Vários países árabes romperam nesta segunda-feira (5) as suas relações diplomáticas com o Catar, frequentemente acusado de laxismo na luta contra o financiamento do terrorismo, acusação negada por este pequeno e rico emirado do Golfo.
Apoio aos islamitas
Desde o aparecimento do Catar nos cenários regional e internacional no fim dos anos 1990, o rico emirado fabricante de gás, aliado dos Estados Unidos, alimentou o desenvolvimento de movimentos islamitas, que apoiou direta ou indiretamente nos países onde ocorreu a Primavera Árabe.
O Catar é considerado um dos principais financiadores da Irmandade Muçulmana no Egito e de grupos afins a esta confraria nos países vizinhos, em especial na Síria, Líbia e Tunísia.
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O Catar também foi um dos principais apoiadores do ex-presidente egípcio islamita Mohamed Mursi, membro da Irmandade Muçulmana, derrubado em 2013 pelo ex-chefe das Forças Armadas e atual presidente do Egito, Abdul Fatah Al-Sissi. Desde então, ambos os países mantêm relações muito tensas.
Depois, sob pressão de outras monarquias do Golfo, o Catar suavizou as críticas contra Sissi.
O Catar abriga os dirigentes do primeiro plano da Irmandade Muçulmana, confraria qualificada como "terrorista" pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos, como é o caso de Yusuf Al-Qaradawi, considerado um de seus chefes espirituais.
O ex-dirigente do movimento islamita Hamas palestino Khalid Meshal também está no Catar. Além disso, os talibãs afegãos têm um escritório no país.
Financiar o terrorismo
O Catar é regularmente acusado de certo relaxamento na luta contra o financiamento por meio de fundos particulares de organizações "terroristas", acusações que rechaça firmemente.
Em 2010, uma nota diplomática americana, revelada pelo WikiLeaks, qualificou o Catar como o "pior na região" no que se refere à cooperação com Washington para cortar o financiamento de grupos extremistas.
Depois do atentado em Paris contra o semanário satírico Charlie Hebdo, em janeiro de 2015, vários responsáveis políticos franceses acusaram o Catar de conivência.
Novas suspeitas chegaram dos Estados Unidos em 2016: um responsável de alto escalão do Tesouro americano afirmou que o Catar, assim como o Kuwait, "ainda carece da necessária vontade política e da capacidade para aplicar suas leis contra o financiamento de organizações terroristas".
Entretanto, dias mais tarde, os Estados Unidos elogiaram seus "esforços positivos" para cortar o financiamento a extremistas e lutar contra o grupo Estado Islâmico (EI).
Al Jazeera, polêmico porta-voz
A emissora Al Jazeera, fundada há mais de 20 anos pelo governo do Catar, tem 80 escritórios em todo o mundo e emite notícias em vários idiomas. Ela foi considerada o eco dos movimentos da Primavera Árabe.
Mas seus críticos consideram a sua linha editorial muito favorável aos islamitas e a veem como um instrumento a favor da diplomacia do Catar.
Em 2014, três de seus jornalistas no Egito foram condenados a severas penas por terem "falsificado informações" de apoio aos partidários do presidente islamita Mursi.
Em abril de 2016, as autoridades iraquianas fecharam o escritório da Al Jazeera em Bagdá por causa de uma cobertura considerada favorável ao grupo extremista sunita EI, e hostil à maioria xiita do país.
No passado, a emissora já teve problemas com os governos árabes, que os irritava por uma cobertura considerada impertinente e tendenciosa. Washington a apresentou como porta-voz dos grupos extremistas, principalmente porque o antigo chefe da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, reservava à Al Jazeera o essencial de suas mensagens.