O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, abandonou nesta quarta-feira (15) o compromisso tradicional dos Estados Unidos com uma solução de dois Estados para resolver o conflito no Oriente Médio entre israelenses e palestinos.
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Em uma coletiva de imprensa conjunta na Casa Branca com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, Trump disse que seu governo poderá aceitar a criação de dois Estados, mas também a de um único, se as duas partes estiverem de acordo.
Em um afastamento histórico da política americana sobre o tema, Trump reiterou que "poderia viver com qualquer uma das soluções".
"Por muito tempo, pensei que a solução de dois Estados era a mais fácil. Mas, honestamente, se Israel e os palestinos estão felizes, eu estou feliz com o que eles preferirem", declarou o presidente republicano.
Em mensagem direta a seu interlocutor, Trump afirmou que gostaria de "ver da parte de vocês [o governo israelense] mais contenção com os assentamentos. Vamos buscar uma saída porque gostaria de que chegássemos a um acordo".
O presidente americano afirmou que "os israelenses vão ter que mostrar alguma flexibilidade, o que não é fácil. Terão que mostrar que realmente querem um acordo de paz".
Trump destacou, porém, que "os palestinos têm que se despir um pouco do ódio que ensinam desde a tenra idade. Eles ensinam muito ódio. É algo que eu tenho visto".
Trump também criticou a Organização das Nações Unidas (ONU) por considerar que tratou de "forma muito, muito injusta" quando o Conselho de Segurança aprovou no fim de dezembro uma resolução que condenou os assentamentos israelenses.
O presidente republicano revelou que continua mantendo a possibilidade de transferir a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém. A ideia é fortemente criticada pelos palestinos.
Reações
Na terça à noite (14), uma fonte do alto escalão do governo americano afirmou que Washington não iria mais insistir na solução de dois Estados.
"Isso é algo que eles deverão resolver. Nós não vamos ditar quais serão os termos da paz", disse a fonte.
A explosiva declaração significou um giro na Política Externa americana e provocou uma onda de reações em todo o mundo, nesta quarta, antes da visita do premiê Netanyahu à Casa Branca.
O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, disse categoricamente que "se deve fazer todo o possível para preservar" a possibilidade de uma saída de dois Estados.
Instantes mais tarde, a França - membro permanente do Conselho de Segurança da ONU - disse, por intermédio de seu embaixador François Delattre, que o compromisso de seu país com a solução de dois Estados "é mais forte do que nunca".
Em Ramallah, nos Territórios Palestinos, Hanan Ashraui, um dirigente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), comentou que a nova posição americana "carece de sentido".
Washington "está tentando satisfazer a coalizão extremista de Netanyahu", afirmou.
Outro alto funcionário palestino, Saeb Erekat, denunciou que a declaração se propõe a "eliminar o Estado da Palestina", antecipando que um eventual Estado único não será necessariamente um Estado judaico.
A única alternativa a uma solução de dois Estados, disse Erekat, é "um simples Estado democrático que garanta os direitos de todos: judeus, muçulmanos e cristãos".
Já a ala mais extrema do governo israelense cantou vitória.
"Uma nova era. Novas ideias (...) Grande dia para os israelenses e os árabes razoáveis. Felicitações", tuitou o líder do partido nacionalista e religioso Lar Judaico, Naftali Bennet.