INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA

Cartel: um novo escândalo pode custar caro à Alemanha

Se a suspeita de formação de cartel estiver correta a manipulação de 11 milhões de veículos a diesel pela Volkswagen pode parecer pequena

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Publicado em 24/07/2017 às 13:50
Foto: Marijan Murat / dpa / AFP
Se a suspeita de formação de cartel estiver correta a manipulação de 11 milhões de veículos a diesel pela Volkswagen pode parecer pequena - FOTO: Foto: Marijan Murat / dpa / AFP
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A indústria automobilística alemã é suspeita de ter formado um cartel durante décadas - e esse novo escândalo pode custar muito caro às finanças e à imagem do setor, ainda se recuperando do "dieselgate".

Se a suspeita de formação de cartel divulgada na revista Der Spiegel na última sexta-feira (21) estiver correta, a manipulação de 11 milhões de veículos a diesel pela Volkswagen, revelada em 2015, pode parecer pequena: os grandes construtores do país (Volkswagen, Audi, Porsche, BMW e Daimler) teriam realizados reuniões secretas desde a década de 1990, para combinar aspectos técnicos dos veículos, prejudicando os consumidores.

A Volkswagen teria feito "uma espécie de autodenuncia" às autoridades anticartel em julho de 2016, bem como a Daimler, esperando obter algum benefício por colaborar com as investigações, já que a multa por formação de cartel deve atingir montantes bem elevados.

No último verão (do Hemisfério Norte), a Daimler já amargou uma multa de 1 bilhão de euros, imposta pela Comissão Europeia, por combinar os preços de seus caminhões com outros três fabricantes europeus.

A multa de Bruxelas, ou do departamento anticartel da Alemanha, podem chegar a 10% do faturamento de cada empresa. Na prática, o valor alcançaria 50 bilhões de euros, com base nas receitas de 2016. A isso se somariam as denúncias de clientes, que não devem demorar.

O diretor da federação alemã de associações de consumidores, Klaus Müller, antecipou para o jornal Süddeutsche Zeitung que milhares de motoristas poderiam se queixar "por ter pagado preços caros demais" por seus veículos.

Sem investigação por enquanto

A elucidação do possível conluio deve demorar bastante. Por ora, não há nenhuma investigação oficial. Bruxelas e o departamento anticartel da Alemanha confirmaram "ter recebido informações que estão sendo examinadas pela Comissão", segundo o Executivo europeu.

O Conselho de vigilância da Volkswagen terá uma reunião excepcional nesta quarta-feira (26), mas a empresa ainda não se pronunciou. A Daimler se limitou a indicar que aplica seu programa interno de respeito ao direito à concorrência.

No domingo (23), a BMW negou qualquer acordo com seus concorrentes quanto às emissões de diesel e afirmou que não manipulou nenhum de seus carros. Segundo a Der Spiegel, o cartel automobilístico está parcialmente vinculado às emissões alteradas de gases poluentes.

As fabricantes teriam se reunido várias vezes para determinar o tamanho dos depósitos de AdBlue, um aditivo que permite reduzir as emissões de óxido de nitrogênio, segundo a revista. Como os reservatórios grandes eram mais caros, as empresas teriam optado, em conjunto, por outros menores, cujo conteúdo não seria suficiente para eliminar as emissões.

'Gigantesca fraude'

"Se isso se confirmar, vai custar bilhões de euros ao conjunto de fabricantes relacionados", afirmou à AFP o especialista Frank Schwope, do banco alemão Nord/LB.

Esse temor se espalhou entre os investidores da Bolsa de Frankfurt, onde as ações das montadoras caíram após as revelações da última sexta-feira. Até as 9h55 GMT (6h55 de Brasília), a Volkswagen caía 2,90%, a 133,75 euros; a Daimler, 3,58%, a 60,34 euros; e a BMW, 2,59%, a 79,09 euros.

Além dos gastos potenciais, "manter transações secretas, com o escândalo do diesel como pano de fundo, é uma absoluta catástrofe para a credibilidade da indústria automobilística alemã", alerta o diretor do Center of Automotive Management (CAM), Stefan Bratzel.

Com as eleições legislativas marcadas para setembro, o governo certamente vai elevar o tom sobre este assunto.

Próximo de Angela Merkel, o deputado conservador Volker Kauder convocou, nesta segunda-feira (24), que essa acusação seja passada a limpo.

"Duas coisas devem ser ditas claramente: o Direito e a Justiça também valem para a indústria automobilística", afirmou.

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