O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, recebeu nesta quinta-feira (18) um duro golpe dos Estados Unidos, depois que o Tesouro americano anunciou sanções econômicas contra oito magistrados do Tribunal Supremo da Venezuela.
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Eles são acusados de terem tomado decisões judiciais que "usurparam" a autoridade do Legislativo.
As sanções atingem o presidente do Supremo, Maikel Moreno, e os sete principais membros da Sala Constitucional: Juan José Mendoza, Arcadio de Jesús Delgado Rosales, Gladys Gutiérrez, Carmen Auxiliadora Zuleta, Luis Fernando Damiani, Lourdes Benicia Suárez e Calixto Ortega.
Em coletiva de imprensa conjunta com o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, em Washington, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que a crise política e econômica na Venezuela é uma "vergonha para a humanidade" e uma situação que não se via "em décadas" na região.
"A gente vê a riqueza desse país e se pergunta por que isso está acontecendo. Mas é que o país tem sido administrado incrivelmente mal por vários anos", criticou Trump.
Sem se referir explicitamente a Trump, ou à decisão do Tesouro, Maduro garantiu que os EUA "saíram derrotados" da reunião ontem no Conselho de Segurança das Nações Unidas, durante a qual se abordou a crise venezuelana. Além disso, garantiu ter recebido apoio do presidente russo, Vladimir Putin, em conversa por telefone.
No Twitter, a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, repudiou "as sanções unilaterais e extraterritoriais do departamento do Tesouro dos EUA contra magistrados" do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ).
Rodríguez disse que Maduro "ratifica seu apoio aos magistrados vítimas do poder imperial americano", e considerou que a medida evidencia, mais uma vez, "a autoria e direção dos EUA na desestabilização da Venezuela, do Estado de Direito e contra a paz".
Mortes em protestos
Distúrbios foram registrados hoje, no leste de Caracas, após confrontos entre manifestantes e militares. O efetivo impediu a multidão de marchar até a sede do Ministério do Interior e da Justiça, no centro da cidade.
A bordo de blindados, homens da Guarda Nacional atiraram bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água contra os manifestantes, que chegavam de dois pontos, aos milhares, até a principal autoestrada de Caracas.
Como é habitual desde que começaram os protestos contra o presidente Nicolás Maduro, em 1º de abril, um grupo de jovens encapuzados respondeu, atirando pedras e bombas incendiárias nos militares. Alguns bloquearam as cápsulas de gás com escudos de madeira e metal, protegendo-se com capacetes de moto e máscaras antigás.
"Valentes, valentes!", repetiam alguns manifestantes a estes chamados "escudeiros", enquanto avançavam para a linha de frente com os blindados.
Um jovem executava uma marcha bélica com um tambor. "O governo nos declarou guerra (...) e tenho que incentivar os guerreiros que estão aqui", disse à AFP Carlos Herrera, com o rosto coberto por uma máscara.
Os protestos exigem eleições gerais para antecipar a saída de Maduro do poder, que até agora deixou 45 mortos e centenas de feridos e detidos. Um cinegrafista de uma emissora digital de televisão foi atingido em uma perna por uma cápsula de gás lacrimogênio.
Também nesta quinta, o governo venezuelano impediu a viagem do líder opositor Henrique Capriles, que iria a Nova York denunciar no Alto Comissariado dos Direitos Humanos da ONU a "repressão" aos protestos contra Maduro.
"Não vou poder assistir à reunião com o Alto Comissariado dos Direitos Humanos. Estou fora da área de Migração, sem passaporte", relatou Capriles, usando o aplicativo Periscope no aeroporto de Maiquetía, que atende a Caracas.
"Fui informado de que meu passaporte foi cancelado", afirmou.
Depois de sair do aeroporto, Capriles se somou à marcha.
Na sexta, ele se reuniria em Nova York com o alto comissário Zeid Ra'ad Al Hussein, a quem, segundo declarações mais cedo, iria apresentar os casos dos mortos, feridos, presos e repressão.
Zeid reagiu em uma mensagem no Twitter.
"Espero que o confisco do passaporte @hcapriles não seja uma medida de represália porque se reuniria amanhã na @UN", escreveu.
"Quem somos? Venezuela! O que queremos? Liberdade!", gritavam os manifestantes que marchavam de diferentes pontos da capital. Outras manifestações também seriam realizaram em cidades do interior.
Ameaça a Capriles
Governo e oposição se responsabilizam mutuamente pela violência, enquanto a Procuradoria investiga as mortes. Grupos armados não identificados já foram identificados, e alguns civis, policiais e militares, acusados.
A oposição venezuelana responsabiliza diretamente o ministro Néstor Reverol, um proeminente general acusado de tráfico de drogas pelos Estados Unidos, de liderar a repressão.
Já o governo acusa a oposição de terrorismo e de apelar à "insurgência armada" para depô-lo, destacando particularmente o chefe do Parlamento, Julio Borges, e Capriles.
"Por culpa do bando de terroristas de Julio Borges, de Henrique Capriles. Assassino Capriles, eu lhe digo", afirmou o presidente na noite de quarta-feira, após denunciar atos de violência que atribuiu à oposição.
Na quarta-feira, a tensão aumentou depois que Maduro se dispôs a enviar 2.600 militares ao estado de Táchira (na fronteira oeste com a Colômbia), onde desde a segunda-feira foram registrados saques e distúrbios. Quinhentos já tinham chegado à região, mas ainda não há uma forte presença de efetivos nas ruas.
Até agora, 700 pessoas foram detidas. Dessas, 159 continuam presas por ordem de tribunais militares, segundo a ONG Foro Penal, o que foi criticado por grupos de direitos humanos, governo e organismos internacionais.