Com sua promessa de renovação da vida política e uma bateria de reformas, o movimento do presidente centrista Emmanuel Macron obteve neste domingo (18), uma maioria absoluta esmagadora nas eleições legislativas na França.
A República em Marcha (LREM) de Macron, movimento criado há pouco mais de um ano, barrou os principais partidos históricos de esquerda e direita com entre 355 e 425 assentos de 577, muito mais do que os 289 necessários para a maioria absoluta, segundo as estimativas preliminares publicadas pelos institutos de opinião.
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Esta vitória foi acompanhada por um índice recorde de abstenção neste tipo de votação. A vitória anunciada do partido do presidente, juntamente com um desinteresse crescente pela política, dissuadiu muitos eleitores de comparecer às urnas.
A mudança na Assembleia Nacional salta aos olhos: metade dos novos deputados nunca ocupou cargos legislativos e procede da sociedade civil, haverá muitos mais jovens e mulheres, e uma maior diversidade étnica.
Na opinião do professor de Direito Constitucional Didier Maus, "tirou-se tudo o que representava o sistema anterior e se está tentando outra coisa". Essas eleições desembocam na "maior renovação do elenco político desde 1958, e talvez 1945".
O presidente mais jovem da história da França - tem 39 anos -, e praticamente desconhecido há apenas três anos, estabeleceu como prioridade reformar todo o país com um leque de propostas socioliberais.
A nova Assembleia Nacional começará a votar três projetos de lei: um sobre a moralização da vida pública - após uma campanha desencadeada por diferentes escândalos político-financeiros - outro para reforçar as medidas de segurança contra o terrorismo e um terceiro sobre a reforma das leis trabalhistas.
Migalhas para os demais
Com esta vitória, o europeísta Emmanuel Macron ficará em posição de força na quinta e sexta-feira, durante a reunião do Conselho Europeu, em Bruxelas.
Em pouco mais de um mês como presidente, Macron ganhou reputação internacional de homem carismático. Todos guardaram a imagem de seu firme aperto de mãos com o presidente americano, Donald Trump - interpretado como um desafio - e sua liderança mundial na luta contra as mudanças climáticas quando os Estados Unidos decidiram deixar o acordo.
Internamente, há quem diga a vitória eleitoral nas legislativas se deve unicamente à sua personalidade arrebatadora.
"Os deputados do 'Em marcha!' terão que obedecer" ao serem eleitos somente porque encarnam o presidente, criticou nesta semana o chefe das fileiras da direita, François Baroin, usando o antigo nome da formação de Macron, que passou a se chamar A República em Marcha depois do segundo turno presidencial.
Os demais partidos terão que se contentar com migalhas
Os conservadores reunidos sob o nome dos Republicanos (LR) terminariam com entre 97 e 130 deputados, dos quais uma parte está disposta a apoiar o partido de Macron, sempre segundo estimativas dos institutos de opinião.
Os socialistas perderam a maioria e ficaram com entre 27 e 49 assentos após o impopular governo de François Hollande, marcado pelo desemprego e pelos atentados extremistas.
O partido de ultradireita Frente Nacional (FN), que tantas esperanças havia depositado nas legislativas, passa de dois para entre quatro e oito assentos. Sua líder, Marine Le Pen, finalista com Macron nas eleições presidenciais de maio, sobrevive à hecatombe, com seu primeiro mandato parlamentar. Uma vitória amarga para quem queria liderar o primeiro partido da oposição e sequer terá um grupo parlamentar próprio.
"Fui eleita com um excelente resultado", disse Le Pen, que, aos 48 anos, representará na Assembleia Nacional seu reduto de Hénin-Beaumont.
Louis Aliot, vice-presidente da Frente Nacional e marido de Marine Le Pen, também foi eleito deputado.
O movimento de esquerda radical França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, obteve entre 10 e 30 cadeiras, incluindo o Partido Comunista. Se obtiver 15, poderá criar um grupo parlamentar.
Como manda a tradição, o primeiro-ministro, Edouard Philippe, apresentará, nesta segunda (19) ou terça-feira (20), a dimensão de seu governo.