A crise venezuelana dominou os debates na cúpula do Mercosul na cidade argentina de Mendonza, e o encontro será encerrado nesta sexta-feira (21) com uma declaração que pede que o presidente Nicolás Maduro dialogue com a oposição ou aceite a suspensão permanente do grupo.
"Reiteramos nosso chamado à paz, à liberdade dos presos políticos e à adoção imediata de um calendário eleitoral na Venezuela, além da nossa disposição de estabelecer, em consulta com o governo e a oposição, um grupo de contato para mediar um processo de diálogo", disse o presidente argentino Mauricio Macri na abertura da cúpula, nesta sexta.
Horas antes, o presidente Michel Temer tinha manifestado "uma grande preocupação com o povo venezuelano" e assegurou que "vamos continuar trabalhando na redemocratização do Estado venezuelano".
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O chanceler argentino, Jorge Faurie, adiantou na última quinta o teor da declaração: se o governo de Maduro não desistir de realizar a Assembleia Constituinte e não dialogar com a oposição, o Mercosul vai suspender permanentemente a Venezuela de todos os órgãos.
A Venezuela está suspensa do Mercosul desde dezembro, devido ao descumprimento de obrigações comerciais assumidas em 2012, quando entrou no bloco.
A Constituinte, apontada pela oposição como uma forma de manter Maduro no poder, está marcada para 30 de julho.
Em comunicado da chancelaria, a Venezuela qualificou a cúpula de Mendoza de "ilegal" e considerou "alarmante o permanente uso temerário do mecanismo de integração a serviço de uma política de perseguição ao governo e ao povo da Venezuela".
Confiança no Brasil
Nesta cúpula, Temer vai receber a presidência do bloco, enquanto enfrenta graves acusações de corrupção em casa.
Contudo, a crise política no maior sócio do Mercosul foi apenas mencionada. "O Brasil está vivendo um processo de recuperação econômica", apontou o ministro da Fazenda argentino, Nicolás Dujovne.
Ele disse que os outros países do bloco confiam na sua recuperação econômica e nos "mecanismos institucionais" do Brasil.
Em matéria de economia, a cúpula destacou a urgência de se abrir a associações com terceiros.
"A participação do Mercosul tem que aumentar significativamente, e não conseguiremos se não negociarmos acordos internacionais com decisão e pragmatismo, nos integrando de forma inteligente os fluxos mundiais de comércio e investimentos", opinou Horacio Reyser, secretário de Relações Econômicas Internacionais da Argentina.
O acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia também está na pauta. Dujovne tratou como se fosse certo o compromisso de criar esse espaço de livre-comércio de 760 milhões de pessoas, que teve grandes obstáculos em 17 anos de negociações.
"Se houver razoabilidade e se respeitarem certas assimetrias", o que já está acontecendo, o acordo vai se firmar, completou Reyser.
A intenção é fechar o "acordo político" com os temas mais conflituosos acertados, embora o assunto mais espinhoso ainda não tenha sido discutido: a oferta europeia para as exportações sul-americanas de carne bovina e etanol, que pode chegar em outubro.