A China, principal apoio da Coreia do Norte, se mantém à margem da escalada retórica entre Pyongyang e Washington, sem tomar partido de nenhum dos lados.
Em plena guerra retórica com o regime de Kim Jong-Un, a quem prometeu "fogo e fúria" se continuar ameaçando o seu país, o presidente americano, Donald Trump, voltou a falar sobre a responsabilidade de Pequim.
Em resposta, Pequim pediu mais uma vez a "todas as partes" que "demonstrem prudência".
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Qual a estratégia para Pequim?
Pequim defende a retomada das negociações dos Seis (Coreia do Norte, Coreia do Sul, Japão, Rússia, China e Estados Unidos) interrompidas desde 2009. "A China poderia presidir esses diálogos e reforçar a sua influência" na região desempenhando um papel de mediador, afirma o cientista político Willy Lam, que vive em Hong Kong.
Neste momento, entretanto, Pequim tenta não intervir no conflito entre a Casa Branca e o regime norte-coreano, ao considerar que Pyongyang e Washington devem "agir de forma mais ativa" para diminuir "as tensões".
"Pedimos a todas as partes que demonstrem prudência em suas palavras e em suas ações [...] e reforcem a sua confiança mútua, ao invés de recorrer a velhas receitas que consistem em encadear as demonstrações de força", declarou nesta sexta-feira o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Geng Shuang.
A China propôs em várias ocasiões uma solução para sair da crise: que a Coreia do Norte pare com os seus testes nucleares e balísticos, enquanto os Estados Unidos e a Coreia do Sul acabam com os exercícios militares conjuntos.
Mas Trump e o regime de Kim Jong-Un não parecem dispostos a entabular o diálogo desejado por Pequim.
"Um diálogo sensato é impossível com alguém desprovido de razão", declarou o general Rak-Gyom, comandante das forças balísticas norte-coreanas, citado pela agência oficial KCNA.
Distante de acalmar os ânimos, Trump afirmou nesta sexta-feira (11) que as "soluções militares [americanas] estão prontas para serem usadas" contra Pyongyang.
O que a China pode fazer?
"A China não tem nenhuma base efetiva para iniciar uma desescalada da situação se Trump e o regime de Kim continuarem agindo de forma impulsiva", observa o especialista em Relações Internacionais na Universidade de Hong Kong, Xu Guoqi.
Em um editorial, o jornal oficial chinês Global Times chegou à mesma conclusão nesta sexta-feira: "desta vez Pequim não pode tranquilizar Washington e Pyongyang".
Mas Trump discorda. Segundo ele, a China, principal sócio econômico da Coreia do Norte, "pode fazer muito mais" para pressionar o seu complicado vizinho, apesar de ter se juntado no sábado passado ao Conselho de Segurança da ONU para adotar novas sanções contra Pyongyang.
Os especialistas duvidam da eficácia dessas sanções, e a China, que recebe 90% das exportações norte-coreanas, afirma que não interromperá as trocas que suponham uma ajuda "com fins humanitários".
Para Lam, deve-se estimular Pequim a reduzir drasticamente essa "ajuda" e os Estados Unidos a fazerem "importantes concessões, por exemplo, na colocação de seu escudo antimísseis THAAD, nas disputas comerciais e no Mar da China Meridional".
A China defenderá Pyongyang?
Oito anos depois do fim da Guerra da Coreia (1950-1953), Pequim e Pyongyang acordaram "um tratado de amizade, cooperação e assistência mútua", mas especialistas se questionam como esse pacto seria aplicado em caso de conflito.
Os analistas acreditam que a China se preocupa com uma queda do regime norte-coreano, que provocaria um fluxo em massa de refugiados para o seu território, e vê com maus olhos qualquer aproximação das Forças Armadas americanas de suas fronteiras.
Mas tudo dependerá de quem comece uma intervenção militar, afirmou o Global Times nesta sexta-feira. "Se a Coreia do Norte enviar mísseis que ameacem o território americano em primeiro lugar e os Estados Unidos reagirem, a China permanecerá neutra", assegurou. Mas se Washington e Seul agirem primeiro "e tentarem derrubar o regime norte-coreano e o equilíbrio político da península, estão a China impedirá".