Ancara, Melih Gökçek, sugeriu no Twitter que o atirador pode estar ligado a Fethullah Gülen, o pregador islâmico residente nos Estados Unidos que a Turquia acusa de orquestrar a tentativa de golpe de 15 de julho.

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