Cuba e União Europeia (UE) poderão normalizar em breve suas relações diplomáticas após a ratificação nesta quarta-feira pela Eurocâmara do primeiro acordo de cooperação entre ambos, um sinal do bloco ante o recuo dos Estados Unidos de Donald Trump.
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A medida, que foi aprovada apesar da preocupação persistente no bloco sobre a situação dos direitos humanos, foi acolhida favoravelmente por Cuba, que, no entanto, reivindicou sua soberania frente a esta questão.
Por 567 votos a favor, 65 contra e 31 abstenções, os eurodeputados aprovaram o acordo assinado em dezembro de 2016, depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recuou no processo de degelo com a ilha iniciado por seu antecessor Barack Obama.
"A Europa tem a grande oportunidade de demonstrar aos Estados Unidos, que pretende retroceder, que é possível manter o máximo nível de exigência", normalizando por sua vez as relações com Havana, afirmou na véspera durante os debates a eurodeputada Elena Valenciano.
Cuba se tornou em dezembro o último país latino-americano a assinar um acordo do tipo com o bloco. Até então, as relações eram regulamentadas pela denominada Posição Comum de 1996, que vinculava a cooperação europeia a avanços na questão de direitos humanos.
Negociado durante quase dois anos, a partir de abril de 2014, o tema dos direitos humanos foi um dos obstáculos do Acordo de Diálogo Político e Cooperação, solucionado com o início de um diálogo à parte sobre a questão. Mas o texto foi assinado em março de 2016 entre Havana e a UE, poucos dias antes de uma visita histórica do então presidente americano Barack Obama à ilha.
O sucessor do democrata. Donald Trump, que chamou de "brutal" o regime cubano e exigiu a libertação dos "presos políticos", deixou sem efeito alguns aspectos da histórica aproximação anunciada no fim de 2014 por Obama e pelo presidente cubano Raúl Castro.
Apesar de o pacto com a UE contemplar a possibilidade de suspensão em caso de violação dos compromissos sobre direitos humanos, muitos eurodeputados, especialmente conservadores e liberais, pediram uma linguagem mais dura nesta questão e a respeito das liberdades públicas.
Neste sentido, a Eurocâmara adotou nesta quarta-feira uma resolução não legislativa, que não faz parte do acordo, na qual os eurodeputados exigem que a UE, entre outras medidas, ajude na "transição econômica e política em Cuba estimulando a evolução a parâmetros democráticos".
A resolução dos eurodeputados, que já concederam a opositores cubanos o prêmio Sakharov de direitos humanos, também pede a libertação de todas as pessoas detidas "por seus ideais e sua atividade política pacífica".
Após a ratificação pelo Parlamento Europeu, o acordo, que também estabelece as base das relações comerciais entre o bloco e a ilha, poderá entrar em vigor de modo provisório nos próximos meses.
Para sua aplicação final, os países membros devem ratificar o pacto, como já fizeram dois países do ex-bloco soviético, Hungria e Estônia, em um longo e complexo processo que pode demorar anos.
"Este acordo está destinado a se transformou no primeiro marco bilateral, baseado em igualdade, respeito mútuo e reciprocidade", afirmou, no Twitter, o vice-chanceler cubano Rogelio Sierra.
Sierra destacou ainda os vínculos históricos com a UE e o interesse mútuo de "ampliar relação com base em respeito e benefícios mútuos".
Ele, no entanto, insistiu que o "Parlamento Europeu deve compreender que Cuba é um Estado soberano e independente", em alusão à resolução adotada à margem da ratificação do acordo de cooperação.