Milhares de pessoas participam nesta quinta-feira de uma longa marcha, convocada pelo principal partido opositor com o objetivo de pedir justiça, no dia seguinte à prisão de deputado.
Enis Berberoglu, do Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), foi condenado a 25 anos de prisão por ter vazado informações confidenciais ao jornal da oposição Cumhuriyet.
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O caso foi um escândalo e despertou a ira do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que prometeu que o redator-chefe do Cumhuriyet na ocasião, Can Dündar, iria "pagar por isso".
Berberoglu foi preso imediatamente após a sentença, segundo a agência pró-governamental Anadolu.
É a primeira vez que é preso um deputado do CHP, uma formação fundada pelo pai da Turquia moderna, Mustafa Kemal Atatürk, desde que a imunidade parlamentar foi extinta no ano passado.
Os deputados do CHP condenaram a sentença e abandonaram o parlamento em protesto.
O presidente turco sempre negou qualquer apoio a grupos islamitas hostis ao presidente sírio Bashar Al Assad. As autoridades afirmaram que o vídeo em questão mostrava um comboio com ajuda para a minoria turcomana da Síria.
O CHP se mobilizou imediatamente para protestar contra a sentença.
O dirigente do partido, Kemal Kiliçdaroglu, decidiu, como forma de protesto, percorrer a pé os mais de 400 km que separam Ancara de Istambul, onde o deputado está preso. A imprensa afirma que esta marcha pode durar entre 20 dias e um mês.
"Se é preciso pagar um preço, serei o primeiro a pagar", declarou Kiliçdaroglu. "Caminharei até Istambul. E continuaremos nossa marcha até que haja justiça na Turquia", afirmou, ao lançar a convocação do protesto.
Milhares de pessoas começaram a segui-lo a partir do centro de Ancara co cartazes pedindo "Justiça".
Alguns enfrentamentos ocorreram ao longo do dia, mas os distúrbios foram menores.
Várias manifestações de apoio também foram organizadas em algumas cidades do país, segundo a imprensa local.
Em Istambul, centenas de pessoas se reuniram ao grito de "venceremos com a resistência", segundo um jornalista da AFP.
Direitos Humanos
O governo turco geralmente é acusado pelas ONGs de defesa dos direitos humanos de querer calar as vozes críticas, especialmente depois da tentativa de golpe de Estado de 15 de julho passado, ao que se seguiu uma onda de expurgos de uma magnitude sem precedentes.
O governo atribuiu a tentativa de golpe a Fethullah Gülen, um pregador exilado nos Estados Unidos e acusado de ter se infiltrado nas instituições turcas com ajuda de uma extensa rede de fiéis.
Gülen nega categoricamente a acusação.
Mais de 100.000 pessoas foram demitidas e mais de 47.000 detidas desde então. As autoridades consideram essas medidas necessárias para se livrar de elementos sediciosos.
Vários deputados do HDP estão detidos, acusados de manter vínculos ou de apoiar os separatistas curdos.
A oposição acusa Erdogan de tendências ditatoriais, principalmente depois da adoção, em 16 de abril, de uma reforma constitucional que concede ao presidente poderes notadamente reforçados.