O papa Francisco inicia na próxima quarta-feira (6) uma visita histórica à Colômbia para impulsionar a paz e a reconciliação em um país profundamente dividido apesar da assinatura do acordo de paz com a guerrilha das Farc, que acabou com 50 anos de conflito.
Leia Também
- Papa e patriarca ortodoxo fazem apelo a favor do planeta e dos pobres
- O papa Francisco fala sobre as mulheres de sua vida em livro
- Papa se declara profundamente comovido pelas vítimas do Harvey
- Jogadores da Chapecoense são abençoados pelo Papa Francisco
- Papa Francisco visitará Mianmar e Bangladesh entre novembro e dezembro
- Papa Francisco pede que respeitem os direitos da minoria rohingya
Durante a estadia de quatro dias, até 10 de setembro, o papa visitará quatro cidades, celebrará missas para multidões, fará discursos e, sobretudo, se reunirá com vítimas e atores do conflito interno.
Também visitará bairros esquecidos em um dos países com maior desigualdade entre ricos e pobres na América Latina.
A terceira visita de um pontífice à Colômbia - depois das de Paulo VI em 1968 e de João Paulo II em 1986 - será marcada por uma série de gestos, mais do que palavras, em prol da reconciliação.
"É verdade que o papa chega a um país muito polarizado, mas sabe que todos os colombianos anseiam pela paz, uma paz com o espírito da solidariedade e da justiça. Uma paz possível somente se atacarem as causas da injustiça social, da desigualdade, da opressão", explica o arcebispo colombiano Octavio Ruiz, da delegação que acompanha o pontífice.
A única viagem do papa argentino este ano à região inclui as emblemáticas cidades de Bogotá, Villavicencio, Medellín e Cartagena, onde falará sobre família, religião e reconciliação entre as pessoas e com a natureza, dois dos temas centrais de seu pontificado.
Francisco visita a Colômbia em um momento muito importante para a história desse país, que em 2016 assinou um acordo de paz que pôs fim a 52 anos de um conflito fratricida que deixou 260.000 mortos, 45 desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.
Com o lema "Demos o primeiro passo", Francisco, que desde o início apoiou as negociações do país com o maior grupo guerrilheiro, propõe aos colombianos romper com o esse passado de violência e confrontos, e se comprometer de forma ativa para construir a paz.
Mediador
"Dar o primeiro passo significa reconhecer o sofrimento dos outros, perdoar os que nos feriram, voltarmos a nos ver como colombianos, entender a dor dos que sofreram, curar o nosso coração, descobrir o país que se esconde por trás das montanhas e construir um país em paz", resumiu o sacerdote colombiano Fabio Suescún, responsável pelo comitê de preparação da visita papal.
Francisco, de 80 anos, se apresenta na Colômbia como um mediador, e em novembro viajará para Mianmar e Bangladesh, cenário de um violento conflito religioso.
O papa disse estar disposto a ouvir as partes, apesar de ter falhado na tarefa de reconciliar em dezembro o presidente Juan Manuel Santos e o ex-presidente Álvaro Uribe, ferrenho inimigo dos acordos de paz.
O primeiro papa latino-americano da História também tentará mobilizar os católicos da Colômbia - sétimo país do mundo com mais católicos - com a beatificação de dois sacerdotes em Villavicencio, vítimas da violência em momentos históricos diferentes.
Ameaçada pelos novos movimentos religiosos protestantes, evangélicos e cristãos, cuja influência cresceu, a igreja católica colombiana organizou uma visita alegre, positiva, com um hino que mistura ritmos vallenatos com rap, que será transmitida ao vivo pela televisão pública.
Francisco dormirá todas as noites na sede da nunciatura apostólica de Bogotá, e de lá se deslocará todos os dias para as diferentes cidades, tal como fez no México em fevereiro de 2016.
Sairá de Roma no dia 6 pela manhã em um voo da Alitalia e chegará na tarde deste mesmo dia ao país sul-americano.
O papa se reunirá com o presidente Santos e outros ex-presidentes e dirigentes da Colômbia, assim como com a hierarquia da igreja católica venezuelana para falar da situação nesse país, mergulhado em uma grave crise política e social.
Francisco se deslocará em três papamóveis, sem luxos ou vidros blindados, fabricados localmente, para poder saudar as pessoas, respeitando o seu costume de deixar ser tocado e de abraçar os fiéis, apesar dos riscos que isto envolve.
Fiel a sua sensibilidade, Francisco homenageará diante de seu túmulo, em Cartagena, o jesuíta São Pedro Claver, uma das figuras mais carismáticas do Cristianismo no século XVII e grande defensor dos escravos.