A oposição venezuelana se prepara para dar, neste sábado (20), sua "maior demonstração de força" desde que foi para as ruas, há 50 dias, para pressionar por eleições gerais para tirar o presidente Nicolás Maduro do poder. Apesar das 47 mortes registradas durante os protestos, os opositores convocaram uma nova marcha que, acreditam, vai superar a de 19 de abril, a mais multitudinária desta onda de manifestações.
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"No 50º dia da resistência daremos a maior demonstração de força deste período", garantiu Juan Andrés Mejía, que integra um grupo de jovens deputados que lideram as manifestações.
O objetivo será "demostrar aos que pensam que nos fizeram recuar que estamos mais ativos do que nunca, que o povo está mais comprometido com a mudança", acrescentou, em coletiva de imprensa.
Desde que as manifestações da oposição começaram, em 1º de abril, houve centenas de feridos e 2.200 detidos, segundo a ONG Foro Penal. Pelo menos 159 destas pessoas foram detidas por ordem de tribunais militares.
Os adversários de Maduro denunciam uma "repressão selvagem" de parte do governo socialista, que por sua vez os acusa de apelar ao "terrorismo" para dar um golpe de Estado financiado pelos Estados Unidos.
Com bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água, as marchas opositoras têm sido impedidas de chegar ao centro de Caracas, ao que jovens encapuzados costumam responder com pedras e bombas incendiárias.
Violência em ascensão
Mas nos últimos dias têm se multiplicado as mortes por ferimentos a bala em atos vinculados aos protestos, pelas quais vários policiais e militares são investigados.
Alguns destes fatos ocorreram no estado de Táchira (oeste, na fronteira com a Colômbia), para onde Maduro ordenou esta semana o envio de 2.600 militares para "preservar a paz", após violentos distúrbios que incluíram saques.
A coalizão de partidos Mesa da Unidade Democrática (MUD), que controla o Parlamento, sustenta que a militarização prova o temor de Maduro de perder o controle da situação.
Analistas coincidem em que, depois de mais de um mês e meio de protestos, o desafio da oposição é se manter nas ruas pacificamente.
"O êxito de um protesto depende de sua massificação e permanência", avalia Luis Vicente León, presidente do instituto de pesquisas Datanálisis, que adverte que se as manifestações se tornarem violentas, "perdem impacto".
Maduro, considerado o herdeiro do presidente Hugo Chávez (1999-2013), enfrenta o repúdio de sete em cada dez venezuelanos, segundo pesquisas privadas, em meio à devastação econômica, acentuada pela queda nos preços do petróleo a partir de 2014.
A crise no país que detém as maiores reservas de petróleo do mundo gera uma escassez crônica de alimentos e medicamentos, e uma inflação que, segundo o FMI, atingirá os 720% este ano. Um coquetel explosivo que se completa com altos índices de criminalidade.
Juízes na mira dos EUA
Nesse contexto, o principal apoio de Maduro é a Força Armada, um ator com enorme poder político e econômico que, em várias ocasiões lhe expressou "lealdade incondicional".
O general Vladimir Padrino López, ministro da Defesa e chefe da instituição, pediu nesta semana aos opositores que não se enganem, pois, segundo ele, os militares e o governo não vão tolerar o caos.
Os protestos ganharam força, ainda, com a convocação por Maduro de uma Assembleia Constituinte "popular", na qual metade de seus integrantes seriam escolhidos em setores controlados pelo chavismo.
A MUD rejeita a iniciativa por considerar que deixa no limbo sua maior reivindicação, as eleições, pois enquanto a Constituinte deliberar, não haveria convocação às urnas e Maduro continuaria no poder.
No entanto, Maduro garantiu que em 2018 haverá eleições presidenciais, como prevê a lei. Por enquanto, estão pendentes a de governadores, que deveriam ter sido realizadas em 2016, e para este ano estão previstas a de prefeitos.
A oposição também adverte que o Legislativo - o único poder que controla - seria praticamente dissolvido, embora o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) o tenha declarado em desacato há mais de um ano e anulado todas as suas decisões.
As decisões do TSJ contra o Parlamento provocaram a reação dos Estados Unidos no conflito político.
Na quinta-feira, o Tesouro americano impôs sanções econômicas a oito magistrados do TSJ, acusando-os de usurpar as funções da Assembleia, o que implica no congelamento de bens que possam ter nos Estados Unidos.
A chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, e o presidente da corte, Maikel Moreno, ex-funcionário de Maduro, repudiaram a medida.
Moreno leu nesta sexta-feira um comunicado no qual acusa os Estados Unidos de querer "tomar o controle" da Justiça venezuelana.