Caribe

Sem ajuda estatal, haitianos contam com a sorte à espera do furacão Irma

Apesar da aproximação do furacão Irma um centro de operações de emergência do Haiti não fez campanhas de sensibilização dos moradores

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Publicado em 06/09/2017 às 20:00
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Apesar da aproximação do furacão Irma um centro de operações de emergência do Haiti não fez campanhas de sensibilização dos moradores - FOTO: AFP
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A menção da palavra "furacão" surpreende os moradores do bairro pobre de Shada, localizado à beira do rio e no coração de Cabo Haitiano: a poucas horas da passagem de Irma, nenhum foi informado do risco em que se encontram.

"Eu não sabia que iria chegar um ciclone, porque não temos eletricidade aqui, então não podemos receber informação", explica Jacquie Pierre, apontando para seu pequeno televisor coberto por uma toalha de mesa.

Desde o começo do ano, essa jovem de 25 anos teve sua pequena casa inundada duas vezes e só a menção à passagem de um furacão de categoria cinco por ali a aterroriza.

"Tenho medo, não só pela minha vida e pela a dos meus filhos, mas por todo mundo", diz, enquanto abraça com força a filha de três anos.

Ao ouvir os comentários da vizinha, Pierre Valmy se manifesta de dentro de sua casa, rudimentariamente construída com tábuas de madeira.

"Frequentemente a água transborda e invade toda a área, mas nunca por um furacão", conta Valmy. "Se um grande ciclone chegar aqui, é o fim do mundo para nós", lamenta este homem, com o olhar perdido.

"Agora que sei que um furacão se aproxima, vou guardar meus papéis importantes em uma saco de plástico e a colocarei no alto da estrutura, porque só tenho esta casa e nenhum lugar para ir", disse, apontando para a viga fina que sustenta o lugar onde vive com sua mulher e seus dois filhos.

Consciente de que o rio Mapou, que por enquanto corre lentamente a poucos metros de sua casa, poderá arrastar ele e sua família, resigna-se. "Em algum da vida, todos devemos morrer", conclui antes de sair para jogar dominó com seus amigos.

- Faltam abrigos -

O centro de operações de emergência, localizado na periferia da segunda maior cidade do Haiti, não fez campanhas de sensibilização aos moradores porque as equipes de proteção civil estão concentradas em contabilizar as equipes e o pessoal disponível.

Além disso, como a missão da ONU termina em outubro, os capacetes azuis concluíram suas operações, deixando o país caribenho sem as máquinas pesadas que ajudaram durante as inundações que afetaram a região.

Há três ambulâncias para cobrir todo o departamento do Norte, com mais de um milhão de habitantes e apenas alguns caminhões a mais para tentar limpar os canais de drenagem, constantemente cheios de lixo.

No centro de operações, pode-se constatar a falta de material. A situação piora ainda mais no que se refere aos abrigos temporários: 90% das construções tem tetos de placas de metal, incapazes de resistir a ventos fortes.

Na capital, Porto Príncipe, a mais de 200 km das regiões ameaçadas, o diretor de proteção civil, Jerry Chandler, tenta acelerar as campanhas de sensibilização e a reposição de materiais de emergência.

"Desde a semana passada, os comitês locais receberam a ordem de informar a população. Devemos reforçar a mobilização midiática", afirma Chandler sobre a falta de informação generalizada da chegada do furacão.

- "Nas mãos de Deus" -

Sem capacidade em abrigos provisórios, as autoridades pedirão àqueles que vivem em casas com tetos de tábuas ou de placas de metal, assim como os que habitam zonas com risco de alagamento, que se protejam na casa de concreto de algum amigo ou parente.

Nas comunidades localizadas na área costeira, a situação é parecida: agachado perto do tronco de uma árvore que talhou para usar como barco, Josué Rosse também não ouviu falar da chegada de Irma.

"É graças ao boca a boca que sabemos de todas as coisas. Estamos à beira do mar, mas nenhuma autoridade veio nos dizer nada", disse este homem que se refugiará da tempestade na casa de um parente que mora na parte mais alta de Cabo Haitiano.

"Com o aumento do nível do mar, pode ser que eu não encontre o meu barco quando eu voltar. Isso me entristece porque é com a pesca que consigo ganhar o suficiente para manter meus filhos, mas, bom, tudo está nas mãos de Deus a partir de agora", afirma Rosse, em tom mais calmo.

Em um mercado próximo, também há outros moradores que não enxergam outra possibilidade a não ser se entregar à providência divina.

"Deus não vai poder deter o ciclone: você pode rezar, mas terá que sair daqui de qualquer forma", diz Mathurin André a um amigo.

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