A crise diplomática instaurada no Golfo, nesta segunda-feira (5), pode afetar a organização da Copa do Mundo de 2022 no Catar, segundo informações de vários especialistas.
Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Egito e Iêmen romperam relações diplomáticas com o Catar, nesta segunda (5), e acusaram o país de apoiar grupos extremistas "que querem desestabilizar a região".
Uma das áreas que poderia ser afetada por esta decisão é o Mundial de futebol, uma das maiores competições esportivas do mundo, programada para ser sediada no Catar dentro de cinco anos.
"É um grande aumento na pressão sobre o Catar", garante Kristian Ulrichsen, especialista na região do Golfo Pérsico do Instituto Baker de Houston, nos Estados Unidos. "Acho que vai ter um verdadeiro impacto, caso dure por tempo indeterminado", afirma.
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Desde que a Fifa escolheu o pequeno emirado como sede do Mundial de 2022, Catar enfatizou que é uma nação politicamente segura, apesar de estar em região instável.
Doha também bateu o pé e garantiu que o torneio beneficia todo Golfo, e não apenas o país organizador. Naser Al Jater, figura importante na organização do megaevento, garantiu que até 1,3 milhões de torcedores podem visitar a capital do Catar, a maioria procedente da região, "sobretudo da Arábia Saudita".
Mas a quebra de relações diplomáticas da Arábia Saudita e seus aliados poderia mudar de figura, opina Ulrichsen. "Um de seus maiores argumentos (para organizar a Copa do Mundo) era que Catar era um dos países mais estáveis do Oriente Médio", explica.
Mas questiona-se a estabilidade do Catar e considera-se que outros países poderiam pedir para organizar a competição com prazo reduzido, o especialista acrescenta que o comitê pode começar a ficar nervoso: "Catar sabe que existem alternativas, então vai olhar" com receio para quem está virando as costas.
Alternativas
Já foi sugerida a possibilidade dos Estados Unidos, um dos países que perdeu a disputa para sediar a Copa do Mundo de 2022, organizar a competição caso necessário.
A crise iniciada nesta segunda-feira (5) se deu apenas três semanas depois do presidente americano Donald Trump visitar a Arábia Saudita. O líder dos Estados Unidos viajou ao país para estreitar relações com Riade e convocar os países muçulmanos a se unirem contra o extremismo.
Em um breve comunicado enviado à AFP, a Fifa garantiu que mantém contato regular com os organizadores do Mundial do Catar e que "não tem nada mais a comentar no momento".
Simon Chadwick, professor de economia do esporte da Universidade Britânica de Salford, afirma que a crise diplomática "coloca em voga um importante problema de avaliação de riscos e planejamento de qualquer eventualidade".
"Quanto mais nos aproximarmos de 2022, mais exposto o Catar vai estar. Em termos de reputação, isso é um grande problema para o país", garante.
Patrocínio cancelado
A crise diplomática já refletiu no âmbito esportivo. Poucas horas depois da ruptura entre a Arábia Saudita e o Catar, o clube de futebol Al Ahli anunciou que encerraria o acordo de patrocínio que mantém com a companhia aérea Qatar Airways.
Em maio, o time havia renovado contrato de mais três anos, com valor estimado em 14 milhões de euros.
Outra vítima pode ser a Copa de Nações de futebol do Golfo, cuja celebração está prevista para dezembro, em Doha. Entre os países que participam da competição estão a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e Bahrein.
Riade e Emirados também anunciaram a suspensão de voos ao Catar, além de proibir seus cidadãos de viajaram à Doha.
Vencer a disputa para sediar a Copa do Mundo de 2022 foi um golpe de mestre para o Catar, que aproveitou os gigantes valores produzidos pela venda de gás para promover seu perfil internacionalmente.
O país garante que gasta quase 500 milhões de dólares por semana na construção de grandes infraestruturas relacionadas com o Mundial.