A autoridade eleitoral francesa alertou neste sábado (6) sobre a retransmissão dos milhares de documentos da campanha do centrista Emmanuel Macron, hackeados e postados na Internet, na véspera do segundo turno da eleição presidencial contra a líder da extrema direita, Marine Le Pen.
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Este mais recente acontecimento, ocorrido nas últimas horas da campanha oficial entre os dois turnos, foi considerado um ato de "desestabilização" pelo ex-ministro da Economia. Já o presidente francês em final de mandato, François Hollande, garantiu hoje que a ação de pirataria não ficará "sem resposta" e que "procedimentos serão postos em vigor".
Os arquivos vazados, que também incluem documentos de contabilidade, "foram obtidos há várias semanas mediante pirataria informática de caixas de e-mails pessoais e profissionais de vários encarregados do movimento", anunciou o grupo Em Marcha! liderado por Macron, acrescentando que são documentos "legais".
Contudo, segundo a equipe de campanha, "quem está fazendo isso circular, agregou documentos autênticos a muitos outros que são falsos, para semear dúvidas e desinformação".
Segundo o WikiLeaks, que divulgou a informação, trata-se de "dezenas de milhares de e-mails, fotos e anexos datados até 24 de abril", um dia após o primeiro turno das eleições presidenciais francesas, vencido por Macron, que enfrentará Marine Le Pen.
O WikiLeaks afirma não ser o autor da operação de hacking, que chama de "MacronLeaks".
Após investigar o hacking praticado contra o Partido Democrata de Hillary Clinton, candidata democrata à Presidência americana em 2016, os serviços de Inteligência dos Estados Unidos acusaram a Rússia de interferências na campanha eleitoral americana do ano passado a favor de Donald Trump, eleito em 8 de novembro.
Na manhã deste sábado, a Comissão Nacional francesa de controle da campanha presidencial recomendou os meios de comunicação a "ter responsabilidade e não transmitir o conteúdo vazado, a fim de não alterar a integridade da eleição".
"A difusão, ou redifusão, de tais dados, obtidos de forma fraudulenta, e por meio dos quais podemos, segundo toda probabilidade, ser levados a falsas informações, é suscetível de penalidade", ressaltou em um comunicado.
Desde a publicação, via Twitter, dos documentos hackeados, a extrema direita tem replicado os dados.
"Os #Macronleaks vão aprender coisas que o jornalismo investigativo deliberadamente matou? Assustador este naufrágio democrático", declarou o braço direito de Marine Le Pen, Florian Philippot.
O pesquisador belga especialista em redes sociais Nicolas Vanderbiest estudou o modo como esses documentos se propagaram on-line na sexta à noite e acusou um militante americano ligado à extrema direita de estar em sua origem. Contas em francês pró-Frente Nacional teriam reforçado a ação.
50.000 homens mobilizados
Em março, o Em Marcha! foi alvo de tentativas de phishing, atribuídas a um grupo russo, de acordo com a empresa japonesa de cibersegurança Trend Micro.
Esta pirataria pode afetar o voto dos eleitores franceses no domingo? Nas últimas pesquisas divulgadas na sexta-feira, antes do encerramento da campanha oficial, Emmanuel Macron ainda estava bem à frente, com entre 61,5 e 63% dos votos, contra 37%-38,5% para Marine Le Pen.
A dois dias da votação, a participação potencial permanecia relativamente baixa: apenas 68% dos entrevistados disseram estar determinados a votar.
Antes das revelações sobre a pirataria em massa, a tensão já havia aumentado com o anúncio da prisão de um ex-militar convertido ao Islã, na madrugada de sexta-feira, perto de uma base aérea militar em Evreux, cem quilômetros ao noroeste de Paris.
Sob vigilância desde 2014 em razão de sua radicalização, o homem jurou fidelidade ao grupo extremista Estado Islâmico (EI), de acordo com um vídeo encontrado em um pendrive que estava em seu veículo, onde também havia bandeiras do EI. Uma espingarda também foi descoberta em um bosque nas proximidades.
Os investigadores tentam determinar se o suspeito estava prestes a cometer uma ação violenta.
Em 20 de abril, três dias antes do primeiro turno da eleição presidencial, um policial foi morto na famosa avenida Champs-Elysées, em Paris. O ataque foi reivindicado pelo EI, responsável pela maioria dos ataques que deixaram 239 vítimas no país desde janeiro de 2015.
No domingo, os dois candidatos vão votar no norte da França: Macron, no balneário de Touquet, e Le Pen, em seu reduto operário de Hénin-Beaumont.
As medidas de segurança serão reforçadas, e mais de 50.000 policiais, gendarmes e militares estarão mobilizados.
Na sexta-feira à noite, durante um comício em apoio a Emmanuel Macron, uma deputada socialista de 50 anos, Corinne Erhel, morreu depois de passar mal.
"Recebi com um imensa tristeza a notícia do falecimento de Corinne Erhel, após um mal-estar em pleno comício eleitoral em Plouisy, quando discursava para 300 militantes para defender os valores da República", anunciou o presidente da Assembleia Nacional, Claude Bartolone, em um comunicado.