Donald Trump intensificou sua retórica contra a Coreia do Norte, nesta quarta-feira (9), ao afirmar que o arsenal nuclear dos Estados Unidos é agora "mais poderoso do que nunca".
Depois de fazer uma advertência apocalíptica contra a Coreia do Norte, com promessas de "fogo e fúria" em reação ao programa de mísseis de Pyongyang, Trump voltou a usar um tom de ameaça, garantindo que o arsenal nuclear dos Estados Unidos está "mais poderoso do que nunca".
"Minha primeira ordem como presidente foi renovar e modernizar nosso arsenal nuclear. Está agora mais forte e mais poderoso do que nunca", tuitou, acrescentando "esperar que nunca tenhamos de usar esse poder".
Em resposta, Pyongyang ameaçou lançar mísseis contra a ilha americana de Guam, no Pacífico.
As declarações do presidente dos Estados Unidos evidenciam uma escalada na retórica de Washington contra os programas balístico e nuclear norte-coreanos, os quais custaram a Pyongyang sanções mais duras da ONU no fim de semana passado.
As afirmações também parecem uma resposta às declarações frequentes da Coreia do Norte, que na segunda-feira (7) ameaçou transformar Seul em um "mar de chamas".
O discurso de Trump contrasta com as afirmações do secretário de Estado americano, Rex Tillerson, de que Washington não busca a queda do regime norte-coreano.
Falando aos jornalistas a bordo do avião que o levava a Guam, Tillerson afirmou que o presidente Trump simplesmente usou uma linguagem bem clara.
"O que o presidente está fazendo é enviar uma mensagem forte à Coreia do Norte em uma linguagem que Kim Jong-Un consiga entender, porque parece que ele não parece entender a linguagem diplomática", minimizou.
O secretário enfatizou que não acredita que "haja uma ameaça iminente".
Segundo a agência oficial de notícias norte-coreana KCNA, o plano de lançar mísseis balísticos de alcance intermediário contra as imediações das bases militares americanas na ilha de Guam pode ser colocado em prática a qualquer momento.
De quase 550 quilômetros quadrados, essa ilha isolada do Pacífico é um posto avançado chave para as forças americanas, estrategicamente localizada entre a península coreana e o mar da China Meridional.
Quase 6.000 soldados estão presentes no território, em particular na base aérea de Andersen e na base naval de Guam.
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Guam está preparado
Nesta quarta-feira (9), o governador de Guam, Eddie Calvo, minimizou as ameaças norte-coreanas, mas declarou que a ilha está "preparada para qualquer eventualidade".
Bombardeiros americanos B1-B posicionados em Guam sobrevoaram ontem a península coreana, o que "prova", segundo a KCNA, que os "imperialistas americanos são obcecados com guerra nuclear".
A questão se tornou ainda mais grave com as informações do jornal The Washington Post sobre os avanços militares norte-coreanos.
O jornal informou na terça-feira (8) que um relatório da Agência de Inteligência de Defesa (DIA) avalia que o regime comunista norte-coreano tem armas nucleares para colocar em seus mísseis balísticos, incluindo intercontinentais (ICBM, na sigla em inglês).
Isso representa uma ameaça aos países vizinhos e também ao continente americano, segundo conclusões do relatório concluído em julho pela DIA, acrescenta o Post.
Os especialistas têm divergências sobre as verdadeiras capacidades da Coreia do Norte, em especial a de miniaturizar com sucesso uma ogiva nuclear para introduzi-la em um míssil. A DIA chegou a conclusões similares há quatro anos, as quais depois foram descartadas por outros serviços de Inteligência.
Todos concordam, porém, que Pyongyang avança a passos largos desde que Kim Jong-Un chegou ao poder em dezembro de 2011.
Em julho, o regime norte-coreano lançou com sucesso dois ICBMs. Descrito por Kim Jong-Un como um presente para os "bastardos americanos", o primeiro teste mostrou que o foguete poderia, potencialmente, atingir o Alasca. O segundo míssil testado sugeriu que até Nova York poderia estar no alvo.
Trump disse que Kim Jong-Un "tem ameaçado além de sua atitude normal".
As autoridades americanas repetiram diversas vezes este ano que a opção militar estava "sobre a mesa".
Críticas ao discurso
Analistas e autoridades políticas ridiculizaram as declarações do presidente americano.
"Tentar superar a Coreia do Norte em ameaças é como tentar superar o papa em orações", tuitou o professor John Delury, da Universidade Yonesi de Seul.
O congressista democrata Eliot Engel, membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara de Representantes, lamentou a "absurda linha vermelha" traçada por Trump e que Kim Jong-Un vai atravessar, inevitavelmente.
"A Coreia do Norte é uma ameaça real, mas a reação desequilibrada do presidente sugere que poderia considerar o uso de armas nucleares americanas em resposta a um comentário desagradável de um déspota norte-coreano", disse.
Ainda segundo o Post, outra avaliação de Inteligência acredita que a Coreia do Norte tenha hoje até 60 armas nucleares, mais do que se acreditava até então.
Apesar desses avanços, especialistas asseguram que a Coreia do Norte ainda precisa superar obstáculos para poder afirmar que conseguiu aperfeiçoar sua tecnologia de armas nucleares e alcançar o território continental americano.
Após o segundo teste de ICBM, os especialistas afirmaram que a ogiva não conseguiu superar o limiar de entrada na atmosfera.
Para Siegfried Hecker, ex-diretor do Laboratório Nacional de Los Álamos (Novo México), Pyongyang não tem experiência para lançar "uma ogiva nuclear suficientemente pequena, leve e robusta para poder sobreviver a um envio através de um ICBM".