Os três atentados que deixaram 34 mortos no Reino Unido em menos de três meses retomaram o debate sobre a estratégia britânica contra o terrorismo e estremeceram a campanha eleitoral legislativa.
Sete pessoas morreram em um ataque no centro de Londres no sábado (3), menos de quinze dias depois da morte de outras 22 pessoas em um atentado suicida em Manchester.
Como resposta, a primeira-ministra Theresa May disse "basta" e esboçou planos para endurecer as medidas antiterroristas.
May sugeriu ampliar as penas de prisão por crimes de terrorismo, inclusive para menores de idade, e urgiu às empresas de Internet para que não deem espaço ao extremismo.
Outras propostas mencionadas na imprensa britânica incluem colocar tornozeleiras eletrônicas nos suspeitos, deixar reclusos os extremistas que estejam na lista de vigilância e comprovar os antecedentes criminais daqueles que quiserem alugar um veículo.
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A campanha para as eleições de quinta-feira (8) foi suspensa um dia após o atentado, mas logo foi retomada, e a gestão de May veio à tona: os conservadores, tradicionalmente populares no tema de segurança, estão sendo questionados.
O líder trabalhista Jeremy Corbyn pediu nesta segunda-feira a renúncia de May, reprovando o corte de 20.000 postos na polícia, a maioria nos seis anos em que foi ministra do Interior do governo de David Cameron.
O Partido Trabalhista prometeu contratar mais oficiais de polícia e reforçar a vigilância de proximidade nos bairros, considerando-os elementos essenciais na luta contra o terrorismo.
"Nunca deveríamos ter reduzido o número de policiais", disse Corbyn em entrevista à emissora ITV.
Precaução
Fora da arena política, os comentaristas dizem que abordar a radicalização islâmica não é fácil e que poderia haver consequências não desejadas no eleitorado.
"Se forem intervir nas comunidades muçulmanas, poderiam acabar radicalizando as pessoas, mas, se não forem intervir nas comunidades muçulmanas, então permitiriam que as pessoas se radicalizassem", disse Steven Fielding, professor de História Política da Universidade de Nottingham.
Endurecer as leis ou aumentar os poderes da polícia poderia não ser suficiente para evitar ataques de baixa tecnologia como o de Londres, executado com uma van e três facas, e poderiam fazer com que os muçulmanos se voltassem contra o Estado.
O Reino Unido já dispõe de uma ampla lista de instrumentos de segurança, liderada pelas chamadas Medidas de Prevenção e Investigação do Terrorismo, o TPims.
Introduzidas em 2012 e reforçadas em 2015, as TPims se aplicam a pessoas consideradas uma ameaça, mas que não podem ser julgadas ou, no caso de estrangeiros, deportadas.
Em novembro de 2016, os legisladores outorgaram amplos poderes de vigilância à polícia e aos serviços de Inteligência.
Fielding recordou também a existência de um plano chamado Prevent, criado depois dos atentados de julho de 2005 em Londres, que promove programas contra a radicalização entre as comunidades muçulmanas.
"Muitas pessoas acreditam que este seja o caminho a seguir, mas é muito difícil de executar e dispõe de poucos recursos", disse.
"É muito fácil dizer 'basta' de Downing Street, mas quando se trata de medidas precisas, poderia acabar piorando as coisas", acrescentou Fielding. "Também é muito fácil dizer que precisamos de mais policiais nas ruas porque poderiam ter evitado algumas coisas, mas estamos seguros?".
A radicalização "é uma questão social muito difícil e complexa que não se presta ao eleitoralismo e aos slogans, mas aqui estamos", declara, resignado.