CONFLITO

Após derrotas, Estado Islâmico recua para o deserto

Na Síria, o grupo extremista perdeu mais de 60% de sua autoproclamada capital, Raqa

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Publicado em 05/09/2017 às 13:10
Foto: DELIL SOULEIMAN / AFP
Na Síria, o grupo extremista perdeu mais de 60% de sua autoproclamada capital, Raqa - FOTO: Foto: DELIL SOULEIMAN / AFP
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Uma série de derrotas no Iraque e na Síria obriga o grupo extremista Estado Islâmico (EI) a recuar para o deserto e para a clandestinidade, três anos depois de controlar uma área com sete milhões de habitantes e com tamanho equivalente ao território da Itália.

No final de 2014, o grupo criado no Iraque tinha o controle de um terço desse país rico em petróleo. Hoje, perdeu 90% do território conquistado, incluindo a segunda maior cidade iraquiana, Mossul, onde havia proclamado um "califado" entre Síria e Iraque.

Na Síria, o EI perdeu mais de 60% de sua autoproclamada capital, Raqa (norte), após uma ofensiva da aliança curdo-árabe respaldada pelos Estados Unidos.

Também está ameaçado pelas tropas do governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, na última província sob seu controle: Deir Ezzor (leste).

Da metade do território sírio que chegou a controlar, o grupo continua com 15%, informou à AFP o geógrafo Fabrice Balanche, especialista em Síria na Universidade de Lyon (França).

O tamanho é três vezes menor do que a área controlada pelo governo sírio, que administra 50% do país devastado pela guerra, enquanto as forças curdas dominam 23%, de acordo com Balanche.

"O projeto de governo do EI está em apuros no Iraque e na Síria, mas o EI não está derrotado", explica Ludovico Carlino, especialista em movimentos extremistas do centro de pesquisa IHS Country Risk.

A perda de Raqa, uma cidade simbólica (igual a Mossul) do projeto "estatal" dos "jihadistas", terá "consequências enormes para o EI em termos de propaganda", segundo Carlino, mas o grupo vai recuar para o deserto sírio-iraquiano.

Volta à clandestinidade

O Vale de Eufrates, que vai da província de Deir Ezzor, no leste da Síria, até Al-Qaim, no oeste do Iraque, será a "plataforma de lançamento da insurreição, com o EI novamente na clandestinidade", afirma.

De acordo com a coalizão internacional anti-EI liderada pelos Estados Unidos, entre 5.000 e 10.000 combatentes e comandantes extremistas já fugiram de Raqa.

O EI "transferiu todas as suas instituições administrativas" para esta zona de 160 quilômetros e controla campos de petróleo, informa Carlino.

De acordo com o especialista, a arrecadação mensal do grupo extremista com petróleo caiu 88% na comparação com 2015. As quantias arrecadadas com taxas e confiscos registraram queda de 79%.

Diferentes forças preparam a batalha no Vale de Eufrates, onde existe o plano de cercar o EI: as tropas do regime sírio apoiadas pela Rússia, as forças iraquianas e as FDS apoiadas pelos Estados Unidos.

Os "jihadistas" começaram a cavar túneis e a montar redes de fabricação de explosivos e de carros-bomba, segundo militares da coalizão internacional.

Balanche diz que, "como a perda de Raqa é certa, a tomada completa de Deir Ezzor por parte do Exército sírio marcará uma guinada decisiva".

Isto explica o nervosismo do EI em Deir Ezzor.

"Fecharam todas as entradas da cidade, cada bairro, cada rua, e minaram as margens das cidades", relatou à AFP o militante Omar Abu Leïla, que está na capital desta província.

Para evitar "uma descoberta e uma infiltração justo antes da batalha, espalharam mais espiões e prendem todos os jovens nas ruas", completa.

Após a expulsão dos extremistas da Síria e do Iraque, os países terão de lidar com o tema das relações entre as diferentes populações do país - as majoritárias e as minoritárias.

Medo

Cercados, famintos, sem água, ou acesso à energia elétrica, os habitantes de Deir Ezzor têm tanto medo da batalha quanto do que acontecerá depois.

"Temem que as FDS cheguem a um acordo com o regime para a entrega do território retomado do EI", afirma Omar Abu Leila.

"O outro grande medo é que milícias do Irã massacrem os civis como vingança, usando como desculpa que pertenciam ao EI", completa.

No passado, as divisões étnicas e religiosas serviram como um estímulo para a propagação do EI frente a Estados incapazes de reconciliar as distintas comunidades, advertem os especialistas.

De acordo com Balanche, alguns membros do EI "continuarão com a jihad em outro lugar".

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