A primeira-ministra britânica Theresa May arrisca seu futuro nesta segunda-feira (12) em uma reunião com deputados do Partido Conservador, furiosos com o revés registrado nas eleições legislativas da semana passada, que os obriga a buscar um acordo com um partido ultraconservador da Irlanda do Norte.
Muito fragilizada depois de perder a maioria absoluta no Parlamento, Theresa May terá que prestar contas do fracasso inesperado, pois há algumas semanas as pesquisas eram amplamente favoráveis à chefe de Governo. Em uma entrevista ao canal Sky News no domingo (11) à noite, May negou que se encontre em "estado de choque" e desafiou os que pedem sua renúncia, determinada a seguir governando.
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Na sexta-feira (9) ela confirmou que pensava em "iniciar as negociações do Brexit nas próximas duas semanas, conforme o planejado". Boris Johnson, que foi confirmado no ministério das Relações Exteriores, negou os boatos que apontam sua intenção de suceder a May. "Aos que dizem que a primeira-ministra deve renunciar ou que devemos celebrar novas eleições ou inclusive, Deus nos livre, um segundo referendo, afirmo que esqueçam", escreveu no tabloide The Sun.
Brexit duro ou brando?
O ministro do Brexit, David Davis, que também foi confirmado no cargo, apoiou May em uma entrevista à rádio BBC, mas admitiu que "alguns elementos do programa" dos Tories, conservadores, para estas eleições "serão eliminados". A respeito do Brexit nada mudou, de acordo com Davis, para quem uma saída do mercado único europeu é necessária "para retomar o controle" das fronteiras britânicas e que continua existindo a possibilidade de não alcançar um acordo.
Muitos analistas, no entanto, consideram que May pode ser obrigada a abandonar a ideia de um Brexit "duro" e manter o país na união alfandegária e no mercado único europeu. Para o diretor da gigante da publicidade WPP, Martin Sorrell, citado pelo jornal econômico City A.M., o resultado da eleição reforçou "paradoxalmente" as possibilidades de um Brexit "brando".
Neste contexto, a única certeza, segundo Carolyn Fairbairn, do Financial Times, é que "se afastou a probabilidade de conseguir um bom acordo para o Reino Unido".
Em primeiro lugar, May terá que chegar a um entendimento com o Partido Unionista Democrático (DUP) da Irlanda do Norte. Os 10 deputados desta formação permitiriam aos Tories (318 deputados) superar as 326 cadeiras necessárias para governar com uma leve maioria.
Críticas e dúvidas
Esta perspectiva provocou fortes críticas no Reino Unido pelo conservadorismo social do partido norte-irlandês, que faz uma oposição veemente ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e ao aborto. Além disso, o acordo provoca dúvidas sobre a neutralidade do governo britânico na Irlanda do Norte, uma região ainda sob grande tensão, 20 anos após o fim do conflito.
A líder do DUP, Arlene Foster, afirmou no domingo que as negociações devem prosseguir esta semana e que na terça-feira se reunirá com May em Londres. O novo gabinete de Theresa May, anunciado no domingo e marcado pela renovação dos principais ministros e o retorno do político pró-Brexit Michael Gove, desta vez como ministro do Meio Ambiente, se reunirá na segunda-feira à tarde.
Gove, que foi destituído por May do ministério da Justiça quando ela chegou ao poder em julho, retorna ao Executivo em uma tentativa de evitar um golpe contra a líder do Partido Conservador, de acordo com o jornal Daily Telegraph. Na terça-feira (13), May se reunirá com o presidente francês, Emmanuel Macron, em Paris, enquanto a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, do Partido Nacional Escocês (SNP, independentista), pedirá uma pausa nas negociações do Brexit.
O novo Parlamento britânico terá sua primeira sessão na terça-feira (13), antes da cerimônia de abertura solene de 19 de junho, quando está previsto o início das negociações sobre o Brexit com a União Europeia.